O inventor austro-húngaro Nikola Tesla (1856-1943) é para muitos o gênio mais subestimado do mundo da ciência. Viveu às sombras do empresário Thomas Edison (1847-1931), seu principal rival, mas hoje é tido como um dos principais engenheiros futuristas da história, tendo sido capaz de prever em seus estudos a invenção de smartphones, drones, Wi-Fi e até helicópteros autônomos. Chegou a virar personagem de filme hollywoodiano. O cientista foi interpretado em O Grande Truque, longa dirigido por Christopher Nolan, por ninguém menos que David Bowie, outra lenda, só que do campo artístico. Atualmente, seu nome virou alvo de uma disputa peculiar no setor automobilístico. A startup Nikola Motor Company, fundada em 2015, e a Tesla, de Elon Musk, além de competirem no mesmo segmento, o de automóveis elétricos, e dividirem nome e sobrenome do cientista, brigam na Justiça. A Tesla foi acusada pela Nikola por supostamente ter roubado o design de seu caminhão elétrico Tesla Semi. Para ir além da briga judicial, a Nikola Motor agora quer tomar o espaço da Tesla no coração dos investidores americanos. A fabricante de veículos movidos a bateria e hidrogênio acabara de lançar suas ações na Nasdaq e, mesmo sem nunca ter vendido um carro, já acumula um valor de mercado estimado em mais de 25 bilhões de dólares, maior que gigantes tradicionais como Ford e Fiat Chrysler.
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Para romper com o clube das tradicionais montadoras e começar a ditar o futuro do automobilismo, a novata aposta no hidrogênio como elemento propulsor. A startup tem planos de produzir, num futuro próximo, caminhões e picapes movidos a bateria elétrica e a células de combustível de hidrogênio verde. A ideia é desenvolver e alavancar o emprego do hidrogênio como combustível, revendendo-o em redes de abastecimento disponibilizadas pela própria empresa. Elon Musk rechaça a ideia de usar o elemento químico como propulsor de automóveis e disse, em 2013, que o emprego do hidrogênio cairia bem em “foguetes, não em carros”. Não se sabe se as palavras de Musk são apenas um disparate ou se o empresário multibilionário, dono também da SpaceX, teria razão. Entretanto, ao apresentar a nova alternativa, a Nikola Motor, além de competir com outras fabricantes do setor automotivo, também aparece no retrovisor de gigantes do mundo da combustão como Shell, Chevron e ExxonMobil. Com seu posicionamento eco-friendly, tornou-se a empresa do momento no mercado de ações e já conta com mais de 130.000 investidores na Nasdaq — atrás somente da Netflix. Por trás desses números, é possível encontrar nomes de fundos de impactos como o ValueAct Spring Fund e a Fidelity. Ambos colocaram 700 milhões de dólares na companhia em sua oferta pública inicial de ações.
Com tantos investidores ávidos, espera-se que a empresa, enfim, saia do desenho de protótipos e dê tração ao seu plano de desenvolvimento. O pontapé inicial da marca será a picape Nikola Badger, que, segundo Trevor Milton, fundador e presidente da startup, chega para rivalizar com a Tesla Cybertruck. O modelo promete, por exemplo, autonomia de até 600 milhas (quase 1.000 km) com o tanque de hidrogênio cheio — a versão movida a bateria vai rodar apenas metade disso. Em ambas as versões, a potência estimada é de 900 cv, com aceleração de 0 a 100 km/h em impressionantes 2,9 segundos, mais rápida que a Cybertruck, da rival. As primeiras imagens reais do projeto foram divulgadas nesta segunda-feira, 29, nas cores prata e azul. A divulgação, realizada por meio da conta de Milton no Twitter, foi um chamamento para o evento Nikola World 2020, onde os carros estarão expostos ao público. Cada ingresso custa nada menos que 5.000 dólares (algo em torno de 28.000 reais com a cotação atual). A companhia pretende anunciar uma parceria com um fabricante em breve para produzir os primeiros veículos antes de dezembro, data oficial do festival. No site da empresa já é possível realizar reservas tanto para a picape tal como para um modelo de jet ski movido a eletricidade. Com os anúncios, os papéis da Nikola Motor dispararam mais de 7% na bolsa de valores.
Fundador e presidente da startup, o americano Trevor Milton tem uma trajetória de vida insólita. Nascido e criado em Utah, fundou a Nikola aos 29 anos de idade, depois de conversar com diversos caminhoneiros nos campos de petróleo de Dakota do Norte. Lançou cinco projetos antes de ser bem-sucedido com a fabricante de veículos movidos a hidrogênio. Dois deles fracassaram. “Perdi tudo o que tinha duas vezes”, disse ele à CNBC, no início de junho, quando sua empresa realizou a abertura de capital na Nasdaq. “Não conheço ninguém que criou cinco empresas e perdeu duas na minha idade”. Sua primeira empreitada foi uma empresa de alarme e vigilância, em 2003. Hoje, bilionário, provoca seus rivais nas redes sociais. “Atenção aos titulares de reservas: Ao contrário de nossos concorrentes, não usamos seu dinheiro para financiar nosso desenvolvimento”, disse Trevor Milton, no último domingo 28. Enquanto lida com a esperança de revolucionar o mercado, o empreendedor tem de lidar com críticos que focam na distância que separa um plano de negócios ambicioso dos inúmeros desafios de execução. O futuro dirá se Trevor Milton, assim como o engenheiro e inventor Nikola Tesla, estava certo.
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