Integrantes da força-tarefa da Lava-Jato do Peru chegam ao Brasil na próxima semana para uma nova rodada de interrogatórios dos ex-diretores do grupo Odebrecht, protagonista do maior caso de corrupção corporativa na América Latina em parceria com outras empresas.
É parte da rotina de investigação para preencher lacunas deixadas pelos executivos em audiências anteriores sobre pagamentos de subornos a servidores e políticos.
O Peru procura respostas sobre o desvio de US$ 3,5 bilhões, subtraídos via sobrepreços, na execução de obras públicas na última década e meia.
Inquéritos em andamento levantaram suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro sobre os quatro últimos presidentes: Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (1985-1990 e 2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018).
A tragédia de García, que anteontem cometeu suicídio ao receber ordem de prisão, amplifica o drama peruano, com os principais líderes políticos acossados pela Justiça.
Toledo enfrenta um pedido de extradição nos Estados Unidos, onde se refugiou. Humala e a ex-primeira-dama Nadine Heredia já foram sentenciados e presos. Kuczynski tem prisão preventiva solicitada por 36 meses. E a principal líder oposicionista, Keiko Fujimori, está presa há cinco meses.
Manobras para um “acordão”, com o objetivo de desmanche de investigações, entre as cúpulas dos maiores partidos, do Judiciário e do Ministério Público, foram reveladas e repudiadas nas ruas das maiores cidades peruanas no fim do ano passado. As manifestações levaram à queda de Pedro Chávarry, à época magistrado-chefe da força-tarefa encarregada de apurar a corrupção. E deram origem a um sucedâneo da Lava-Jato, que os peruanos chamam de Lava-Juiz (“Lava-Juez”).
No Peru, como no Brasil, a sociedade já não aceita passivamente manobras, “pizzas” ou artifícios para preservação do estado de corrupção sistêmica.
Lá, como aqui, evidencia-se o esgotamento do longo ciclo de tolerância a abusos de poder e favorecimentos que desequilibram a competição empresarial, oneram orçamentos e estimulam a ineficiência estatal. E aqui, como lá, as empresas privadas parecem mais maleáveis à adaptação às novas regras do jogo, adotando métodos mais rígidos de controle interno.
Nos dois países, entretanto, percebe-se que Executivo, Legislativo e Judiciário permanecem estáticos, ainda distanciados do padrão de mudanças requerido pela sociedade.