Elevação do nível do mar exigirá obras de até R$ 1,5 bi em SP, diz estudo

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A elevação do nível dos oceanos pode ultrapassar 1,6 metro até o fim do século, com consequências desastrosas principalmente para as populações costeiras. Além de medidas para a redução das emissões de gases do efeito estufa a serem adotadas pelos países, os cidadãos precisam mudar hábitos e pressionar os tomadores de decisão para evitar um cenário catastrófico.

A avaliação foi feita pelos pesquisadores que participaram do primeiro episódio do programa Ciência Aberta em 2019, lançado no dia 19 de março com o tema “Oceanos Ameaçados”. A iniciativa é uma parceria da FAPESP com a Folha de S.Paulo.

“São necessárias políticas de Estado, o que não quer dizer políticas de governo. É preciso que seja algo perene, ao longo de décadas”, disse Michel Michaelovitch de Mahiques, professor no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).

Participaram do programa Ilana Wainer, professora no Departamento de Oceanografia Física do IO-USP e membro do comitê gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera, e Cristiano Mazur Chiessi, professor na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e líder do subgrupo Paleoclima do Núcleo de Apoio à Pesquisa – Mudanças Climáticas (Incline).

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Chiessi lembrou que a cidade de Santos foi uma das primeiras a estabelecer um plano no longo prazo para o enfrentamento das mudanças climáticas. A iniciativa foi parte de um projeto com apoio da FAPESP.

“Não foi algo feito apenas por pesquisadores, mas em conjunto com o poder público e com a sociedade civil. O plano ainda não foi colocado em prática, é muito recente. Mas, se for, vai efetivamente gerar condições um pouco menos difíceis para as populações afetadas pela elevação do nível do mar e por outras questões associadas a mudanças climáticas dos oceanos”, disse o pesquisador (leia mais sobre o assunto em: http://agencia.fapesp.br/22357).

O estudo concluiu que o custo mínimo com obras na região da Ponta da Praia de Santos e na Zona Noroeste, as mais afetadas pela elevação do nível do mar no município, ficaria em torno de R$ 300 milhões. Não se adaptar às mudanças climáticas, por outro lado, poderia custar até R$ 1,5 bilhão (leia em: http://agencia.fapesp.br/25976).

Os pesquisadores ressaltaram que a elevação do nível dos oceanos já ocorreu em outros períodos na Terra, mas não em uma velocidade tão alta como agora.

“A taxa em que esse aumento está ocorrendo é muito rápida. Desde 1993, a elevação é de 3,1 milímetros (mm) por ano. Em 1900, era de 1,7 a 2 mm por ano. A partir de um determinado ponto, o aumento começou a ser exponencial. Mudanças [climáticas] sempre existiram, mas agora estamos alimentando o sistema com os gases [do efeito] estufa”, disse Wainer.

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Organização das Nações Unidas (ONU), lançado em 2013, apontou que a taxa de elevação do mar seria de 8 a 16 mm por ano até o fim do século, muito maior do que os 3,2 mm anuais observados atualmente. Para o ano 2100, portanto, o nível dos mares subiria entre 50 centímetros e 1 metro.

“É importante mencionar que, quando o quinto relatório do IPCC foi fechado, a compreensão e a representação do degelo das calotas polares eram extremamente incipientes”, disse Chiessi.

Os novos modelos, explicou, preveem um aumento ainda maior, chegando a 1,6 metro de elevação até 2100, levando em conta o derretimento das calotas polares. Estudos recentes, que serão contemplados no próximo relatório do IPCC, indicam valores anda mais altos do que 1,6 metro de elevação para o fim do século.

Sintonia com a atmosfera

Os oceanos têm um papel fundamental na regulação do clima do planeta, ao redistribuir o calor que chega em excesso na região tropical até as regiões polares, ao mesmo tempo em que levam o frio dos polos para os trópicos.

“Os oceanos, junto com a atmosfera, funcionam como um ar condicionado do planeta, levando calor para as regiões frias e frio para onde está muito quente”, disse Wainer.

Chiessi explicou que a transferência de energia na forma de calor do Atlântico Sul para o Atlântico Norte anualmente é da ordem de 0,4 petawatt, o equivalente ao produzido por 285 mil usinas hidrelétricas de Itaipu. “Essa grande circulação no Atlântico está marcantemente ameaçada”, disse.

“Quando há o derretimento das geleiras, existe um aporte de água doce no mar. Desse modo, não se consegue mais formar essa água profunda e densa necessária para a circulação continuar se movendo. Como consequência, o oceano acaba sendo menos eficiente em redistribuir o calor”, explicou Wainer.

Consciência e tecnologia

Para os pesquisadores, pressionar os tomadores de decisão é fundamental para evitar um cenário catastrófico. Além de diminuir o consumo de plástico, que afeta os ecossistemas marinhos e inevitavelmente chega aos humanos por meio do consumo de peixes e frutos do mar, é fundamental diminuir as emissões de gases do efeito estufa.

“Obviamente, ninguém vai abandonar os carros, parar o transporte aéreo e marítimo da noite para o dia. Não é isso. Mas existem dois pontos importantes. Um é a tomada de consciência, individual e coletiva, de que é necessário um maior respeito pelos oceanos e pelo planeta. E o outro é usar a tecnologia a nosso favor. Optar por meios de transporte menos poluentes, por exemplo. Existem várias coisas que podem ser feitas, senão para impedir, pelo menos para diminuir a taxa de crescimento [de emissões]. Temos que ter consciência de que só temos esse planeta [e por isso] temos que cuidar melhor dele”, disse Mahiques.

O novo episódio de Ciência Aberta, “Oceanos Ameaçados”, pode ser visto em: www.fapesp.br/ciencia-aberta.

Confira também os programas anteriores, que abordaram temas como obesidade, a contribuição das mulheres para o avanço da ciência, depressão em jovens e adolescentes e os novos desafios das cidades.



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