(Marcelo Camargo/Agência Brasil )
Para os principais economistas do país, não há dúvida de que a recuperação econômica do Brasil passa por uma reforma da previdência. Frente a essa afirmação, surge uma pergunta óbvia: se reforma será boa para economia do país, por que ela é tão impopular?
De acordo com as pesquisas de opinião, o total de brasileiros contrários à reforma oscila de 25% a 45%, dependendo do instituto de pesquisa. Embora menor, a resistência pela aprovação da reforma ainda é alta em parcela da população.
Como os servidores públicos não representam 25% da população brasileira, os números indicam que a resistência à reforma passa justamente pelos trabalhadores que mais serão beneficiados pelas consequências econômicas a serem geradas pela aprovação do projeto. Voltamos a pergunta inicial: então por que a resistência?
A razão é que enquanto a “perda” de benefícios é concreta e palpável, os impactos positivos são difusos, sendo difícil estabelecer uma relação imediata de causa e efeito entre aprovação da reforma da previdência com crescimento econômico e redução de desemprego.
No entanto, utilizando alguns conceitos de economia, é possível argumentar que a reforma da previdência trará impactos positivos para a renda e para o emprego.
Se existe algum consenso sobre por que razão um país cresce mais do que outro a longo prazo, ele está na capacidade de poupança da população. Entende-se por poupança o que você não consumiu da sua renda em determinado período. A elevação da poupança nacional permite mais investimentos e mais estoque de capital, fatores fundamentais para o crescimento econômico de longo prazo e geração de emprego num país. Com a reforma da previdência, a capacidade de poupança nacional aumentaria, sobrando mais recursos para a realização de investimentos produtivos, fundamentais para a recuperação da renda e do emprego.
Hoje, em parte, nosso investimento é baixo porque nossa poupança nacional é pequena. Como os gastos do Estado brasileiro são elevados; o governo, por meio da emissão de títulos públicos e alta carga tributária, suga a poupança privada para fechar as suas contas. O pior é que a poupança do setor privado não está sendo utilizada para financiar investimentos em capital produtivo, mas, gastos correntes, dos quais a previdência faz parte.
Em última análise, nosso investimento é baixo porque, em parte, os recursos do setor privado são utilizados para financiar um sistema previdenciário desigual: favorável aos mais ricos e punitivo para os mais pobres. Só para se ter uma ideia, pelo critério investimento como proporção do PIB, numa amostra de 174 países da base do FMI em 2018, o Brasil está na posição de 163, ficando atrás do Paquistão, Quênia e Madagascar. Uma taxa de 16% de investimento/PIB, para um país em desenvolvimento como o Brasil, é no mínimo preocupante.
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Com a aprovação da reforma da previdência, provavelmente essa taxa de investimento subiria. Primeiro, porque haveria um efeito direto e concreto. Estima-se uma economia de 1 trilhão de reais em 10 anos, que poderia ser revertida em investimentos produtivos como, por exemplo, a modernização de infraestrutura. Segundo, porque haveria um efeito pelas expectativas. A aprovação da reforma afastaria o risco de um calote da dívida pública, levando a um otimismo por parte dos empresários e um aquecimento do mercado de crédito e de capitais. A combinação de mais otimismo e mais poupança elevaria o investimento. Consequentemente, com mais investimento, as empresas iriam produzir e empregar mais pessoas. Resultado: crescimento econômico e redução do desemprego.
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Alan Ghani é economista, PhD em Finanças e professor de pós graduação
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