Como a maioria dos novos prédios de Nova York, o inusitado edifício piramidal no extremo oeste da Rua 57, em Manhattan, tem todos os seus 709 apartamentos para locação. Vinte e cinco por cento deles são reservados para “aluguel acessível”, com mensalidades que chegam a menos de um terço do valor de mercado. Como isso acontece? A prefeitura oferece dedução de impostos ou até permite ao incorporador construir mais metros quadrados no terreno desde que pelo menos 15% das unidades sejam destinadas a esse tipo de locação social. Elas são sorteadas em uma loteria entre os nova-iorquinos cadastrados pelo governo (a seleção é feita de acordo com a renda dos candidatos).
Isso serve como política urbana e social: ao colocar a classe média em enclaves de muito ricos, ou permitir a pobres morar em edifícios de classe média, a cidade reduz a segregação, evitando os guetos dos antigos conjuntos habitacionais, que dependiam da parca manutenção realizada pela prefeitura. O Brasil conhece bem o resultado desses guetos afastados (vide Cidade de Deus). Melhor ainda, essas famílias e seus filhos ficam perto da maioria dos empregos, em áreas com escolas e postos de saúde com mais qualidade que os da periferia. Diminui-se também a necessidade de viagens longas, facilitando a mobilidade de todos.
Voltando à pirâmide da Rua 57, ela conta com um grande pátio interno, verde, que imita o Central Park, gracinha do arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels — por essa abertura central, várias unidades internas também são banhadas de luz. Há cinemas e restaurantes no térreo. A legislação nova-iorquina permite que nesse quarteirão a área construída tenha até dez vezes o tamanho do terreno. Pela legislação de São Paulo, um espaço igual comportaria um prédio muito menor, com menos unidades. Em Moema ou no Itaim, seriam necessários vários outros edifícios para abrigar a mesma população. Assim, a cidade cresce para os lados, e não para cima, com os efeitos conhecidos do espraiamento da Pauliceia.
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O arquiteto Bjarke Ingels, autor do prédio piramidal, encontrou-se com o presidente Jair Bolsonaro para discutir projetos turísticos no Nordeste. Vários arquitetos brasileiros foram às redes sociais chamá-lo de fascista e oportunista. Estranho escândalo: há um longo histórico de projetistas que cortejaram aqueles no poder. Inclusive ditadores de fato, não os eleitos pelo voto. O ditador Houari Boumedienne espalhou obras de Oscar Niemeyer pela Argélia, e nomões como Zaha Hadid e Norman Foster toparam projetos milionários do Cazaquistão ao Catar. Seria pior se eles se negassem e outros com menos talento ganhassem essas obras?
A polêmica, porém, é útil para demonstrar a articulação dos grandes escritórios de arquitetura na hora de correr atrás de encomendas. É comum contratarem consultores em relações governamentais, lobistas, assessores de comunicação ou se apoiarem na diplomacia dos seus países. Eles abraçam projetos e fazem campanhas. Bjarke Ingels não cavou uma audiência no Planalto graças ao gosto de Bolsonaro por design. No Brasil, desde associações de advogados até as de cineastas têm políticas claras para influenciar a legislação e tirar ambições da gaveta. Não há nada parecido entre os arquitetos locais, que ainda ficam de chororô quando alguém “de fora” faz o que eles não sabem fazer. Se o marqueteiro Bjarke Ingels fosse brasileiro, provavelmente teria arranjado, na década passada, um encontro com as autoridades responsáveis pela Copa, pela Olimpíada e afins para avançar a sua agenda. Algo que ficou faltando, e ainda falta, por aqui.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 5 de fevereiro de 2020, edição nº 2672.
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