Sinta-se em casa – Como o family day aumenta o engajamento no trabalho

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Todo mundo já ouviu uma criança perguntando o que o pai ou a mãe fazem no trabalho. A curiosidade, no entanto, não é apenas infantil. Num mundo em que novas atribuições e profissões surgem com alta velocidade, cônjuges, pais e avós nem sempre sabem exatamente o que seus entes queridos fazem para sobreviver — ou o que produzem as empresas em que eles trabalham.

Essa incompreensão pode afastar os familiares dos desafios de carreira de seus parentes, o que é ruim para a qualidade de vida e o engajamento. “Há uma tendência em integrar vida profissional e pessoal. As empresas estão fazendo esse esforço de aproximação para que os funcionários trabalhem mais felizes”, afirma Jacqueline Resch, sócia da Resch RH, consultoria de desenvolvimento.

Com isso em mente, muitas organizações abrem suas portas para as famílias dos empregados. Os nomes da iniciativa variam — Family Day, Um Dia na Empresa, Conheça a Empresa —, mas o espírito é sempre o mesmo: apresentar a companhia, motivar as equipes e harmonizar a relação pessoal e profissional.

“As empresas estão preocupadas com um desenvolvimento integral das pessoas e algumas trabalham para que os funcionários se sintam tão bem e relaxados como se estivessem em casa”, diz Juliana Nascimento, diretora de RH no Grupo Cia de Talentos.

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Reabrindo as portas

Mesmo quando a corporação está enfrentando momentos desafiadores, é importante manter ações desse tipo — elas ajudam a melhorar a felicidade da força de trabalho. Isso foi percebido pela Alstom, multinacional francesa conhecida pela fabricação de trens.

A companhia tinha paralisado as ações em 2016 por causa da crise econômica. “Realizávamos anualmente esse encontro e o relançamos no fim de janeiro nas duas unidades da empresa no Brasil, em São Paulo e Taubaté”, diz Gustavo Almeida, vice-presidente de RH da Alstom para a América Latina. 

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O programa, chamado Um Dia na Alstom, acontece durante uma manhã, tem 4 horas de duração e é voltado para os filhos dos empregados — por isso, costuma ocorrer nos meses de férias escolares: janeiro e julho. As palestras sobre a empresa são adaptadas à idade do público.

Há ainda tour pelas plantas e pausa para alimentação. Neste ano, a novidade é o “Bequinho do Batman” (em alusão ao Beco do Batman, tradicional ponto de grafite da capital paulista), onde as crianças poderão pintar as paredes.

“Os desenhos serão mantidos na decoração, pois queremos reforçar o sentimento de pertencimento dos pais e dos filhos”, explica Gustavo.

Integração total

Também com o intuito de se aproximar das famílias, o Mercado Livre mantém há alguns anos a ação Kids Day, voltada para filhos ou sobrinhos de funcionários.

Com atividades lúdicas definidas por faixa etária (podem participar crianças de 1 a 17 anos), os pequenos visitantes passam o dia acompanhados pelos pais e participam de recreações com profissionais contratados pela empresa.

Há desde brincadeiras de coordenação motora para os menores até jogos digitais para os maiores.

“Faz parte de nossa visão estratégica ter uma gestão que contribua para a felicidade profissional e pessoal dos funcionários”, diz Carolina Lima, gerente de cultura e experiência do Mercado Livre.

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Carolina Lima, gerente de cultura e experiência do Mercado Livre: além de atividades para famílias, a empresa oferece estágio de férias a filhos e irmãos dos empregados | Germano Lüders

E essa aproximação não se dá apenas em eventos festivos. Por meio do programa Minha Primeira Experiência, o Mercado Livre recruta irmãos ou filhos de empregados que tenham de 15 a 18 anos e estejam interessados em fazer um estágio de um mês na companhia — durante as férias escolares.

Eles ficam alocados no setor de atendimento ao cliente e recebem auxílio para lidar com burocracias do mundo adulto, como emitir carteira de trabalho, tirar o CPF e regularizar o certificado de reservista. “Eles aprendem como a empresa funciona. A experiência aumenta o orgulho dos jovens e de seus familiares”, diz Carolina.

A gerente garante ainda que o Mercado Livre deve ampliar as vagas para o projeto — hoje, o programa recebe, no máximo, 12 pessoas.

Via de mão dupla

Além das ações envolvendo crianças e adolescentes, há um cardápio amplo de experiências que as organizações podem oferecer. Uma maneira simples e efetiva de demonstrar apreço pela vida pessoal é o reconhecimento público.

Se uma equipe extrapolou o horário regular de trabalho para se dedicar a um projeto importante e passou alguns dias chegando mais tarde em casa, uma boa medida é enviar uma carta de agradecimento aos parentes pelo apoio e compreensão nesse período.

“Pode ser acompanhada de um presentinho, como chocolates ou cesta de pães. É uma atitude respeitosa. A companhia entende que a família foi penalizada e reconhece esse esforço”, diz a consultora Jacqueline Resch.

O mesmo vale para quando o profissional passa por uma fase importante na carreira, como se aposentar ou ser promovido, e recebe uma homenagem na empresa, assistindo a um vídeo gravado pelos entes queridos parabenizando-o pela conquista.

Com esses cuidados, as empresas demonstram que sabem que a vida é uma só — e que todas as esferas precisam ser bem cuidadas.

Manual de instruções

Os cuidados que devem ser tomados nas interações entre família e trabalho

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Getty Images

Os funcionários nunca devem se sentir coagidos a participar de eventos desse tipo — precisa ser algo voluntário. Por isso, o convite deve partir do RH ou de outros colegas, nunca da liderança direta.

Cuidado redobrado com as crianças. Os pequenos são curiosos e imprevisíveis,  e é preciso evitar que eles entrem em espaços potencialmente perigosos.

Precaução nunca é demais. Se a empresa não dispor de um ambulatório ou de um profissional da saúde de prontidão, é recomendável contratar enfermeiros ou médicos para eventuais primeiros socorros.

Fuja do óbvio. Eventos corporativos familiares não devem se restringir às crianças. Se a maior parte dos funcionários é jovem e sem filhos, por que não realizar um evento para os pais ou avós?

É imprescindível usar os canais internos para comunicar a todos a realização dos eventos. Há casos de companhias que avisaram somente os funcionários que participariam e os demais foram surpreendidos com a presença de crianças no ambiente de trabalho.

Não existe apenas um tipo de família. Funcionários LGBT+ precisam ter segurança de que seus filhos e companheiros se sentirão à vontade nos eventos corporativos.



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