Ser juiz é ser dono do Brasil?, diz hacker da Lava Jato sobre Moro

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São Paulo — Walter Delgatti Neto, o hacker que acessou conteúdo de aplicativos de mensagens de autoridades, questionou a atuação do ministro da Justiça, Sergio Moro, quando era juiz da Operação Lava Jato em Curitiba. “O sr. Sergio Moro tudo pode? Ser juiz é ser dono do Brasil? Quem controla e limita as suas ações e as consequências que impõem a indivíduos e à sociedade brasileira?”, afirmou Delgatti Neto em entrevista à Folha de S.Paulo, feita por escrito com intermédio de seus advogados.

O hacker está detido no presídio da Papuda, em Brasília, e confessou à Polícia Federal ter acessado as contas do Telegram de procuradores e do juiz da Lava Jato. Delgatti Neto afirmou que as informações obtidas por ele são de interesse público. “Em algum momento, a sociedade reconhecerá que a minha contribuição foi legal e defendeu valores importantes para a nossa democracia”, disse.

Ele é uma das quatro pessoas presas em julho por hackear contas de autoridades e entregar o conteúdo ao site The Intercept Brasil, que passou a publicar reportagens sobre as mensagens entre procuradores da Lava Jato e Sergio Moro.

Além da conduta de Moro, o hacker também questiona a atuação do procurador Deltan Dallagnol, outro que teve mensagens vazadas. Delgatti Neto diz nunca ter imaginado que ficaria tão surpreso com as ações do membro do Ministério Público.

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“Lá na ponta, a quais grupos de interesses ele serve? Como funcionário público, parte do Ministério Público, quais deveres e limites deve respeitar? Quem é o seu senhor? Comprou o Brasil e tudo pode? A qual nação dr. D. Dallagnol e equipe servem? Por qual razão têm tanta dificuldade em explicar-se?”, questionou.

Venda de mensagens ao PT

Delgatti Neto garantiu que nunca teve a intenção de vender o conteúdo das mensagens ao Partido dos Trabalhadores (PT) nem procurou integrantes da legenda. Essa informação foi dita à PF pelo advogado de outro preso, Gustavo Elias Santos, pela invasão aos celulares.

O hacker também esclareceu sobre o contato feito com a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB). Segundo ele, a parlamentar foi procurada apenas para conseguir um contato direto com Glenn Greenwald, dono do Intercept, porque ela seria próxima do jornalista. Delgatti Neto garantiu que a participação de Manuela se limitou em apenas passar o contato de Glenn e questiona se o tratamento que recebe seria o mesmo caso tivesse entrado em contato com um integrante de outro partido que não o PCdoB ou o PT.

Delgatti Neto afirmou, ainda, que não fez nenhuma alteração ou edição no conteúdo das mensagens entre os autoridades. “O que temem? Qual o crime cometido, quando apenas acessei informações de autoria de personalidades públicas e procurei a imprensa para conversar sobre o que descobri? A própria imprensa poderia checar a veracidade das informações e selecionar, sob a liberdade de imprensa, o que deveria publicar”, disse.

O hacker questiona ainda os motivos pelos quais foi preso. “É preciso ficar atento e monitorar os agentes públicos e as ações de Estado. Testemunhei e escutei ruídos que, na minha opinião, prejudicam muito o Brasil. Proponho que tornemos ditas informações facilmente acessáveis por todos. Qual é o problema com a transparência? Cada cidadão formará o seu juízo sobre matérias de interesse público. Por que não?”, afirmou. 



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