São Paulo – Dos 8,5 mil médicos brasileiros que substituíram profissionais cubanos no Mais Médicos, 1.052 já deixaram o programa. O número, que engloba as saídas desde janeiro, representa cerca de 12% dos profissionais contratados para atender regiões com carência de atendimento em saúde.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, a cidade de São Paulo lidera o número de desistências, com 19 vagas abertas. Em seguida, vêm cidades do interior, como Cachoeiro de Itapemirim (ES), com oito desistências, e as paulistas Embu das Artes, Jacareí e São José dos Campos, com a saída de sete médicos cada.
Antes de ser empossado presidente da República, Jair Bolsonaro precisou enfrentar um desafio: substituir as 8.517 vagas ocupadas por médicos cubanos que deixariam o país após o fim do contrato da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) com o Brasil. Ainda durante o governo de transição, em 21 de novembro, começaram a ser lançados editais para a substituição dos cubanos.
Na época, o então presidente Michel Temer (MDB) afirmou que o Brasil estaria preparado para suprir a saída dos médicos cubanos.
Apesar do modelo do programa ter sido criticado por Bolsonaro durante a campanha, o rompimento do contrato foi considerado pelos seus apoiadores como uma decisão unilateral de Cuba.
Em meio à polêmica pela saída de médicos cubanos do programa, Jair Bolsonaro postou em uma rede social que o Brasil deveria deixar de ser paraíso de criminosos e fonte de renda de ditaduras desumanas para dar lugar a um país em que o “brasileiro e as pessoas de bem”.
Para completar as mais de 8 mil vagas do programa, o governo federal aceitou a inscrição de médicos brasileiros formados no exterior.
Foram 1.397 médicos brasileiros com CRM de fora do país, que ainda não foram distribuídos pelas unidades de saúde devido ao módulo de acolhimento. Segundo o Ministério da Saúde, eles devem ingressar no sistema público na próxima semana.
Para Felipe Proenço, doutor em saúde coletiva e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a saída de médicos no início do ano é previsível, devido ao início do ano letivo das residências médicas, mas falta planejamento para fixar esses profissionais.
“O governo deveria ter previsto, já que estava acontecendo nos últimos anos, mas nesse ano me parece maior. Uma equipe da saúde da família, com um médico, consegue atender 3.450 pessoas. Isso significa que, com essas desistências, mais de 3 milhões de pessoas voltaram à situação anterior”, destaca.
Proenço, que participou da criação do programa em 2013, no governo Dilma Rousseff (PT), acredita que é preciso ter estratégias educacionais e de valorização profissional para conseguir fixar os médicos.
“As medidas educacionais de retenção envolvem expansão do número dos cursos de Medicina em cidades distantes das capitais e criação de residências. Mesmo em cidades que ofereciam salários acima de R$ 20 mil, não se conseguiam reter os médicos. Tem que ter estratégias variadas, como residências vinculadas a secretarias de saúde.”
Em nota, a pasta informou que pode ofertar as vagas disponíveis em novos editais. O desfalque de 1.052 médicos acontece em meio a uma possível reestruturação do programa. Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, já confirmou que pretende submeter um projeto de lei ao Congresso com novas regras para o Mais Médicos.
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