Reino Unido tem “corrida por farinha” durante quarentena

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Uma semana antes de o Reino Unido parar em meados de março, a Wessex Mill se viu recebendo cerca de 600 chamadas por dia que solicitavam uma das mercadorias mais procuradas do país: farinha.

A fábrica em Oxfordshire produziu cerca de 13 mil pequenos sacos de farinha por dia durante a pandemia de coronavírus, um aumento de quatro vezes. A demanda levou Emily Munsey, que dirige o negócio com seu pai, a contratar mais funcionários e adicionar turnos à tarde e à noite para manter a fábrica funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana, pela primeira vez em seus 125 anos de história.

“Está sendo muito desafiador para a empresa. A quantidade de trabalho aumentou muito. A demanda permanece consistentemente obscena”, disse Munsey, que desde então voltou ao padrão de cinco dias de trabalho por semana, embora ainda 24 horas por dia, para dar aos funcionários uma folga no fim de semana.

As fábricas comerciais produzem cerca de 3,6 milhões de toneladas métricas de farinha por ano no Reino Unido, de acordo com a Associação Nacional de Moinhos de Farinha Britânicos e Irlandeses. Com grande parte do país presa em casa, a panificação aumentou e sacos de farinha do tamanho de varejo começaram a desaparecer das prateleiras dos supermercados.

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O surto de coronavírus inundou as redes sociais com #coronavirusbaking e #quarantinecookies. O fermento está em falta, e as vendas de manteiga subiram. Em abril, as buscas no Google por bolo, pão e farinha dispararam.

O desejo por farinha levou alguns britânicos a comprar sacos de tamanho comercial (pesando até 32 quilos), alguns para experimentar novas receitas e outros para monetizar a escassez, com sacos do produto no eBay saindo por mais de US$ 85.

Para muitos, fazer pães e bolos serve como uma pausa no caos. “Uma das maneiras de interromper a ansiedade é deixar outros sentidos assumirem o controle”, afirmou Nigella Lawson, autora culinária britânica e estrela de televisão, ao jornal “The Guardian”.

Os moinhos artesanais estão sentindo o aumento da demanda, de acordo com a Tradicional Cornmillers Guild. Um moinho tradicional movido a água no nordeste da Inglaterra foi inundado com um aumento de 500 por cento na demanda e teve de fechar sua loja on-line. Outro, com mais de mil anos no sul do país, que parou de produzir em 1970, recomeçou a fornecer farinha para lojas locais.

A Wessex Mill não conseguiu atender à demanda com seu tradicional moinho de farinha, que é mais lento do que as instalações que usam métodos modernos. Ela foi fundada pela família de Munsey em 1895 em Oxford, à beira do Rio Tâmisa, mas o edifício original pegou fogo na década de 1950. Agora localizada em Wantage, em Oxfordshire, a fábrica é movida a eletricidade e opera um moinho de segunda mão instalado por seu avô.

Todos os dias, um caminhão carrega 25 toneladas de trigo compradas de agricultores locais. Tudo é armazenado em silos antes de ser limpo, com a retirada do joio, o invólucro protetor escamoso. Adiciona-se água para suavizar o farelo, uma camada do grão de trigo, para a produção de flocos.

Os grãos são lentamente abertos com rolos dentados de aço e depois peneirados para separar o germe de trigo e o farelo. O endoesperma restante, o interior cheio de amido do grão, é moído para produzir a farinha branca. Os flocos de farelo são enviados a um agricultor local para ração de porcos ou adicionados com germe de trigo para criar farinha de trigo integral.

“Somos uma fábrica de farinha artesanal. Nunca produzimos grandes quantidades, e agora as pessoas só querem mais e mais e mais farinha”, disse Munsey, cujos clientes incluem atacadistas e padarias em toda a Grã-Bretanha que encomendam até nove toneladas de farinha por semana.

O frenesi também afetou a produção de sacos de papel, mas Munsey tinha estoque preparado. “Consumimos nossa reserva do Brexit”, contou. Uma máquina nova consegue rotular dois mil sacos em 20 minutos.

O problema no Reino Unido não é apenas a escassez de farinha, mas a incapacidade da indústria de embalar sacos pequenos com rapidez suficiente. Grandes fábricas comerciais produzem 99 por cento da farinha na Grã-Bretanha. Elas normalmente fornecem sacos de farinha de 16 kg para padarias, por isso é difícil mudar para sacos de varejo, que compõem apenas uma pequena porção do mercado.

“É sem precedentes. Há mais de um mês, a produção de farinha para uso doméstico tem sido o dobro do nível normal, tendo aumentado para quatro milhões de sacas por semana”, informou Alex Waugh, diretor-geral da Associação Nacional de Moinhos de Farinha Britânicos e Irlandeses.

Os pequenos sacos de farinha estão tão escassos que as redes de supermercado Morrisons e Sainsbury’s resolveram tomar uma atitude: vender sacos de 16 kg ou dividi-los em pequenas embalagens de papel.

O surto de coronavírus também provocou a demanda por farinha em muitos países europeus. Na França, pesquisas de mercado da Nielsen mostraram que a demanda dobrou em março. Na Itália, atingiu seu nível mais alto desde a Segunda Guerra Mundial.

À medida que o Reino Unido flexibiliza as restrições de confinamento, Munsey espera que novos clientes continuem a usar farinha da Wessex Mill, a descobrir novas habilidades e talvez a assar mais pães em casa.

Mas, durante os primeiros meses da crise, sua exaustão dominou seu desejo de cozinhar. “Se você fizer pão, precisa limpar a farinha das superfícies, e não posso nem pensar em limpar mais farinha quando chego em casa.”

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