“Fiz 1 200 obras e, em quase todas, tive de ‘pagar’ na prefeitura”

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O senhor vai reabrir o Studio 689 (na Rua Gabriel Monteiro da Silva, que ficou fechado na quarentena)?

Sim. A exposição está montada (será inaugurada no dia 3). É um resgate de dois mestres brasileiros dos anos 1930, o Vittorio Gobbis e o Paulo Rossi Osir. Na minha opinião, são do naipe, no mínimo, do Portinari. São 55 obras, a maioria do nosso acervo familiar. Será uma mostra polêmica.

Por quê?

Os dois ficaram à margem do mercado. Imagina que consegui comprar, um mês atrás, um extraordinário Gobbis por 2 000 reais em São Paulo. Estou vendendo por 140 000, que acho o valor justo.

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Como é possível tanta discrepância?

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O nosso público é de um nível de informação muito pequeno. Vai atrás de moda. Essa menina, por exemplo, a (artista plástica) Beatriz Milhazes, na minha opinião, é um embuste.

O senhor veio para São Paulo no início dos anos 1950, quando a elite ainda se reunia no Centro da cidade.

Isso, na Barão de Itapetininga, onde tomávamos chá às 17 horas. Só se via gente maravilhosa, bem-vestida. O mundo foi piorando.

Ainda vai ao Centro? O que faria para melhorar a região?

Vou muito pouco… A idade conta. Mas, urbanisticamente, São Paulo no geral melhorou. Tem zonas novas em que aconteceram arquiteturas de boa categoria. Por exemplo, a zona próxima ao Shopping JK. Ruas largas, bonitas. Uns quarenta anos atrás, São Paulo era feiosa. Agora tem lojas lindas, shoppings fantásticos.

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O senhor mora há décadas no Morumbi. Por que o bairro tem tantos problemas de trânsito e violência?

É a desigualdade enorme do Brasil. É difícil dar uma opinião, dizer que eu faria isso ou aquilo, porque se eu pensasse (uma solução), já teriam feito. Mas nunca fizeram. E não tem nada a fazer. Infelizmente, vai ser difícil a gente ter uma vida menos desigual.

Por quê?

Aqueles que estão no comando são medíocres. E são desonestos. Isso é endêmico. A primeira vez que tive carro aqui, fui para Santos. Os policiais me pararam e quiseram me multar. Eu abri a carteira, pus uma nota à vista e o cara pegou. Isso não muda. Tenho umas 1 200 obras feitas. Em quase todas, tive de “pagar” na prefeitura. É endêmico, não tem nada a fazer.

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O senhor teve uma longa amizade com Pietro Maria Bardi (um dos fundadores do Masp). O que gostavam de fazer na cidade?

Fomos íntimos amigos. E sócios (tiveram lojas de arte no Centro). Pouca gente sabe, mas o Bardi, além da Lina (Bo Bardi), tinha uma amante. A gente frequentemente almoçava na casa dela. O Bardi e a Lina eram um casal esquisito. Eles se respeitavam muito, mas se davam pouco. Também gostávamos de ir à Serra da Cantareira, tomar caldo de cana. Pietro foi meu sócio e amigo pela vida inteira. Quando morreu, consegui comprar grande parte do acervo dele, que tinha ficado para as filhas. Uma coleção extraordinária.

Nos anos 80, o senhor cofundou a boate Gallery. Que momentos inesquecíveis viveu ali?

Nunca houve lugar mais bonito e elegante que o Gallery. Tenho realmente saudade… Bem ou mal, ele me deixou famoso. Inclusive peguei trabalhos enormes por causa da publicidade que o Gallery me trouxe. Toda noite era uma festa, a vida parecia um filme. A mulherada elegantérrima… Todo mundo ia: a Cindy Crawford, o príncipe Charles, o Frank Sinatra. Quando o Tony Bennett veio fazer um show, o (José) Victor (Oliva, também sócio da casa) foi abraçá-lo e tirou a peruca dele. Ele ficou tão sem graça, coitado… Depois do Gallery, não aconteceu mais nada. Não teve lugar nem parecido em São Paulo. E, de São Paulo, eu sei tudo. Conheço coisas do arco da velha, que ninguém sabe.

Por que o senhor mora em um apartamento, e não nesta casa (uma mansão desocupada de mais de 1 000 metros quadrados no Morumbi, repleta de obras de arte, o último projeto arquitetônico criado por Ugo)?

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Tenho 93 anos e perfeita consciência do pouco tempo que me resta. Fazer uma mudança dessas, a essa altura… Não sei. Cada dia é um pouco tarde.

Como quer que a sua arquitetura seja lembrada?

Entre coisas boas e menos boas, o importante é ter tido bom gosto. Uma obra pode ser tecnicamente perfeita, mas sem gosto. A coisa importante na arquitetura é o glamour. Quando não tem glamour, está faltando alguma coisa. Eu transformo a arte de qualidade em peça de consumo diário (Ugo é conhecido por usar arte e antiguidades nos projetos).

O senhor testemunhou a construção do Brasil moderno. Está feliz com os rumos do país?

Acho que os anos 70 e 80 foram o ápice da melhor vida no Brasil. Em todos os sentidos. Como estão as coisas hoje? Estão meio de merda, infelizmente. Mas sabe? Deus é brasileiro.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 26 de agosto de 2020, edição nº 2701.



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