Falar de Spotify virou quase sinônimo de falar de música, mas os resultados do segundo trimestre da empresa mostraram que a plataforma de streaming não quer ser conhecida só por artistas do pop.
Os podcasts, programas de áudio com conteúdos e formatos diversos, ganharam ainda mais relevância entre os usuários da startup sueca em 2019.
Em comunicado para divulgar os resultados do segundo trimestre de 2019, a empresa afirma que a audiência dos podcasts cresceu mais de 50% na comparação com o primeiro trimestre e quase dobrou desde o começo do ano. Mais de 30.000 novos podcasts passaram a integrar a plataforma entre abril e junho.
Como mostrou edição de fevereiro de EXAME, plataformas de streaming como Spotify e Deezer vêm investindo cada vez mais em podcasts para oferecer aos assinantes um serviço que vá além das músicas.
O presidente do Spotify, Daniel Ek, afirmou neste ano que espera que, em algum tempo, 20% de tudo que é reproduzido na plataforma venha de conteúdo não-musical e que a empresa quer ser “a plataforma de áudio número um do mundo”, seja com música ou com outros conteúdos.
Chamariz de anunciantes
O interesse pelos podcasts, além de atrair audiência, é aumentar a receita com anúncios, que hoje representa apenas 10% de toda a receita do Spotify (com 90% ainda vindo dos assinantes).
Um estudo das consultorias IAB e PwC estima que os anunciantes pagaram 479 milhões de dólares para anunciar em podcasts em 2018 nos EUA, alta de 53% em relação a 2017. A expectativa é que a receita de anúncio com os programas chegue a 1 bilhão de dólares em 2021.
No Brasil, pesquisa da Audio.ad mostrou que 25% dos entrevistados afirmaram ouvir podcasts regularmente, e o estudo PodPesquisa, da Associação Brasileira de Podcasts (ABPOD), descobriu que, dentre todos que ouvem podcasts, metade dos ouvintes o faz todos os dias.
Um dos maiores desafios do Spotify será competir não só com rivais como Deezer e Apple, mas com plataformas gratuitas de conteúdos de áudio. A saída é similar à adotada por outra empresa de streaming, porém de vídeo, a Netflix. Ameaçada por produtores de conteúdo que querem retirar seus filmes e séries da plataforma — ou cobrar muito caro para renová-los –, a Netflix mais que dobrou o investimento em conteúdo próprio.
O Spotify anunciou neste ano os planos de gastar 500 milhões de dólares na produção de podcasts, e gastou 300 milhões de dólares para comprar a produtora de podcasts americana Gimlet Media e a plataforma Achor, que permite criação de programas de forma fácil.
A empresa de streaming também terá um podcast exclusivo do ex-casal presidencial americano Michelle e Barack Obama, como parte de parceria com a produtora de conteúdo Higher Ground. No Brasil, há parcerias como com o jornal Folha de S.Paulo ou a empresa de mídia B9 (como com o podcast OÊA na Copa do Mundo feminina) para produção de programas exclusivamente para o catálogo da plataforma.
Falta quem queira pagar
Ainda que o número de usuários tenha ultrapassado as expectativas e com a boa audiência dos podcasts, as ações do Spotify caíram mais de 1% ao longo do dia, uma vez que os investidores esperavam um número maior de assinantes.
O Spotify terminou o segundo trimestre do ano com 232 milhões de usuários ativos, sendo 108 milhões deles assinantes (os demais não pagam, mas perdem funcionalidades como passar músicas e não ouvir anúncios).
Foram 15 milhões de novos usuários no geral, alta de 7% na comparação com o primeiro trimestre, sendo oito milhões novos assinantes, alta de 9% (ou 31% na comparação com o mesmo período do ano passado).
Durante conferência com analistas nesta quarta-feira, o presidente Daniel Ek disse que o Spotify ganha 2 milhões de novos assinantes por mês no mundo, enquanto o serviço de músicas da Apple, um dos maiores concorrentes, ganha 1 milhão de novos assinantes (a Apple não divulga o número oficial).
O faturamento do Spotify foi de 1,7 bilhão de euros, alta de 31% em relação ao mesmo período do ano passado. A empresa ainda opera no prejuízo, mas reduziu as perdas, que fecharam em 76 milhões de euros — menos que os 394 milhões de euros de prejuízo há um ano.
O Spotify não dá detalhes sobre o número de usuários em cada país, mas, entre as regiões, sua maior base de usuários de pagantes está na Europa, com 40% dos assinantes. Em seguida vem América do Norte (30%), América Latina (20%) e outros mercados (10%), com a empresa ainda tendo dificuldade em crescer em mercados como a Ásia.
A ver se Ek conseguirá levar adiante sua receita de tornar o Spotify uma “Netflix dos podcasts” — e fazer usuários e anunciantes pagarem pelo serviço.
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