A necessidade de uma matriz energética global mais limpa torna-se cada vez mais urgente para reduzir as emissões de CO2. Para Mark Zoback, docente de geofísica da Universidade Stanford, na Califórnia (EUA), membro sênior do Instituto de Pesquisas Energéticas da instituição e professor do curso “Passado, Presente e Futuro dos Combustíveis Fósseis”, a transição do carvão, petróleo e gás natural para energias renováveis é fundamental nesta dinâmica, mas deve levar pelo menos duas décadas para acontecer.
Segundo o pesquisador, ninguém pode afirmar, de forma séria, que a transição total do petróleo para energias mais limpas ocorrerá em dez anos. “Não é possível nem desejável”, diz.
A economia global está mais próxima de cortar a dependência dos combustíveis fósseis?
Não estamos muito próximos, não. O sistema de transportes é quase completamente dependente dos combustíveis fósseis. Os veículos elétricos estão chegando, mas sua penetração é extremamente baixa no mundo, especialmente nos países em desenvolvimento.
Quando o consumo de petróleo vai começar a cair?
Na medida em que as economias crescem, principalmente nos países em desenvolvimento, elas precisam de mais energia. De onde virá essa energia? Ao menos pelos próximos 20 anos, o consumo de recursos como carvão, por exemplo, não vai mudar tanto assim. Por outro lado, a demanda por gás natural e renováveis, como solar e eólica, vai crescer consideravelmente.
Até quando o petróleo vai ser um negócio rentável?
Ao longo dos próximos anos, vamos usar menos combustíveis fósseis porque precisamos reduzir as emissões de CO2. Mas não podemos fingir que o mundo vai parar de usar petróleo do dia para noite. É necessário garantir a segurança da oferta de energia para manter o crescimento global. Ninguém pode afirmar, de forma séria, que a transição total do petróleo para energias mais limpas ocorrerá em dez anos, não é possível nem desejável. Haveria um custo incalculável para a sociedade.
Do lado da oferta, os conflitos no Oriente Médio afetam, em alguma medida, a indústria petrolífera?
Os membros da Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] já não têm o mesmo controle sobre os preços como tinham na década de 1970, embora o Oriente Médio ainda seja muito importante na dinâmica global. Mas os Estados Unidos, um dos maiores consumidores da commodity no mundo, se tornaram autossuficientes em petróleo com o shale gas. Os ataques às instalações petrolíferas na Arábia Saudita, no mês passado, são a prova da diminuição do protagonismo absoluto do Oriente médio no setor: os preços subiram imediatamente após o atentado, mas logo em seguida houve uma acomodação diante da recuperação da capacidade de oferta da estatal Saudi Aramco. É difícil prever o que vai acontecer na geopolítica, mas o que temos certeza é que não vai faltar petróleo no mundo. Por outro lado, também sabemos que, em algum momento, precisaremos parar de usar os combustíveis fósseis, especialmente o carvão, e substituí-los por energias mais limpas. Enquanto isso não acontecer, haverá poços sendo perfurados.
Mas a transição já está acontecendo aos poucos?
Na Califórnia, por exemplo, a eletricidade vem majoritariamente do gás natural, de alguma fonte hidrelétrica e temos uma planta de energia nuclear. Somos a quinta maior economia do mundo e, como olhamos muito para o futuro, as energias renováveis estão crescendo rapidamente por aqui. Mas a eletricidade representa apenas 16% das emissões de CO2 do estado. Então, mesmo se fosse possível transformar 100% da nossa geração de eletricidade para solar ou eólica, resolveríamos apenas 16% do problema. E o mais desafiador: não teríamos backups (reservas). O que aconteceria à noite, quando o sol se põe, ou quando os ventos não estiverem a todo vapor? A ideia de 100% da eletricidade proveniente de uma fonte limpa é possível, mas não é desejável se não há um backup confiável. Mesmo se houvesse, resolveríamos menos de um quinto do problema.
A mancha de óleo no Nordeste brasileiro nos lembrou que petróleo polui. Como prevenir ou mitigar danos ambientais?
É necessário uma regulação forte e punição severa, se necessário. A indústria precisa ser altamente diligente e admitir que acidentes acontecem. Processos industriais em geral têm seus riscos. Nós precisamos aprender com esses erros e tentar evitar que eles ocorram novamente.
Como o senhor vê o Brasil na indústria global do petróleo?
O Brasil está bem posicionado, porque suas reservas são enormes. O grande desafio será desenvolver toda essa indústria de forma responsável, considerando que em 20 ou 30 anos, o consumo de combustíveis fósseis vai começar a cair e o país não poderá ser tão dependente dos hidrocarbonetos.
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