“Tenho pena do ministro de Ciência e Tecnologia”, diz Ronaldo Lemos

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De um apartamento nos Jardins, o mineiro Ronaldo Lemos, 45, tem dado aulas de tecnologia e políticas públicas para uma universidade dos Estados Unidos (Columbia) e outra da China (Tsinghua). Formado e pós-graduado em direito pela USP, um dos principais especialistas do país em inovação voltou a morar em São Paulo no início da pandemia de Covid-19, após dez anos entre o Rio, Nova York e outras metrópoles globais. “Estou feliz, é como voltar para casa”, diz. No segundo semestre, Lemos estreia a quinta temporada de Expresso Futuro, no Canal Futura e no Globoplay.

Você voltou a São Paulo após dez anos. O que mudou na cidade?

São Paulo se apropriou mais do espaço público, o que a aproxima de cidades como Nova York. A Avenida Paulista (aberta ao lazer) é uma grande novidade, assim como o Minhocão. Quando me mudei, o Minhocão era um horror. Agora, virou um respiro na região. São Paulo não fica atrás de Nova York ou Xangai em vida urbana. É uma cidade realmente conectada às redes globais de pensamento, cultura e inovação.

Você já defendeu a ideia de que o futuro seria presenceless (sem presença física). Em artigo recente, porém, diz que o escritório faz falta. Qual é o seu balanço do home office?

Escrevi os artigos sobre o futuro presenceless em um momento em que o Brasil dava certo. Eu acreditava que a gente participaria da economia do conhecimento. Mas os últimos anos têm sido difíceis. A pandemia mostrou o tamanho de nossa desigualdade. No ápice da quarentena, só 12% dos brasileiros usavam o recurso. Os outros não tinham os meios, ou não atuavam na economia do conhecimento. Além disso, a ausência do escritório traz perdas, sim. Quando interagimos pela tela, muitas coisas se perdem.

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Como avalia Marcos Pontes, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações?

Tenho pena do ministro. É um sobrevivente em um governo no qual a ciência é a última preocupação. Se você olhar o orçamento (do ministério), é só corte. Qualquer pesquisador sabe a dificuldade de ter acesso a bolsas ou de manter projetos neste momento. O recente plano nacional de inteligência artificial é um sintoma disso. É muito preocupante que alguém do ministério tenha lido o documento e achado o.k. publicá-lo. Não acho que o ministro seja ignorante ou má pessoa. Tenho pena dele. Se tem boas intenções, está no lugar errado.

Você fez uma rara live com o ator Paulo Gustavo, que não era afeito a essas transmissões. Eram amigos?

Não. Ele me procurou. Um belo dia, recebo no celular (lê no aparelho): “Oi, Ronaldo, sou eu, Paulo Gustavo, tudo bem? Queria falar com você, quando puder. Espero que esteja bem com essa loucura do corona”. Respondi: “Claro, vamos falar”. E ele: “Oi, querido. Quero superfalar, só que já tomei um vinho hoje, estou com o Thales (Bretas) e estamos na terceira garrafa, estou com medo de enrolar a língua, aí é mico, a pessoa fica sem moral para nada, fica humilhada kkk. Melhor amanhã”. (Risos.) Ele fez pouquíssimas lives, costumava recusá-las. Na hora, fiquei nervoso. Nós discutimos a transformação das mídias. Nossa última mensagem foi em 15 de março: “Paulo, toda força para você. O que precisar de apoio no Rio, me fala. Melhoras rápidas”, eu escrevi.

Você foi vítima recente de fake news. Um vídeo editado fazia parecer que discordava do voto eletrônico. Deu para esclarecer a desinformação?

Não. A disparidade dos meios de comunicação é muito grande. Era um vídeo de 2017, que alertava sobre as urnas dos Estados Unidos e pedia testes no Brasil. Eles aconteceram e o sistema é seguro. Estou tentando desmentir, mas as pessoas são maliciosas. Mesmo vendo que o vídeo é falso, continuam a passar adiante, por razões politicas.

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“São Paulo não fica atrás de Nova York ou Xangai em vida urbana. É uma cidade realmente conectada às redes globais de cultura e inovação”

As eleições do ano que vem terão grande influência das fake news?

Sim, o fenômeno ainda está entre nós. Hoje me preocupa o uso massivo de robôs (contas falsas) para dar a impressão de que muita gente está falando sobre um assunto.

Será pior que em 2018?

A verdade é que 2018 nunca terminou. Foi uma campanha que não teve fim — aliás, só tivemos campanha, não tivemos governo. É um governo em que fazer campanha é a atividade central, e talvez a única que ele faça bem-feita. A consequência disso é muito ruim. O debate na internet virou uma ocupação de território. Quem realmente quer construir ideias acaba sem lugar.

Você passou meses na China e ainda dá aulas lá. Vê sentido nas acusações sobre acobertamento da pandemia, ou culpa do laboratório de Wuhan no surgimento do vírus?

Sim, na parte de acobertar a pandemia. Na parte do laboratório, não sei. Mas houve uma correção de rota. Eles não tiveram compromisso com o erro — como o Brasil, que fez tudo errado por muito mais tempo. As autoridades regionais que tentaram acobertar o vírus foram severamente punidas. A postura mudou rapidamente, o país se abriu aos pesquisadores. Decodificaram o código genético do vírus e publicaram on-line, por exemplo, o que ajudou nas vacinas.

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Hoje, muitos jovens conquistam enorme notoriedade ao gravar vídeos de quinze segundos, sem necessariamente ter habilidades ou conhecimentos especiais. Qual será a consequência?

Existe uma ruptura cultural em curso. Estamos deixando para trás tudo o que a gente fez de produção cultural — literatura, cinema, teatro. Surge outra forma de comunicação e expressão, que ainda nem temos as palavras para descrever. Chamo de “a grande ruptura”. No TikTok (rede social de vídeos curtos), o conteúdo em si não importa, apenas mostrar o que é possível fazer com a ferramenta. É uma cultura autorreferencial. O TikTok é uma galeria de estados emocionais, entre os quais predomina a ansiedade. Isso rompe com toda a nossa produção de informação e narrativas.

Qual rede social você já abandonou?

Já tive conta no Vine, no Periscope, no Snapchat… Não uso mais nenhuma dessas redes sociais. Estou no Clubhouse, que está fraco no Brasil. Eu adorava o Orkut (risos).

A Anatel chegou a prever que o 5G operaria em 2022. Vai acontecer?

Parece que não. É uma lástima. O 5G está virando um imbróglio no Brasil. A ideia era que o leilão saísse no primeiro semestre, o que não vai acontecer. Temo que não saia antes das eleições, por razões políticas.

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Publicado em VEJA São Paulo de 21 de julho de 2021, edição nº 2747





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