Tradição x dinheiro: o que esperar da parceria entre Bragantino e Red Bull

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O objetivo da Red Bull é conhecido: vender energéticos. A publicidade é sempre bem-vinda, mas a máquina de fazer dinheiro está muito além das propagandas em jornais ou revistas. A empresa austríaca descobriu no futebol uma forma de obter lucro e investiu na Alemanha, na Áustria e nos Estados Unidos. No Brasil, o foco é disputar a elite do Campeonato Brasileiro e, após insucessos com o RB Brasil, a aposta é o Bragantino, com quem negocia parceria por R$ 45 milhões.

Ao que tudo indica, a Red Bull irá assumir toda a questão administrativa do clube paulista. Com isso, os acionistas são quem determinarão os passos da entidade e não mais a figura de um presidente ou de sócios. De um lado, a empresa irá herdar a vaga na Série B do Campeonato Brasileiro, contar com uma torcida ativa e renda por cotas televisivas. Do outro, terá que pagar a dívida total em vigor, reestruturar todas as áreas e lidar com uma possível rejeição do ambiente tradicionalista.

Red Bull irá se fundir ao Bragantino e herdar a vaga na Série B do Campeonato Brasileiro

Colocando na ponta do lápis, o RB Brasil tinha investimento dez vezes maior que o Bragantino em 2019. Por outro lado, a matriz brasileira não obtinha sucesso no Brasileirão, enquanto o Alvinegro tinha vaga na Serie B. Então, virou uma ação básica de mercado: a empresa maior compra a menor para aumentar o alcance. Apesar de ter a discussão sobre a tradição, historia e comercialização do nome do clube, o medo da falência pesou para a venda. É o mesmo processo que está em ação no Leipzig, no Salzburg e no New York. 

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Mas, o que a torcida do Bragantino pode esperar desse “novo clube” além das mudanças do lado financeiro? O escudo vai mudar? Terá novas cores? O estádio seguirá o mesmo? Bom, ainda não há uma definição concreta devido ao negócio ainda levantar muitas dúvidas, mas, caso a Red Bull siga o exemplo das outras matrizes, existem alguns padrões a serem seguidos e o LANCE! mostra abaixo.

TRADIÇÃO X DINHEIRO?

Esse é o grande ponto nas discussões sobre o futuro do Bragantino. Trata-se de um clube tradicional, que já foi vice-campeão brasileiro, campeão paulista e que revelou treinadores como Vanderlei Luxemburgo. À primeira vista, a parceria é analisada com receio por quem está de fora, mas parece estar sendo bem vista pelos torcedores do próprio clube. Apesar de ainda não confirmada, o acordo entre as filiais tem limites, como manter o nome Bragantino, nome do estádio, cores e etc… A tradição seria deixada de lado pelo dinheiro ou não?

– Pelo que percebemos conversando com as pessoas e nos comentários nas redes sociais a maioria apoia porque o Bragantino está nessa condição há muito tempo, ou seja, na primeira do Paulista e no máximo na Série B do Brasileiro, mas sempre brigando para não cair. Agora todos esperam uma profissionalização maior do clube – conta o jornalista Tárcio Cacossi, da Rádio 102 FM.

‘Serão investidos R$ 45 milhões. Estádio deverá ser modernizado, além de construído um CT’

O lado financeiro também pesa nesta equação. O presidente do clube, Marquinho Chedid, afirmou que um dos motivos para a venda foi o medo da falência devido à crise financeira. É nítido que o Bragantino não vive os seus melhores dias e há o risco de ficar entre os clubes tradicionais que não tem pretensão no futuro. Basicamente, é trocar risco de rebaixamento no Brasileirão e no Paulistão pelo acesso praticamente garantido à elite.

– Dentro do clube há um clima de apreensão, pois todos os funcionários, desde zeladoria até diretor de futebol temem perder o emprego porque o negócio ainda não foi fechado e não foram passados a eles como será o futuro. Quanto aos jogadores, apesar de estarem apreensivos, também vislumbram a permanência, dentro de uma estrutura melhor, ou uma negociação. Serão investidos no clube R$ 45 milhões no clube. Também deverá ser modernizado e ampliado o estádio, além de construído um CT. Mas não ficou claro quanto vai para cada parte ainda nem quando – contou o jornalista. 

Então, abre-se o debate e exemplos não faltam. Clubes paulistas como a Portuguesa, o Guarani ou o próprio Bragantino perderam espaço no cenário nacional pela falta de dinheiro. Por outro lado, todos eles se orgulham de sua história e são identificados pelas suas raízes. Quem está correto? 

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Parceria entre Bragantino e Red Bull (Foto: Reprodução/Facebook)

O DESAFIO: COMO BUSCAR TORCEDORES?

Dinheiro pode comprar torcida? Dos cinco menores públicos pagantes desta edição do Campeonato Paulista, o Red Bull Brasil teve quatro deles – todos como mandante. Não chegou a 400 pessoas no estádio em nenhum deles. Na média de público geral, tem a pior entre todos os clubes participantes: 1.858, média de 10% de ocupação do estádio por jogo e renda de apenas R$ 422.580. 

Os números são importantes para entender os próximos passos da empresa. É nítido que a vaga na Série B do Campeonato Brasileiro é o principal objetivo, mas o mandatário do Bragantino revelou que existe a pretensão de um projeto de expansão e modernização do estádio Nabi Abi Chedid, que atualmente tem 13 mil lugares. Expansão demanda busca por ocupação. 

Pode não parecer, mas o Red Bull Brasil tem uma torcida organizada. Nas redes sociais, a página do Facebook do grupo conta com pouco mais de 500 torcedores. Com o slogan “Somos Toro Lokos”, eles tentam criar uma nova geração de torcedores longe da capital – escapando da concorrência de Palmeiras, Corinthians, Santos e São Paulo. 

A ideia é apostar nas escolas ou associações que contam com o apoio da empresa. As crianças são convidadas a brincar de torcer frequentando e conhecendo estádios. Desenhar bandeirões, aprender bateria e outra coisas com relação a torcida. Com isso, se divertindo, podem desenvolver um carinho com o novo clube. É uma tentativa que agora será adaptada ao Bragantino.

A meta é ligar a imagem do clube ao energético e o desafio com o Bragantino também será grande: é apenas o 13º colocado entre as 16 equipes em média de público que disputam o Campeonato Paulista. São 2.465 torcedores por partida e ocupação média de 14% do estádio. Se a ideia é expandir e modernizar, o desafio é atrair torcedores.

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Públicos do Paulistão 2019 (Foto: Reprodução)

RB LEIPZIG: SUCESSO NA ALEMANHA, MAS SEM TÍTULOS

Tudo começou em 2009, quando o modesto o SSV Markranstädt, da quinta divisão da Alemanha, teve as suas ações compradas pela gigante austríaca. Com um aporte financeiro muito acima dos concorrentes, não demorou para pular divisões: precisou de sete anos para chegar na elite do futebol alemão e medir forças contra as potências Bayern de Munique e Borussia Dortmund. Entretanto, apesar dos investimentos, ainda não conquistou títulos.

Leipzig é o clube da Red Bull com mais dinheiro, mas ainda não conquistou título

A entrada da Red Bull fez com o que o Leipzig ganhasse o status de ” clube mais odiado da Alemanha”. A primeira temporada deles na Bundesliga (2016/2017) foi realmente impressionante: terminaram em segundo lugar e o time foi especulado como a nova pedra no sapato do Bayern. Mas, em um país com tanta tradição no futebol, a entrada da empresa não foi vista com bons olhos. 

– Com o Leipzig, eles entraram com um investimento muito pesado e deu resultado em curto prazo. Chegaram na primeira divisão muito rápido, mas não conseguiram bons resultados em nível europeu. Teve a questão do estádio, que é muito moderno e foi mais um investimento. O Bragantino vai depender de quanto a empresa vai estar disposta a investir no Brasil – declarou a jornalista Nathalia Araújo, repórter da One Football. 

Até o momento, o Leipzig é o clube com maior investimento da empresa. Apenas em 2016, o clube chegou a investir € 50 milhões (R$ 181,5 milhões) em contratações. Além disso, aperfeiçoou o seu estádio, centro de treinamento e categoria de base. Dentro de campo, revelou estrelas como o lateral-direito Joshua Kimmich, da seleção alemã, e conta no atual elenco com o atacante Timo Werner, o meia Emil Forsberg e o defensor Ibrahima Konaté.

Mas, essa trajetória não foi apenas de felicidade. Durante o período de criação, a Red Bull alterou o escudo, os uniformes e a cor da equipe. Além disso, ditou novos métodos de conduta e comportamento para os torcedores, que se revoltaram e protestam constantemente contra a empresa. Mesmo com dinheiro e craques, nem tudo agrada aos mais tradicionalistas.

Entre rivais, não faltam protestos. O mais marcante aconteceu contra o Dynamo Dresden, pela Copa da Alemanha, onde uma cabeça de touro foi lançada no gramado e a partida paralisada. Faixas contra o dinheiro da empresa também são vistas nos estádios. O Leipzig também enfrentou problemas com a Federação Alemã, pois o país segue a regra do ’50+1′, onde os clubes são obrigados a ter 51% do domínio de si mesmos. A Red Bull detém 49% do Leipzig, mas as outras ações são divididas entre acionistas da empresa, burlando a lei.

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Matheus Cunha está no RB Leipzig (Foto: AFP)

RB SALZBURG: TÍTULOS NA ÁUSTRIA

O Salzburg é o maior exemplo de título entre os clubes filiados a Red Bull. Mesmo com investimento menor que o Leipzig, virou a maior potência da Áustria, conquistando nove títulos nas últimas 12 edições do torneio. Além disso, carrega campanhas de destaque na Liga Europa e sonha com uma classificação para a fase de mata-mata da Liga dos Campeões.

Salzburg virou uma espécie de categoria de base do Leipzig, vendendo seus atletas

Mas, diferentemente do companheiro alemão, o clube está acostumado a ser patrocinado e remodelado por uma empresa. Em 1975, passou a ser patrocinado pelo milionário Casinos Áustria. Devido a isso, foi rebatizado como Casino Salzburg e colecionou campanhas de destaque no país. O clube ainda mudaria novamente de nome, desta vez para Wüstenrot Salzburg, ao ser patrocinado por uma empresa de serviços financeiros.

Mas, se as constantes mudanças poderiam virar normais entre os torcedores, não foi o caso após a chegada da Red Bull. Quando a empresa mudou as cores e o escudo do Salzburg, um grupo decidiu protestar e refundar o clube com o nome de Austria Salzburg, que chegou a atuar na terceira divisão do país. Ele carregava o mesmo emblema da equipe antiga. 

Os investimentos do Salzburg não são tão robustos quanto os do Leipzig e a brincadeira sobre “categoria de base” se tornou comum. Para a matriz alemã se desenvolver, a maioria das revelações do clube austríaco foram levados. Casos de Naby Keita, Bernardo, Stefan Ilsanker e Peter Gulácsi, “vendidos” de um Red Bull para outro. A competitividade ficava focada na Alemanha. 

Em 2018, o Salzburg se envolveu em polêmica com a Uefa, onde diversos clubes protestaram contra a sua participação na Champions League. o regulamento da entidade impede que clubes de mesmo dono disputem a mesma edição da competição continental. No final, foi avaliado que não havia infração por parte do clube. 

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RB Salzburg é campeão na Áustria (Foto: AFP) 

NEW YORK RED BULL: HERNY COMO ESTRELA 

O New York Red Bull é um caso diferente do Leipzig ou do Salzburg. A compra aconteceu em 2006, quando a empresa austríaca adquiriu o New York/New Jersey Metrostars, dez anos depois de sua fundação. A ideia era chegar na principal divisão da MLS, liga profissional norte-americana, e colocar uma das cidades-centro do país no ambiente esportivo. 

Thierry Henry foi a grande mudança de status da equipe nos Estados Unidos

Entretanto, os primeiros passos da nova franquia foram bem cautelosos. Inicialmente, respeitaram a história do clube, não alteraram o nome, escudo ou uniformes. Após ter boa aceitação entre os torcedores, a empresa impôs a mudança na imagem, trazendo para mais perto da identidade da Red Bull. Então, foi iniciada a mudança conhecida como “Estilo Beckham” 

– A Red Bull havia originalmente abordado a MLS sobre a criação de um clube de expansão na cidade de Nova York, mas as preocupações com o custo de comprar os direitos territoriais da MetroStars para a região, juntamente com a dificuldade esperada em assegurar um local de estádio na cidade, levaram empresa a comprar o MetroStars e assumir o projeto existente em Harrison, New Jersey – contou o jornalista Roberto Rojas. 

Tudo passou a ser tratado da maneira mais grandiosa possível. A ideia era aumentar a sua popularidade através do marketing esportivo, tornando as partidas de futebol verdadeiros eventos. A inauguração da Red Bull Arena, seu estádio próprio, aconteceu em 2010 e o Santos foi chamado para disputar um amistoso – onde acabou derrotado por 3 a 1. 

O ponto de virada para o clube foi a chegada do atacante francês Thierry Henry, também em 2010, que colocou o clube no cenário mundial. Foram muitos gols, mas faltaram os títulos expressivos para a empresa. A passagem acabou em 2014, com a aposentadoria do atleta e o investimento no clube norte-americano diminuindo gradativamente. 

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Santos x New York Red Bull em 2010 (Foto: Mike Segar)





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