Los Angeles – Entre os oito títulos na disputa pelo Oscar de melhor filme neste ano, três deles – “Roma”, “A Favorita” e “Green Book: O Guia” – despontam como favoritos a conquistá-lo devido à trajetória que tiveram na temporada prévia de prêmios.
“ROMA”, para fazer história
A obra de Alfonso Cuarón pode fazer história e se tornar a primeira produção em outro idioma que não o inglês a ganhar o Oscar de melhor filme, algo inimaginável meses atrás, quando se soube que este título mexicano rodado em preto e branco seria lançado por uma plataforma digital como a Netflix.
A produção também pode ser a primeira da história a ganhar nas categorias de melhor filme estrangeiro e de melhor filme, algo que obras como “Z” (1969), “A Vida é Bela” (1998), “O Tigre e o Dragão” (2000) e “Amor” (2012) não conseguiram.
O filme, uma ode ao matriarcado no qual Cuarón foi criado e uma carta de amor a sua babá, acaba de conquistar o prêmio de melhor filme no Bafta, principal festival do cinema britânico.
“A FAVORITA”, o poder feminino e a distinção britânica
É a grande rival de “Roma” na cerimônia, com o mesmo número de indicações – dez – e um grande êxito no Bafta – sete estatuetas -, embora não tenha conseguido superar a obra de Cuarón no duelo pelo melhor filme.
O filme do grego Yorgos Lanthimos narra uma história baseada em fatos reais do século XVIII sobre a relação da rainha Ana (Olivia Colman) com sua melhor amiga, Sarah Churchill (Rachel Weisz), e a serva recém chegada Abigail Masham (Emma Stone).
A produção, recordista de indicações no Critic’s Choice Awards – entregue pela Associação de Críticos de Cinema dos EUA (BFCA) -, levou o Grande Prêmio Especial do júri no Festival de Veneza.
“GREEN BOOK: O GUIA”, o preferido dos produtores de Hollywood
É o “feel-good movie” do ano, aquele filme que faz o espectador se sentir bem e que costuma atrair os acadêmicos de forma inequívoca, especialmente pela história sobre dois homens que superam suas muitas diferenças e formam uma amizade.
Além disso, a obra levou o prêmio Darryl F. Zanuck na premiação do Sindicato de Produtores, que costuma ser um bom indicador das preferências do Oscar na categoria de melhor filme: nos últimos dez anos, o ganhador desse prêmio levou a estatueta principal em oito ocasiões.
O filme de Peter Farrelly baseia-se em uma história real que envolve Tony Lip, um italo-americano bronco e preconceituoso que trabalhava como segurança na boate Copacabana, de Nova York, e que em 1962 se tornou motorista de um magnífico pianista negro, Don Shirley, durante sua turnê pelo sul dos Estados Unidos.
“NASCE UMA ESTRELA”, um clássico de Hollywood que ainda emociona
A estreia de Bradley Cooper como diretor marca a quarta versão de Hollywood da mesma história. Em 1937, Janet Gaynor e Fredric March deram forma à obra original, mas foi George Cukor, que contou com Judy Garland e James Mason no elenco, quem desenvolveu em 1954 a adaptação mais popular (até agora) desta história.
Em 1976 houve uma nova versão, desta vez adaptada ao mundo do rock e com os atores Kris Kristofferson e Barbra Streisand, que ganhou o Oscar de melhor canção junto com Paul Williams por “Evergreen”.
Nesta ocasião, a história é sobre uma jovem cantora (Lady Gaga) que alcança o estrelato, enquanto seu parceiro, um artista assolado pelos fantasmas do passado (Cooper), começa a se afundar inexoravelmente no álcool e nas drogas. A história deslumbrou a crítica e o público, mas a Academia não reconheceu o filme em categorias-chave como diretor e montagem.
“PANTERA NEGRA”, o topo para o cinema de super-heróis
A enorme campanha publicitária em torno de “Pantera Negra” rendeu frutos e conseguiu o objetivo desejado: fazer história ao se transformar no primeiro filme de super-heróis a conseguir uma indicação ao Oscar de melhor filme, um marco para uma obra que deixou sua marca na cultura popular com frases como “Wakanda Forever”.
Levando em conta o momento que se vive na indústria, onde este tipo de filme leva os espectadores em massa aos cinemas, este marco era previsível desde que “Batman: O Cavaleiro das Trevas” ficou fora da luta pela estatueta no Oscar de 2009.
Após as críticas, a Academia decidiu aumentar o número de candidatos, mas foi apenas depois de uma década que os acadêmicos deram seu braço a torcer com essa aposta da Marvel e da Disney pela diversidade para mostrar a história de uma nação africana isolada do mundo, mas com um tremendo potencial tecnológico.
“VICE”, cinema de denúncia sem perder de vista o humor e a sátira
O filme, escrito e dirigido por Adam McKay, explora a história de como um calado burocrata de Washington acabou se transformado em um dos homens mais poderosos do mundo, como vice-presidente dos Estados Unidos, durante o mandato de George W. Bush.
A história, usando os recursos estilísticos que McKay já mostrou em “A Grande Aposta”, percorre a ascensão de Dick Cheney nos governos de Richard Nixon e Ronald Reagan e sua chegada à Casa Branca com Bush, um legado e uma maneira de fazer política que, segundo a abordagem do cineasta, explica as tendências do atual presidente americano, Donald Trump.
A produção obteve oito indicações, algumas delas de categorias-chave como as de melhor diretor e melhor montagem, sinais inequívocos que se trata de uma candidata a se levar em conta para a vitória na categoria principal e que, além disso, conta com um forte apoio no grêmio dos atores graças às indicações de Christian Bale, Amy Adams e Sam Rockwell.
“INFILTRADO NA KLAN”, a volta de Spike Lee ao patamar de seus grandes filmes
“Infiltrado na Klan”, de Spike Lee, é uma ácida comédia sobre a discriminação racial na qual um policial negro se infiltra na Ku Klux Klan durante a década de 1970, e conecta a ficção com um desfecho que faz alusão direta à morte da jovem Heather Heyer.
Heyer morreu atropelada por um jovem neonazista branco em Charlottesville (Virgínia), enquanto outras 20 pessoas ficaram feridas, um fato real com o qual Lee encerra seu filme e que serve para o diretor criticar a complicada situação atual nos EUA, tudo isso sem fugir do humor mais selvagem para pôr em xeque a discriminação sofrida pela população negra.
Embora sua vitória na categoria-principal possa ser considerada uma surpresa, o filme conta com elementos para conquistá-la graças às suas indicações a melhor diretor – a primeira de Lee na sua carreira – e a melhor montagem. Além disso, os acadêmicos são conscientes que devem a Lee um reconhecimento após ter ignorado no passado trabalhos tão transcendentes como “Faça a Coisa Certa” e “Malcom X”.
“BOHEMIAN RHAPSODY”, o poder das biografias musicais e a força do Queen
“Bohemian Rhapsody”, do polêmico Bryan Singer, narra o nascimento do Queen e a transformação do adolescente Farrokh Bulsara em Freddie Mercury.
O filme relembra os principais sucessos do grupo – com a ajuda na produção de dois dos integrantes da banda -, desde “Somebody to Love” e “Don’t Stop Me Now”, passando por “Crazy Little Thing Called Love” e “We Are the Champions”, e revela como foi a criação de “Bohemian Rhapsody”, a revolucionária canção que mudou suas vidas e a história do rock.
A produção, que foi um grande sucesso comercial, mas não convenceu a crítica, é possivelmente a que menos chances tem de triunfar nesta categoria devido ao escândalo em torno de Singer, acusado de abusar sexualmente de menores de idade.