O térreo da sede da construtora Nova Engevix está vazio. Somente no primeiro andar é possível cruzar com funcionários que permaneceram, em sua maioria, após as investigações da Operação Lava-Jato. No auge da sua atividade, em meados de 2012, a Engevix chegou a ter 13 mil empregados. Hoje, não passam de mil. Sua missão é tocar o novo momento da construtora, que tem como meta um faturamento anual de 500 milhões de reais – já chegou a um bilhão – e a execução de uma carteira de quase 50 projetos. A maioria é fruto de licitações públicas pós-Lava-Jato.
A usina de Tucuruí, considerada a maior hidrelétrica 100% brasileira do país (só perde em tamanho para Itaipu, que é binacional), é ostentada com orgulho na parede da sala do presidente do conselho da Nova Engevix. O projeto do empreendimento, dos anos 70, está entre os grandes feitos da empresa. “Você imagina o que foi construir uma hidrelétrica na região da Amazônia naquela época?”, pergunta, com uma certa vaidade, José Sobrinho Antunes, único sócio que ficou na Engevix após o furacão da Lava-Jato.
Ele comprou as fatias de Gerson Almada e Cristiano Kok, assumindo todas as dívidas da empresa. Hoje, Antunes ocupa o cargo de presidente do conselho da Nova Engevix. “O que estamos fazendo é trabalhar 100% na linha para continuar tocando a empresa, que não pode morrer pelos erros de alguns”, diz. Ele possui um acordo de colaboração premiada firmado com a Polícia Federal e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), relativo à usina de Angra 3, da Eletronuclear, além de outros assuntos que estão sob sigilo. Sobre acusações envolvendo a Petrobras, Antunes foi absolvido em ação penal que tramitou na 13ª vara federal, em Curitiba, Paraná, com a sentença mantida pelo colegiado do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O mesmo não aconteceu com executivos de outras empreiteiras envolvidas na Lava-Jato, como por exemplo Marcelo Odebrecht, que foi condenado e hoje cumpre prisão domiciliar, e Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que cumpre pena em regime fechado.
Há cerca de um mês, Yoshiaki Fujimori, engenheiro de 40 anos de Engevix, foi nomeado presidente da construtora. “Conquistamos 40 contratos depois da Lava-Jato, sendo 35 licitações públicas, com critérios de menor preço ou técnica e preço. Conseguimos manter nossa boa reputação na área técnica”, diz Fujimori.
A empresa também implantou um comitê de compliance independente. “Hoje, com esse comitê, conseguimos uma estrutura de compliance na diretoria da Engevix, o que elimina de forma significativa o risco de corrupção. Estes integrantes, que foram contratados no mercado, têm uma reputação a zelar, não manchariam seu nome por nada”, afirma Antunes.
Áreas de atuação
O foco da empresa, a partir de agora, deve ser o setor de energia, negócio em que a Engevix tem ampla experiência. Além da participação nos projetos de construção das usinas de Itaipu, Belo Monte, entre outras gigantes, a construtora atua há muitas décadas no segmento de geração – desde pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) até usinas eólicas – e transmissão. “Participamos ativamente do processo de privatização do setor elétrico no final da década de 1990”, conta Antunes.
Outra expertise da Engevix é o setor aeroportuário. A empresa foi concessionária, no início desta década, dos aeroportos de Natal (RN) e Brasília, que posteriormente foram vendidos. O objetivo é contribuir com essa experiência para participar de projetos na área.
No setor de petróleo e gás, em que a empresa começou a atuar em meados de 2006 com o primeiro grande contrato com a Petrobras, a expectativa é concluir a recuperação judicial da Ecovix Construções Oceânicas, dona do estaleiro Rio Grande. Segundo Antunes, com a paralisação das contratações de plataformas pela Petrobras há alguns anos, a receita do braço industrial despencou e a renegociação das dívidas foi inevitável. “Estamos cumprindo tudo à risca e esperamos que o plano seja aprovado em breve.”
Nova fase
Em 2018, a Engevix faturou 150 milhões de reais, e a projeção para este ano é repetir o desempenho. Em um prazo de três anos, a meta da companhia é atingir uma receita de 500 milhões de reais anuais. “Este é um patamar que nós traçamos no plano de negócios, sendo 100 milhões em projetos de engenharia e o restante em construção”, detalha Antunes.
Para atingir esse resultado, entretanto, a construtora precisará de fôlego financeiro. Seu chairman conta que a Engevix está sem crédito na praça há cinco anos. “Isso tem castigado as empresas da Lava Jato. Poucos bancos financiam projetos de infraestrutura no Brasil, o BNDES é o único que faz isso e não temos mais acesso a ele.”
Para superar este obstáculo, a empresa espera fechar até o final do ano um acordo de leniência. “A Lava Jato foi necessária, mas conduzida de maneira errada. O remédio é fundamental, mas não se pode matar o doente”, diz Antunes.
Ele também não vê um horizonte animador para a construção civil. Em caso de retomada consistente das obras de infraestrutura, Antunes acredita que não haverá empresas com know-how para atender à demanda. “A Lava Jato acabou com as grandes construtoras e as empresas de fora não querem vir para o Brasil. Não temos segurança jurídica, infraestrutura e a burocracia é imensa. Afastamos os investidores.”
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