No número 43 da Rua dos Gusmões, no perímetro do fluxo da antiga Cracolândia, onze contêineres abrigam programação musical e teatral diária sob a direção da Companhia Mungunzá de Teatro e são endereço do coletivo Tem Sentimento, que acolhe mulheres cis e trans em situação de vulnerabilidade social. Mesmo operante, o Teatro de Contêiner, assim como endereços na região dos Campos Elíseos e da Santa Efigênia, recebeu em 28 de maio uma ordem extrajudicial da Prefeitura de São Paulo para a desocupação, em até quinze dias, do terreno municipal onde será construído um hub de moradia social.
A notificação foi realizada quinze dias após o desaparecimento do fluxo de usuários e de pessoas em situação de rua que ocupavam as áreas das ruas dos Gusmões, dos Protestantes, Mauá e General Couto de Magalhães. “Protocolamos um pedido de cessão do terreno e vamos protocolar a resposta ao ofício de despejo. Estamos também articulando com deputados e vereadores de vários partidos, porque é uma pauta suprapartidária”, afirma Marcos Felipe, artista e representante da Companhia Mungunzá de Teatro, que tem sede no Teatro de Contêiner e participou na terça-feira (3) de uma reunião com os secretários Totó Parente, da Cultura, e Edsom Ortega, de Projetos Estratégicos, e com o subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles.
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No encontro, a gestão apresentou uma sede alternativa para o equipamento cultural na Rua Conselheiro Furtado, 150, na Liberdade, não aceita pelos representantes do espaço. Procurada pela reportagem, a prefeitura enviou uma nota oficial na qual afirma “promover desde o ano passado reuniões com as lideranças do teatro, a área será destinada a atendimento de famílias cadastradas em serviços municipais e moradores da região no âmbito das ações integradas que vêm recuperando toda a região central da cidade”.
Responsável pelo coletivo incubado desde 2018 no Contêiner, o Tem Sentimento — que oferece oficinas de costura, bordado, crochê e outras atividades artesanais para a geração de renda de mulheres —, Carmen Lopes indica a importância da permanência da iniciativa. “As meninas que atendemos acompanho desde 2013. Eu conheço as pessoas do entorno. Nesse espaço, que tem ar livre e é aberto para o fluxo, elas conseguem aprender ferramentas para autonomia financeira”, garan te a ex-assistente social. O coletivo, que atende 75 mulheres, foi o primeiro a receber uma indicação de despejo pela Secretaria de Direitos Humanos, que em abril apresentou um outro local para sediá-lo: uma sala em um prédio na Rua Maria Borba, na Consolação. Essa mudança também foi negada pela entidade.
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“Esse projeto de revitalização da área central elimina um território popular e vulnerável, assim como a rede de equipamentos e serviços que dão suporte a essa população. Os cortiços das quadras 36 a 38 nos Campos Elíseos foram desapropriados e agora a saída do Teatro de Contêiner também está inserida nesse processo, supostamente em nome da habitação de interesse social”, diz a urbanista Raquel Rolnik, integrante de um levantamento realizado em 2018 com o Fórum Aberto Mundaréu da Luz, que mapeou 5 000 endereços desapropriados e ociosos na região.
A situação gerou uma reação da classe artística, que defende a importância do teatro e da companhia, ganhadora de prêmios como o Shell e o APCA, além de ter circulado com peças em Portugal e participado do International Theatre Engineering & Architecture Conference (ITEAC) em 2023, evento em Londres que destaca projetos em espaços de atuação e produção artística em áreas vulneráveis. No último dia 3, mais de quarenta teatros e espaços culturais paulistanos assinaram uma carta pela manutenção do Contêiner. Entre os signatários estão o Oficina, o Itália, o J. Safra e o Bibi Ferreira. Com prazo de desocupação para o próximo dia 10, o Contêiner segue com a agenda prevista até dezembro, enquanto luta pela sua permanência.
Publicado em VEJA São Paulo de 6 de junho de 2025, edição nº 2947
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