“O vinho no Brasil sempre foi considerado um artigo de luxo, e, por isso, uma pesada carga tributária incide sobre a bebida. Os tributos representam mais de 56% do preço do vinho. São os grandes vilões”, afirmou Adriano Miolo, presidente e enólogo da vinícola gaúcha Miolo, que produz 10 milhões de garrafas por ano e acaba de completar três décadas de existência. O executivo vê na reforma tributária, planejada pelo governo federal, uma oportunidade de a bebida ficar mais barata no mercado nacional. “A reforma tributária pode permitir enquadrar o vinho em outro segmento, que não o de uma bebida de luxo. Poderia ser um produto agroalimentar – como é em outros países, onde a taxação é de, no máximo, 20%. Com carga tributária de 56%, é inviável que o produto esteja na mesa do brasileiro no dia a dia”, disse o executivo, em entrevista a Alessandra Kianek, editora de VEJA, no programa Páginas Amarelas.
O acordo de livre comércio assinado em junho pelo Mercosul e pela União Europeia deve inundar o mercado brasileiro com vinhos franceses, italianos e portugueses. Segundo Adriano, as condições de mercado são desiguais. “Os países do Mercosul vão passar a concorrer com a maior região produtora mundial, que é altamente subsidiada pelos governos. Lá, o Estado controla o plantio e, inclusive, o estoque. Somos a favor que o vinho importado também pague menos imposto, mas é importante que se tome medidas para que a indústria nacional tenha condições de competir.”
Nos últimos 30 anos, o Brasil teve duas excelentes safras: 2005 e 2018, segundo o executivo. “Em relação às condições climáticas, essas duas safras são muito semelhantes, porém, no nível tecnológico, ao que incorporamos de conhecimento e tecnologia, a do ano passado fará a grande diferença. Para nós, 2018 foi a melhor safra da história da Miolo.” Os vinhos desta safra vão começar a chegar ao mercado nos próximos dias. Entre as novas tendências do mundo do vinho, Adriano destaca o avanço do consumo dos vinhos rosés. “Essa moda, que já estava forte na Europa e nos Estados Unidos, chegou agora no Brasil. É o produto atualmente que mais cresce.” Ele chama a atenção também para o espumante sur lie, aquele – feito no método champenoise, como os champanhes franceses – que envelhece na garrafa com as próprias leveduras da fermentação. “A permanência das leveduras passa ao produto aroma e sabor particular desse processo de envelhecimento. Isso vem num momento para sofisticar ainda mais os espumantes nacionais.”
A geografia brasileira da produção de vinho mudou nos últimos anos. Novas regiões surgiram, e hoje, além do Rio Grande do Sul, tradicional pólo produtor, a bebida é produzida no Paraná, em Santa Catarina, em São Paulo e na Bahia. “Vemos uma nova vitivinicultura brasileira, com investimentos importantes e grandes vinhos sendo lançados em todo o país.”
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