Sócio da Natura briga com Lindt e Cacau Show com chocolate de R$10 a R$300

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Coronéis, romances e cenários em fazenda de cacau: elementos da obra do escritor baiano Jorge Amado vêm fazendo há décadas os cenários do sul da Bahia gravarem presença no imaginário brasileiro. Mas um movimento de chocolate de alta qualidade produzido na região quer fazer Ilhéus e seus arredores serem lembrados não só pelo glamour da literatura do século passado e por passeios turísticos, mas pelo cacau do presente.

Um dos expoentes desse movimento é a Dengo, fabricante de chocolates 100% brasileiros e co-criada por Guilherme Leal, sócio-fundador e copresidente do conselho de administração da Natura. O nome bem brasileiro — o termo “dengo”, na Bahia, é usado para simbolizar carinho, amor e cuidado — reflete a origem da empresa, que teve a semente plantada quando Leal comprou uma propriedade no sul da Bahia e passou a conhecer melhor a região.

O objetivo inicial era não fazer negócio por lá, e somente encontrar formas de melhorar a economia local. No fim, o executivo foi convencido anos depois pelo ex-funcionário Estevan Sartoreli, que havia passado 12 anos na Natura, a levar adiante o projeto do que hoje é a Dengo.

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Ao lado de Leal, Sartoreli é um dos sócios da empresa e presidente da rede de lojas de chocolate, em um empreedimento que vende chocolate de alta qualidade usando matéria prima de produtores parceiros da Bahia — e que são pagos, segundo a empresa, 70% a mais do que a média do mercado. No fim, é inevitável notar semelhanças com a Natura, como a preocupação com sustentabilidade e a cadeia.

Com essa ideia em mente, a Dengo chega a sua segunda Páscoa com nove lojas no Brasil e 136 produtores de cacau parceiros. Sartoreli, que recebeu a Exame em uma das unidades da Dengo, no Shopping Eldorado, em São Paulo, classifica o empreendimento como um negócio de impacto social, nascido com o objetivo de gerar renda para os produtores da região. Mas que deve ser tratado como um negócio como qualquer outro. “Se fossemos fazer estudo de mercado, não faríamos nada”, brinca. “No fim do dia, tem que ter negócio. Ninguém vai comprar chocolate porque somos ‘a marca do bem’. Vão comprar porque é bom”, diz.

De pequenas barras de chocolate de cinco reais a um dos ovos mais caros desta Páscoa, recheado com vinho de cacau e que passa de 300 reais, a Dengo mira nas classes A e B, mas diz que quer que todos consigam comprar nas lojas. O intuito é fazer frente a marcas estrangeiras vistas como “premium” pelo consumidor brasileiro, como Lindt e Kopenhagen (também dona da Brasil Cacau), além da também brasileira Cacau Show.

O preço do quilo dos chocolates da Dengo é de cerca de 200 reais, mas na loja é possível comprar produtos mais modestos, como uma barra de 80 gramas por cerca de 20 reais. Há ovos de páscoa por cerca de 50 reais, mas também ovos que passam dos 100 reais. Sartoreli afirma que o ovo mais caro da Páscoa é um ponto fora da curva, e que 80% do faturamento vem desses produtos voltados para a classe média, por menos de 100 reais. “Esse ovo de mais de 300 reais é só para mostrar tudo do que o cacau brasileiro é capaz. Mas também queremos produtos acessíveis, que todo mundo possa consumir”, diz o presidente. A empresa também vende cafés, como forma de aumentar o movimento das lojas.

Sartoreli afirma que a Dengo quer participar da discussão para aumentar a qualidade do cacau brasileiro como um todo. O Brasil está entre os cinco maiores produtores de cacau do mundo, atrás de países da África. Ainda assim, a qualidade do cacau produzido aqui ainda é vista como baixa, tanto internamente quanto no mundo.

Depois que o cacau chega dos produtores baianos, os chocolates da Dengo são feitos em uma fábrica da empresa em São Paulo. Cada produtor parceiro é, de certa forma, especializado em um tipo de cacau, com teor diferente. Cacau plantado ao lado de uma mangueira, por exemplo, pode trazer naturalmente traços da fruta. E a empresa usa isso a seu favor: há chocolates com traços de manga, tangerina, banana e jabuticaba, entre outras frutas brasileiras.

Nas embalagens das barras, é possível conhecer a história de cada produtor, tratados pelo nome. Isso quando há embalagem: na onda da preocupação com a sustentabilidade, a Dengo já vende mais de 70% de seus chocolates “a granel”, isto é, cortados e vendidos sem embalagem. Uma das estrelas da loja — para a surpresa de todos, conta Sartoreli — são as pepitas, uma espécie de amêndoa torrada e coberta com pó de cacau que é rica em antioxidantes e outros nutrientes. “Por que precisamos trazer uma amêndoa europeia se podemos fazer coisas deliciosas com o que temos aqui?”, questiona o presidente.

A pegada brasileira e quase artesanal da Dengo vai ao encontro de uma tendência já vista no mercado de alimentação como um todo, com consumidores cada vez mais preocupados com a qualidade e procedência do que consomem. Em um levantamento realizado nos 45 dias que antecederam a Páscoa pela empresa de monitoramento em inteligência artificial Stilingue, comerciantes locais e microempreendedores tiveram destaque nos pedidos e encomendas online. A empresa analisou 386 mil menções em Facebook, Twitter e Instagram, além de blogs, sites de notícias e comentários, e notou que os pequenos empreendedores ou tutoriais para fazer o próprio ovo representaram 18% do volume coletado no período — com mais de 60% das postagens vindas de mulheres.

“Se há dez anos você falasse que tem um ovo com lascas de banana, o consumidor médio possivelmente acharia estranho. Hoje, mesmo as pessoas de renda mais baixa estão dispostas a experimentar novos sabores e produtos de maior qualidade”, analisa Cristina Souza, diretora-executiva da consultoria GS&Libbra e especializada em Food Service. “Nem que seja para comprar uma barrinha em vez daquele ovo mais caro”, completa.

O mercado de chocolates no Brasil movimenta cerca de 13,3 bilhões de reais, segundo dados de 2018 da consultoria Euromonitor — com crescimento de 10% desde 2013. A líder nacional é a Lacta, da norte-americana Mondelez International (com 18% do mercado), seguida pela Cacau Show (9,9%) e a Garoto, da Nestlé (9,6%). Marcas estrangeiras como Lindt e Kopenhagen não estão nem entre as cinco primeiras.

Mas a Dengo, por ora, não tem pretensões de ser tão grande quanto a Cacau Show ou as rivais mais baratas. Há o plano de abrir novas lojas ainda em 2019, mas sem franquias e sem um projeto para expandir freneticamente — pelo menos por enquanto, afirma Sartoreli. Das nove unidades da Dengo, a maioria está em shoppings de alta renda da capital paulista. Há ainda duas no Rio de Janeiro e uma em Campinas (SP), todas próprias.

Aos poucos, Sartoreli quer que a classe média brasileira, em vez de gastar uma centena de reais nas amêndoas suíças da Lindt, aposte nas bolinhas de pepita com pó de cacau da Bahia.





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