O amor no tempo das cartas era belo e romântico, com suas longas e dolorosas esperas e dúvidas, com cartas roubadas, indispensáveis em qualquer novela. Algumas até renderam respeitável literatura, como as cartas eróticas de James Joyce para Nora Barnacle. Mas o WhatsApp, o Skype e o e-mail, além do telefone, tornaram viver um amor algo muito diferente. E muito melhor.
Primeiro, acabou com a distância e o tempo entre as mensagens. Na verdade, o que os olhos veem o coração sente. Falar vendo os olhos e as expressões do ser amado na tela é quase tão bom quanto ao vivo. Amantes passam o dia trocando msgs e fotos e vídeos e músicas e memes no zap, e tanto faz se estão aqui em Ipanema ou em Brasília.
O pessoal do tempo das cartas iria delirar com a possibilidade de receber nudes da mulher amada, de ouvir sua voz cheia de promessas, de trocar palavras de amor que podem ser espontâneas, ou bem pensadas, a resposta não precisa ser imediata. Ou ao vivo no Skype, cara a cara, de viva voz e de corpo e alma na tela.
Uma das melhores novidades é a DR digital. Esfrie a cabeça, pense bem no que o incomoda, provoca dúvidas e o faz sofrer, escreva com cuidado. Receba as queixas, os medos e as dúvidas do outro com atenção, leia várias vezes. Responda pensando bem, revisando e equilibrando o que escreveu, frequentemente há exageros. Só mande no dia seguinte, depois de reler com cuidado o que disse: vale o escrito!
Uniões são salvas, e brigas feias de casal são evitadas pelo e-mail ou pelo zap, que ainda criam a garantia de promessas, acordos e desculpas por escrito. Para serem lidos e relidos e eventualmente cobrados ou discutidos. É bem mais fácil admitir erros por escrito do que no calor de uma discussão, e muito mais eficiente.
É bobagem achar que esses meios são “frios” e impessoais, se através deles se pode viver um amor de verdade — ou terminar uma relação sem brigas, barracos e baixarias, na raiva do momento. No caso, é até bom que seja frio, como deve estar a cabeça a serviço do coração.