São Paulo está alagada e a culpa não é das chuvas

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Não estamos no caminho certo. É o que nos mostra o dia 10 de fevereiro de 2020. Segundo o Corpo de Bombeiros, às 7h30 a cidade São Paulo tinha 78 pontos de alagamentos. Os trens das linhas oito e nove da CPTM pararam de circular e trechos das Marginais Tietê e Pinheiros foram interditados. Não adianta culpar as chuvas, hoje é resultado de décadas de erros e diagnósticos errados.

São Paulo foi construída em cima de uma gigante malha hidrográfica cobrindo entre 300 e 500 rios e córregos pela cidade. Estima-se que mais de 3000 quilômetros de curso de água foram enterrados para construir avenidas como a Faria Lima e a Nove de Julho, fruto de muito lobby da indústria automotiva e de uma visão de cidade baseada no carro. Durante a década de 30, o engenheiro Saturnino de Brito (responsável pelos canais de Santos) tinha um projeto ousado para os rios da cidade. Manter o fluxo natural dos rios construindo um conjunto de parques para absorção da chuva e a construção de um modal de transporte baseado em hidrovias.

Foi ignorado pelo prefeito Prestes Maia que começou o soterramento para construção de vias como a Avenida do Estado, responsável pela destruição do Rio Tamanduateí. Durante o período militar este processo se agravou, basta ver a proposta de Maluf na eleição para prefeito de 2000 que pretendia encobrir a marginal.

Essa realidade se agrava na periferia. Segundo o IBGE, 670 mil paulistanos moram em áreas de vulnerabilidade, a maioria construções irregulares construídas próximas a rios da periferia. Entretanto, obras como a canalização do córrego do Atônico em Paraisópolis estão paradas desde a gestão Serra-Kassab.

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Apesar do problema estrutural, São Paulo pode tomar medidas preventivas como a construção de “piscinões” e a limpeza sistemática de bueiros. Porém a nossa irresponsabilidade tornou a situação fiscal da prefeitura caótica. Com um orçamento majoritariamente comprometido com previdência e pessoal, São Paulo destina mais de 90% de todo IPTU só para pagamento de inativos.

A consequência é uma taxa de investimentos que não consegue nem repor a depreciação de patrimônio, basta ver os viadutos caindo. Entre 2016 e 2018 foram gastos apenas R$2,1 bilhões em ações para prevenções contra chuva, equivalente a 41% do previsto. Já em 2019 a verba para construção de piscinões foi zerada.

Apesar de parecer um problema complexo, existem sim soluções, mas é preciso de ousadia. Seul passou um por longo processo de recuperação dos seus rios, o Cheonggyecheong era coberto por um elevado estilo o nosso minhocão.

Ele foi desativado e o rio reurbanizado, se tornando um dos maiores parques da cidade. São Paulo deveria seguir o mesmo processo recuperando o Rio Tamanduateí, permitindo a reurbanização da Avenida do Estado. Associando a política ao adensamento da região, São Paulo poderia construir um novo eixo de desenvolvimento numa área da Zona Leste mais próxima ao centro.

O grande custo político seria desativar algumas vias, mas é esta pergunta que devemos nos fazer como sociedade: queremos uma cidade para os carros ou para as pessoas?

Rotterdam também pode servir de inspiração para São Paulo: o projeto da Benthemplein com três grandes tanques para coleta d’água se integra a uma praça com diversos equipamentos públicos. O que permite a construção de piscinões sem destruir o espaço urbano.

Outras medidas sem a necessidade de grandes obras podem ajudar este processo. Como é o caso do IPTU Verde que foi implementado em Salvador, o projeto dá descontos no IPTU para condomínios e casas que colaborarem para o meio ambiente. Com medidas como a instalação de caixa d´agua para a coleta de chuvas.

As enchentes colocam em cheque o modelo que queremos para cidade de São Paulo. De um lado precisamos reformar a máquina pública para a prefeitura voltar a realizar os investimentos básicos. De outro, precisamos romper com a visão de cidade baseada no carro que soterrou nossos rios.

Pode parecer difícil, mas o dia de hoje mostra que não estamos no caminho certo…




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