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Recém-completados três meses de mandato, o cenário realista envolvendo a agenda de reformas imaginada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, enseja pessimismo: além de se mostrar incapaz de consolidar uma base aliada no Congresso, o governo, por meio do próprio presidente e de seus filhos, faz questão de não se empenhar em favor da causa. E não é só.
Jair Bolsonaro ainda se apoia na retórica eleitoral, incondizente portanto com a de um presidente da República já empossado, que difunde a demonização da política — por óbvio, eximindo a si mesmo e aos seus do bolo. Não surgiu de outra fonte a gratuita celeuma com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, contornada sabe-se lá até quando.
A inconsequência da postura impressiona. Há quem suspeite não passar de uma tática para manter a militância disposta ao confronto ideológico. Também existem aqueles que admitem ser esse, tão somente, o caso de um conjunto ruim, formado por pessoas incapazes de promover o diálogo, função básica de todo representante eleito pela sociedade. Convenhamos, ambas as hipóteses, para além de plausíveis, se comprovam a cada dia.
Seja como for, tratando-se de estratégia ou da mais franca incompetência, é bom o presidente já ir se acostumando: mesmo contando com um exército de robôs nas redes sociais, discursos amalucados de Ernesto Araújo e Vélez Rodriguez, sem falar em assessores olavistas e na sua assanhada prole, a responsabilidade pela aprovação da reforma é toda do governo. Melhor dizendo, do seu governo. No sentido mais restrito possível do termo.
Digo isso porque não vai adiantar, para efeitos históricos e acima de tudo práticos, tentar empurrar para o colo de outros a incumbência da aprovação da nova Previdência e dos demais projetos liberais, de modernização e desburocratização do Estado brasileiro.
A preocupação é tanta com esse comportamento que nos últimos dias cheguei a ouvir de economistas com os quais conversei, alguns próximos à equipe econômica, conjecturas sobre a possibilidade de um novo modelo da Previdência só passar em 2020. Sintomático, é esse o tipo de hipótese que surge quando os indícios são de amadorismo e o líder prefere culpar a Câmara e o Senado em vez de ir a campo defender um pleito tão importante para o país, vindo de um ministro definitivo para a própria sustentabilidade da administração.
Diga-se: falar em 2020 acaba sendo, na prática, assumir a morte da reforma. E assim o é pelo simples fato de que ano que vem teremos eleições, o que significa que as chances de aprovação de pautas impopulares se tornará ainda mais remota.
Pois, sim, o pessimismo cabe. Só quem perdeu por completo a capacidade de analisar, preferindo assumir um lugar na arquibancada, não atentou para o fato de que o discurso vendido durante a campanha tem rabo e focinho de estelionato eleitoral.
De que o buraco é mais embaixo, especialmente para políticos novatos ou que durante décadas demonstraram ser verdadeiras nulidades em termos de capacidade de articulação política. De que, enfim, a fábula do ministro liberal capaz de controlar o chefe, vide Joaquim Levy, não passa mesmo de uma fábula.
O que cabe agora, não apenas ao mercado, mas também à sociedade, é pressionar o presidente, deixando claro que é preciso aprovar a reforma com urgência. Que isso não pode passar deste ano e que a narrativa do “nós x eles” já não convence mais ninguém.
Que, no fim das contas, o que se espera de um governo é governança.
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