‘Humana’, de Fafá de Belém, é um disco precioso, curto e grosso — embora fino

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RIO – Historicamente, a música de Fafá de Belém não chega a ser marcada pela alegria. Mas a personagem, a cantora do riso rasgado, acaba imprimindo uma imagem mais forte do que o som. Por isso, talvez, este “Humana” surpreenda, com uma Maria de Fátima ora sussurrante, ora penetrante, incisiva, eventualmente deixando de lado preocupações técnicas em nome da interpretação — talvez o melhor exemplo seja a versão do standard pop “Toda forma de amor”, de Lulu Santos.

Entrevista:
‘Se eu quiser ser uma pantera eu sou, se quiser lavar o chão, lavo’

A impressão é que o produtor DJ Zé Pedro, que contou com direção artística de Arthur Nogueira, jogou Fafá num estúdio — ambiente do qual ela confessadamente não é fã — com uma boa banda, um repertório calibrado para arrancar mais lágrimas do que sorrisos e mandou: “Canta aí”.

O formato é elétrico, seco, preciso. “Minha imagem se traduz/ luz sobre as águas/ berro do peixe/ festa na mata”, canta ela no bluesão “Ave do amor”, de Arthur Nogueira e Ava Rocha, que abre o disco.

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Fafá não está para brincadeiras

É seguida por “Revelação” aquela do “sentimento ilhado, morto e amordaçado”, sucesso de Fagner de autoria de Clésio Ferreira e Clodo Ferreira, com execução perfeita de Zé Manoel (piano), Allen Alencar (guitarra), João Paulo Deogracias (baixo) e Richard Ribeiro (bateria), quarteto que acompanha a artista paraense por todo o disco.

Aí já se pode perceber que a risonha Fafá não está para brincadeiras. Ao longo de apenas 10 faixas, ela passeia por um pop mais oitentista na debochada “Alinhamento energético” (Letícia Novaes, a Letrux), que brinca com o bordão cumpadiwashingtoniano “sabe de nada, inocente”; pela pérola feminista “Eu sou aquela”(Joyce e Paulo César Pinheiro); e pelo delicioso e melancólico pop-blues português “Não queiras saber”, de Carlos Tê e Rui Veloso. É notória a ligação de Fafá com a Terrinha: “Não queiras saber de mim porque eu estou que não me entendo/ Dança tu que eu fico assim/ Hoje eu não me recomendo”, diz a letra.

Como se esperaria de um disco de Angela Ro Ro, o dramalhão não tem fim — embora Fafá, mesmo em momento diva do blues, trace um limite claro entre o que se cura com um porre e o que demandaria providências mais radicais. O desabafo de “Toda forma de amor” encerra com o pé na porta um disco precioso, curto e grosso. Embora fino.



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