Qual a ligação entre garota anglo-saxônica do século VI e cálice romano? Arqueólogos descobriram

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Esqueleto da garota ao lado do cálice
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Uma menina morta há 1,5 mil anos na Inglaterra foi sepultada de forma comum para a época. Até aí, tudo normal. Mas, quando os arqueólogos foram desenterrá-la, se depararam com algo bem diferente: a moça tinha, como “companhia” em seu túmulo, um cálice romano que já foi preenchido com gordura de porco.

O objeto é mais antigo ainda: tem 1,8 mil anos, advindo do século III e estava enterrado com a garota na vila de Scremby, em Lincolnshire (Inglaterra). Ao LiveScience, Hugh Willmott, arqueólogo medieval da Universidade de Sheffield (Inglaterra), disse que “o copo foi encontrado no que pode ser chamado de um enterro bastante ‘comum’”.

Estudo detalha cálice e túmulo de garota

  • Um estudo publicado em novembro no European Journal of Achaeology, Willmott e seus colegas detalharam sua investigação acerca da chamada “Taça Scremby”;
  • O achado se deu em 2018 em cemitério que tinha outras 49 sepulturas datadas de 480 d.C. a 540 d.C., no período anglo-saxão;
  • O cálice foi encontrado intacto e estava sobre a cabeça da adolescente, cujo túmulo também tinha dois broches simples;
  • A Taça Scremby tem 5,7 cm de altura, podendo conter cerca de 280 ml de líquido;
  • Em sua superfície de liga de cobre, foram talhados motivos de meias-luas e formatos de coração, preenchidos com esmalte vermelho, água-marinha e roxo-azulado profundo;
  • Segundo os pesquisadores, o estilo e os materiais do cálice os levam a crer que ele foi importado da França em meados do século III d.C., quando a Grã-Bretanha viva o período romano.

“Tenho certeza de que o copo foi feito originalmente como um recipiente para beber”, sugeriu Willmott, que acredita que os romanos podem ter bebido vinho nele. “No entanto, quando foi escolhido para ser colocado no túmulo, sua função parece ter mudado novamente”, prosseguiu.

Esqueleto da garota ao lado do cálice (seta no canto inferior esquerdo da imagem)(Imagem: Hugh Willmott)

Entendendo a função da taça no enterro da adolescente

Visando compreender a função da suposta taça de vinho romana no enterro da garota anglo-saxônica, Willmott e seus colegas de equipe estudaram o resíduo orgânico presente no recipiente. Então, descobriram haver alta concentração de lipídios, sendo, provavelmente, gordura de porco.

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Essa gordura pode ter sido colocado no cálice apenas em caráter alimentar. Contudo, na era romana, gorduras animais também podiam ser utilizadas como hidratantes, segundo os pesquisadores.

Uma terceira hipótese é que a gordura pode ter sido utilizada para fins medicinais. Isso porque, no século VI, o médico bizantino Ântimo escreveu que os francos consumiam gordura de bacon crua com vistas a tratar parasitas intestinais, bem como para limpar e curar feridas.

Para Willmott, “Pode valer a pena considerar a mulher enterrada pode ter sido alguém que praticava medicina popular na comunidade local”.

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Segundo mistério em torno do objeto

Outra questão que os especialistas querem decifram em torno da Taça Scremby tem relação com sua origem. Eles querem entender onde os anglo-saxões a obtiveram, pois sua excelente condição de conservação sugere que ela não foi achada por acaso.

Pode ser que ela tenha sido passada adiante como herança, retirada de um túmulo romano, ou qualquer outra hipótese, teorizam os pesquisadores.

“O fato de ser claramente de alguma idade é onde sua real relevância social estava. A colocação do copo, suas potenciais associações simbólicas e seu conteúdo representam ritual não visto em nenhuma outra sepultura feminina no cemitério”, explicam no estudo.

Contudo, nenhuma outra evidência ambiental da sepultura, tais como pólen, sobreviveu, segundo Willmott. Contudo, amostras do esqueleto da garota e de outros encontrados no cemitério anglo-saxão vêm passando por análise de DNA antigo, podendo, assim, nos trazer importantes pistas sobre a menina e o cálice romano cheio de gordura de porco.

calice_inglaterra_interno-684x1024 Qual a ligação entre garota anglo-saxônica do século VI e cálice romano? Arqueólogos descobriram
a) Estrutura de grãos da base do copo não mostra nenhuma indicação de que o metal fundido foi trabalhado posteriormente (imagem capturada originalmente com ampliação de 1000×); b) Estrutura de grãos da base do copo não mostra nenhuma indicação de que o metal fundido foi trabalhado posteriormente; além disso, a corrosão intergranular é visível por toda parte (imagem capturada originalmente com ampliação de 400×) (Imagem: Reprodução)

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