São Paulo — Há pouco menos de um mês no comando da Via Varejo, Roberto Fulcherberguer assumiu o cargo logo após o empresário Michael Klein ter se tornado o principal acionista da dona da Casas Bahia e do Ponto Frio.
Depois de dois anos de tentativas de venda por parte do Grupo Pão de Açúcar (GPA), controlado pelo gigante francês Casino, Klein retomou, ao lado de fundos de investimento, as rédeas da rede fundada por sua família, em 1957. “A prioridade zero é estabilizar o negócio (que deu prejuízo em 2018)”, disse Fulcherberguer.
Segundo o executivo, algumas mudanças serão sentidas no curto prazo. “Descobrimos um banco de dados de 70 milhões de pessoas que não estava sendo usado, não me pergunte a razão”, afirmou Fulcherberguer. Ele disse também que algumas mudanças vão ser sentidas no site da empresa. “A pessoa tinha de clicar quatro vezes para dizer que não queria garantia estendida de um produto. Estamos mudando isso.”
Em relação à economia, o executivo diz que a reforma da Previdência, aprovada em primeiro turno, “ajuda bastante o Brasil”. “Ela não vai mudar o País da água para o vinho, mas destrava um grande volume de investimento.”
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
O que dá para mudar na Via Varejo no curto prazo?
A prioridade zero é estabilizar o negócio (a empresa deu prejuízo em 2018). Parte desse trabalho é mais fácil, parte é de longo prazo. O cliente tinha de dar três ou quatro cliques para dizer que não queria garantia estendida. Estamos mudando isso, deixando o caminho de venda mais simples. Coisas como essa conseguimos corrigir no curtíssimo prazo. Em paralelo, estamos fazendo planos de médio e longo prazos, de redesenhar todo o negócio.
Por estar à venda há quase dois anos, a Via Varejo ficou meio de lado? Por isso tem tanto a ser feito?
Tem muita coisa a ser feita. Há formas de aproveitar muita coisa já feita e que não estava sendo usada. Por exemplo: descobri que temos um data lake (banco de dados) de 70 milhões de consumidores, sendo 25 milhões ativos. Não me pergunte a razão, mas isso não era usado. O pessoal do marketing já está trabalhando nisso, em buscar uma forma mais simples de nos relacionarmos com o consumidor. Isso já pode tornar a venda mais ágil. Tem muita coisa que ficou na prateleira, até porque a gente teve problema na Black Friday, ficando fora do ar.
O que vai mudar nesse primeiro momento? O online vai ser prioridade?
Tudo acontecerá em paralelo. A gente vê que tem possibilidade de melhoria nas lojas. Fora dos grandes centros, porém, elas não são piores que a média da concorrência, estão iguais. Mas têm oportunidade de melhorar, porque as nossas lojas tradicionalmente eram melhores que as da concorrência. Mas o investimento não vai ser nada desproporcional.
O Magazine Luiza tem 38% das vendas na internet e a Via Varejo, 19%. Essa é a meta a perseguir?
Proporcionalmente, isso é correto, mas tenho o mesmo volume de vendas na web do Magazine Luiza, porque, no geral, faturo R$ 10 bilhões a mais por ano. Mas não vamos crescer a proporção do online a qualquer custo, vamos fazer com o pé no chão. O market place (que agrega outros vendedores à plataforma) vai ter uma seleção criteriosa, para ver se o vendedor tem confiabilidade para usar a minha marca.
A marca Ponto Frio, pode ser desativada?
Estamos estudando todas as possibilidades. Não há nenhuma decisão nesse sentido.
Existe ainda espaço para crescer em lojas físicas?
Estamos bem distribuídos, com mais de mil lojas. Mas ainda cabe expansão no Norte e Nordeste. É um plano que está sendo desenhado.
A reforma da Previdência, ajuda na perspectiva no varejo?
Sem dúvida nenhuma, ajuda a destravar bastante coisa. Ela não vai mudar o País da água para o vinho, mas destrava um grande volume de investimento. Esperamos que logo venham também outras coisas, como a reforma tributária.
E o marketing, vai mudar?
Vamos remodelar completamente o marketing. Também o relacionamento com fornecedores está resgatando o modelo de parceria de longo prazo. Tem muita coisa sendo mexida, e muito a mudar. Faremos grandes melhorias.