Listas, áudios e intrigas: entenda caos que rachou o PSL nesta quinta (17)

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São Paulo — O partido do presidente Jair Bolsonaro rachou de vez neste 17 de outubro após uma série de acontecimentos e vazamentos levar a mudanças em postos importantes do Congresso e rompimentos internos.

Em menos de duas horas, a ala bolsonarista foi derrotada na tentativa de tirar o Delegado Waldir (GO) do cargo de líder do partido na Câmara dos Deputados; o presidente tirou a deputada federal Joice Hasselmann (SP) da função de líder do governo no Congresso; os filhos de Bolsonaro, Flávio e Eduardo, foram destituídos da presidência do PSL no Rio de Janeiro e em São Paulo; e vazou um áudio em que Waldir diz que vai “implodir” o presidente e o chama de “vagabundo”.

Cerca de um ano e meio após entrar no PSL e com menos de dez meses de mandato, Bolsonaro – que já passou por oito partidos ao longo da sua carreira política – protagoniza um lento processo de rompimento com sua legenda, caso inédito na democracia brasileira.

Entenda a cronologia da crise

A crise interna da sigla ganhou as manchetes há dez dias, quando Bolsonaro falou para um apoiador “esquecer” o PSL porque o presidente nacional do partido, Luciano Bivar, está “queimado pra caramba”.

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A fala foi vista como uma tentativa de se distanciar das acusações que recaem sobre Bivar e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, ambos investigados por liderarem esquemas de candidatas-laranja nas eleições, em Pernambuco e em Minas Gerais, respectivamente. As acusações contra o ministro vem desta fevereiro, mas ele segue no cargo.

No dia anterior à fala, o presidente exigiu de Bivar, por telefone, o comando do PSL. Disse que, caso a situação continuasse como está, deixaria o partido. Bivar recusou o ultimato.

Nos bastidores, aliados de Bolsonaro apoiam a ideia de ele tomar o controle do partido. “Continuamos (no PSL) se o presidente puder assumir a Executiva do partido. O partido só é o que é hoje porque Bolsonaro foi eleito. ”, disse Carla Zambelli (SP), uma das dissidentes.

Dois dias depois do alerta ao apoiador, Bolsonaro e mais 21 parlamentares enviaram um requerimento solicitando uma auditoria nas contas públicas dos últimos cinco anos do PSL. O documento chama de “precárias” as prestações de contas do partido e afirma, ainda, que “a contumaz conduta pode ser interpretada como expediente para dificultar a análise e camuflar irregularidades”.

Na quinta-feira passada (10), a Polícia Federal realizou uma operação de busca e apreensão em endereços ligados a Bivar. O pedido havia sido feito em agosto, mas autorizado apenas agora. Deputados ligados ao dirigente do partido atribuíram a operação a uma espécie de retaliação do presidente.

O delegado Waldir, inclusive, foi uma dos mais críticos à ação. Em entrevista, ele disse que o senador Flávio Bolsonaro (RJ), filho do presidente, e seu ex-assessor Fabrício Queiroz, acusados da prática de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, deveriam ser também alvo de buscas.

A tensão entre as duas alas do partido se intensificou já nesta terça-feira (15), quando Waldir orientou sua bancada a obstruir a votação de uma medida provisória de interesse do Palácio do Planalto.

Na noite de ontem, aliados de Bolsonaro apresentaram na Câmara dos Deputados duas listas com 26 e 24 assinaturas destituindo Waldir e indicando Eduardo Bolsonaro como líder do partido na Casa. Menos de meia hora depois, parlamentares ligados a Waldir apresentaram uma segunda lista, com 29 nomes.

Durante o dia, o próprio Bolsonaro teria entrado em campo para atrair votos para seu filho. Um áudio vazado pelo jornal O Globo, já no início da madrugada, registra o presidente dizendo que faltaria apenas uma assinatura para “tirar o líder”.

“Estamos com 26, falta uma assinatura para a gente tirar o líder, e colocar o outro. A gente acerta. Entrando o outro agora, dezembro tem eleições para o futuro líder. A maneira como tá, que poder tem na mão atualmente o presidente, o líder aí? O poder de indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, promessa para fundo eleitoral por ocasião das eleições, é isso que os caras têm. Mas você sabe que o humor desses caras de uma hora para a outra muda”, afirmou Bolsonaro a um interlocutor desconhecido. 

Caos de hoje

Nesta manhã, Bolsonaro decidiu que iria substituir a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, que assinou a lista de Waldir. Quem assume o cargo é Eduardo Gomes (MDB-TO).

No início da tarde, a Mesa Diretória da Câmara dos Deputados analisou as assinaturas dos parlamentares das três listas e quem levou a melhor foi a ala do Delegado Waldir. 

De acordo com a secretaria-geral da Câmara, as assinaturas apresentadas pelo grupo dissidente, que indicaram Eduardo, não alcançaram o número suficiente para tirar o atual líder do posto.

Em uma nova  reviravolta, o deputado Daniel Silveira (RJ) vazou um áudio, em que Waldir chama Bolsonaro de “vagabundo” e diz que vai “implodir” o presidente. “Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele. Não tem conversa. Eu implodo ele. Eu sou o cara mais fiel. Acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu votei nessa p*, eu andei no sol em 246 cidades para defender o nome desse vagabundo”. Logo em seguida, alguém não identificado o alerta: “Cuidado com isso, Waldir.”

O áudio, que é de uma reunião realizada na tarde desta quarta-feira (16), foi obtido pelo Estadão e pelo Antagonista e confirmado por Waldir. Dois parlamentares relatam a reunião anterior em que receberam do próprio Bolsonaro o pedido para rifar o líder do partido.

“Os meninos chegaram lá e o presidente disse: ‘Assina se não é meu inimigo’”, diz uma das presentes. “Eu não consegui não assinar”, responde o deputado Luiz Lima (PSL-RJ). O deputado Loester Trutis (PSL-MS) também diz ter sido pressionado.

Silveira afirmou que gravou a reunião da bancada para “blindar” Bolsonaro na guerra declarada contra Bivar, que ainda deve contar com vários disparos de todos os lados.



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