São Paulo – “Você tem inglês fluente?” é uma das perguntas mais comuns em processos seletivos, mesmo que o domínio pleno do idioma não seja uma necessidade imediata para a vaga em questão. Para especialistas em direitos humanos e gestão de empresas que participam hoje do Exame Fórum de Diversidade, em São Paulo, esse tipo de postura acaba dificultando que as companhias capturem talentos essenciais às necessidades de seu negócio.
“É preciso que os contratadores se perguntem se uma característica curricular é de fato a mais importante naquele momento ”, afirma Regina Madalozzo, professora e pesquisadora do Insper, de São Paulo. “Isso não significa que você está fazendo caridade e contratando um profissional pior, mas que está contratando alguém diferente, que só não teve acesso a determinadas oportunidades, mas que pode ter outras habilidades tão importantes quanto falar inglês”, diz.
Para Thiago de Souza Amparo, professor de discriminação e diversidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, os termos comuns ao debate sobre diversidade, inclusão e equidade no mundo corporativo estão mudando. A discussão, antes restrita à esfera dos direitos humanos, agora toca o tema da produtividade – e do lucro. “Empresas mais diversas dão mais espaço ao conflito de ideias, e isso é fundamental para gerar mais inovação e mais lucro”, diz.
Não é tarefa fácil montar um time diverso nas empresas. Uma das razões: muitos círculos profissionais tendem a funcionar como bolhas, onde quem já está dentro das empresas indica ou traz pessoas de perfis muito semelhantes para integrar seus times. De acordo com Amparo, da FGV, “o talento é igualmente distribuído na sociedade, mas o acesso a direitos básicos, como educação de qualidade, não” – e o pressuposto de que as pessoas precisam chegar às companhias a partir de um mesmo ponto de partida na vida só restringe as chances que os negócios têm de crescer num mundo em profunda transformação.
Um Brasil, vários Brasis
O desenvolvimento das práticas de promoção da diversidade nas empresas avança, mas é importante localizar esses avanços: boa parte deles ocorre em empresas de grande porte cujas sedes estão no sudeste no país, majoritariamente em São Paulo. O desequilíbrio, no entanto, também pode ser ponto de partida de impacto positivo. “Elas podem ser indutoras de mudanças efetivas na sociedade ao influenciar as práticas de seus fornecedores, que estão no Brasil inteiro”, afirma Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, que reúne empresas de diversos setores em torno do tema da responsabilidade socioambiental corporativa.
Para os debatedores do EXAME Fórum, as maiores empresas do país também podem ser fonte de indução de políticas públicas, já que o tema ainda tem um longo caminho a percorrer na esfera dos governos. Hoje, menos de 4% dos estabelecimentos públicos de todo o país não têm rampa de acesso a pessoas com cadeiras de roda, por exemplo. “As empresas podem e devem interferir nessa realidade que assola, principalmente, os municípios do interior do país, e faz com que muita gente tenha uma barreira física e simbólica de acesso a informações e direitos”, afirma Thais Dumêt, oficial técnica em princípios e direitos fundamentais no trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
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