As dedetizadoras paulistanas estão apontando suas armas para o inimigo atual, o novo coronavírus, depois que viram a busca pelo combate a ratos e insetos diminuir durante o isolamento social. Empresas do ramo incluíram nos seus serviços a sanitização, comumente utilizada para eliminar microrganismos em locais como clínicas veterinárias e indústria alimentícia e que agora é solicitada por outros setores.
Com o início da reabertura, a demanda cresceu, já que a medida faz parte do protocolo de segurança, por exemplo, de shoppings e de concessionárias, e se torna cada vez mais comum também em residências. “A procura começou em abril. Fui resistente (a começar a oferecer), mas ficamos com medo de perder clientes”, diz Laís Mascagni, proprietária da EccoClean. “Tivemos uma queda de 40% no faturamento no começo da pandemia”, conta Jean Claude Ville, diretor comercial da D.D.Drin. Após aderir à sanitização, essa baixa foi reduzida para 25%. “O serviço virou febre. Antes eram quarenta aplicações por mês e agora são 120”, conta Felippi Augusto, do Grupo Max Protection.
Pesquisa da Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas (Aprag), realizada entre maio e junho com 64 dedetizadoras, mostrou que 67% das empresas entrevistadas incluíram a sanitização recentemente no catálogo de serviços; 9,4% optaram por não realizar a atividade. Mas como funciona? Com macacão, máscara e luvas, os funcionários aplicam no ambiente um produto que contém um composto químico chamado de quaternário de amônia. Com nebulizadores e pulverizadores, a substância é espalhada no ar e adere às superfícies por meio de microgotículas que matam vírus, fungos e bactérias.
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A durabilidade, no entanto, não é grande. “Se uma pessoa contaminada dispersa o vírus por ali, o risco volta imediatamente. Não é como uma dedetização”, diz Sérgio Bocalini, biólogo da Aprag. Durante a aplicação, o local deve estar vazio e permanecer assim por no mínimo uma hora e meia, dependendo da concentração do produto. Para um ambiente de 100 metros quadrados, o valor cobrado varia de 280 a 490 reais, conforme a empresa. Para especialistas, a ação é indicada a locais com grande circulação de pessoas. “Recomendamos a estabelecimentos comerciais, quando há a possibilidade de existirem várias pessoas infectadas. Em residências, é um pequeno exagero”, diz Webert Santana, coordenador de saneantes da Anvisa. “A amônia quaternária é excelente. Mas em casa o uso de desinfetantes comuns basta”, indica Clarice Arns, virologista da Unicamp.
Alguns paulistanos preferem o excesso. “Eles higienizam a casa de ponta a ponta e o produto não deixa cheiro. Eu tenho 61 anos e me sinto mais seguro assim”, afirma o apresentador do SBT Otávio Mesquita, que mora no Morumbi, contratou o serviço no último mês e deve repetir a dose em breve. “Além do medo da Covid-19, aqui em casa temos doenças respiratórias, que melhoraram com a ação da sanitização. Pedi que aplicassem também no elevador do prédio”, conta a advogada Erika Maeda, 35. “Nas últimas semanas, aumentou a demanda por residências. Hoje 20% dos nossos atendimentos são nessa área”, diz Adriana Ferreira, da BioPragas, outra veterana do serviço.
Com a popularização do procedimento, especialistas dão dicas para os consumidores não caírem em furadas. “Vejo empresa falando que o serviço dura seis meses, que mata o vírus em todo esse tempo. Não existe um produto com essa eficácia até o momento”, explica o biólogo Bocalini. “É importante também verificar se o rótulo usado é regularizado pela Anvisa. Não fiscalizamos a atividade em si, mas sim se estão usando produtos clandestinos”, explica Santana. A Vigilância Sanitária da capital paulista informou que para exercer a atividade as empresas não precisam de licenciamento, diferentemente da dedetização, regulada pela esfera estadual.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 1º de julho de 2020, edição nº 2693.
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