Público lota sambódromo no desfile das campeãs do carnaval do Rio

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Os desfiles do Sábado das Campeãs começaram com arquibancadas, camarotes e frisas lotadas e um público empolgado. O clima nas arquibancadas esquentou com o anúncio dos nomes das escolas que se apresentariam na noite. A resposta em aplausos foi imediata.

A descontração foi o forte dos componentes, que, enfim, não precisavam se preocupar com os jurados. Houve até quem não estivesse com a fantasia completa, mas o que importava era a alegria de estar entre as campeãs do carnaval do Rio de Janeiro.

Mocidade

A primeira a entrar na avenida foi a Mocidade Independente de Padre Miguel, que ficou em sexto lugar este ano, com o enredo Eu Sou o Tempo, Tempo É Viida. Como um agrado a quem estava no Setor 1, o mais popular da avenida, a comissão de frente fez a coreografia completa e foi ovacionada pela arquibancada.

Saulo Finelon, que junto com Jorge Teixeira é coreógrafo da comissão de frente da Mocidade, disse que a apresentação para esse público é especial. “É o nosso termômetro e eles precisam disso. Esperam o ano inteiro por isso”, afirmou.

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Dessa vez, a cantora Elza Soares não acompanhou a escola na avenida. No desfile oficial ela estava no abre-alas. Elza foi representada pela neta Virna Soares, de 42 anos.

A cantora está em Quito, onde foi participar de uma palestra da Organização das Nações Unidas em defesa das mulheres e fazer shows. “Ela ficou bem emocionada em substituir a minha avó, o que é muito difícil”, disse outra neta da cantora, Vanessa Soares, que seguia ao lado do abre-alas na pista.

Salgueiro

Uma homenagem à bateria da escola foi a recepção que a vermelho e branco da Tijuca recebeu do público do Setor 1. Quando os ritmistas faziam paradinhas, a plateia imediatamente gritava: “Furiosa” – como a bateria do Salgueiro é chamada. Saudações também para a rainha Viviane Araújo, que agradecia sambando e, assim, antecipando o que faria na avenida dentro do enredo Xangô! – o padroeiro da escola.

Durante o desfile, embora com a fantasia dos ritmistas, José de Oliveira, o Zeca da Cuíca, aos 84 anos, não estava na bateria. Com passos lentos, quis acompanhar as alas pela lateral da escola, levado por dois amigos e carregando o instrumento do qual é mestre. “O Salgueiro está uma beleza. É matéria-prima, meu Deus”, disse.

Portela

Clara Nunes voltou à avenida com os batuques para Iansã e Ogum, os orixás da cantora no enredo da azul e branco de Madureira e Oswaldo Cruz. Foi com essa força que a Portela sacudiu a Marquês de Sapucaí.

A cantora Mariene Castro integrou a comissão de frente, interpretando a homenageada. “Venho trazendo o canto da sabiá [como Clara Nunes era chamada] para a avenida, com a força de Iansã e com a força das guerreiras de Iansã. Eu estou muito feliz e agradecida”, afirmou.

O dançarino Carlinhos de Jesus explicou em que se baseou para criar a coreografia da comissão de frente da Portela. “Como Iansã significa a luz do entardecer, quis trazer as guerreiras de Oyá no ritual do entardecer. Isso aqui é um ritual. É um terreiro de candomblé que está aqui”, disse.

A porta-bandeira Lucinha Nobre, que com Marlon Lamar conquistou nota máxima dos jurados, contou que a preparação para representar Clara Nunes começou em outubro. “Foi muito trabalho, mas especial porque representar a Clara é uma emoção muito grande. Estou muito feliz de ter realizado este trabalho, com apoio dessas meninas lindas da comissão de frente porque ensaiei com elas”, destacou.

Na preparação, Lucinha assistiu a vídeos da cantora para aprender os trejeitos dela e até a cor do cabelo mudou para ficar mais parecida com Clara. No alto do abre-alas, duas figuras de destaque da Portela: Monarco e Tia Surica, que arrancaram aplausos do público e muitas fotos sempre que eram reconhecidos na alegoria.

No meio do desfile, no terceiro setor do enredo que representava a brasilidade mineira uma componente da ala Folia de Reis carregava um cartaz: Mariana Resiste, em alusão ao rompimento da barragem em novembro de 2015.

Vila Isabel

O desfile luxuoso da azul e branco de Vila Isabel voltou para a avenida e encantou o público mais uma vez, com a combinação da cidade serrana de Petrópolis, a realeza e o samba da terra de Noel. O enredo Em Nome do Pai, do Filho e dos Santos – A Vila Canta a Cidade de Pedro trazia logo na comissão de frente uma visita ao Palácio Imperial. Como disse o coreógrafo Patrick Carvalho, os componentes, sem preocupação com os jurados, se apresentaram para a plateia.

O presidente da escola, Fernando Fernandes, disse que a apresentação deste ano foi resultado de um trabalho de reorganização da escola. “Fizemos as mudanças que deveriam ser feitas e, no ano que vem, a Vila vem mais forte ainda”, afirmou.

Apesar de destacar a ida de profissionais para a escola que garantiram os pontos que a levaram ao terceiro lugar no carnaval de 2019, o presidente não confirmou a continuidade da equipe. “Vamos aguardar. Vai ter mudanças”, adiantou.

À frente da bateria, mestre Macaco Branco, que pela primeira vez comandou os ritmistas, estava feliz com o desfile da escola e com reconhecimento que ganhou na sua estreia. Ele foi premiado com um Estandarte de Ouro, dos jornais O Globo e Extra. “Não tem preço que pague. É muito satisfatório representar a minha comunidade. Graças a Deus deu tudo certo”, afirmou, ao lado do filho Enzo, de 8 anos, que imitava os gestos do pai.

Viradouro

Com a magia do carnavalesco Paulo Barros para o enredo ViraViradouro, a escola de Niterói fez um desfile animado e mostrando que quer permanecer no Grupo Especial. O samba, que fala, em um dos versos, “o brilho no olhar voltou”, mostrava bem a alegria dos componentes. “A escola está com garra. O carnaval foi maravilhoso” disse Olivia Cordeiro de Souza, de 63 anos, integrante da Velha Guarda, que está na Viradouro há 40 anos.

Barros, que no desfile oficial acompanhou a escola da pista, dessa vez veio no alto da última alegoria. De vez em quando, o carnavalesco abria uma faixa com a palavra gratidão.

Mangueira

Mesmo perto de amanhecer e depois de já ter assistido a cinco desfiles, o público não se conteve quando o locutor oficial do Sambódromo anunciou o nome da Mangueira, a campeã de 2019, que apresentou o enredo História pra Ninar Gente Grande.

No esquenta para o início do desfile, o intérprete Marquinho Art’Samba cantou sambas-enredo de outros campeonatos da verde e rosa, como A Menina dos Olhos de Oyá, em homenagem à cantora baiana Maria Bethânia (2016), e o samba exaltação Sei lá, Mangueira, composto por Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho. Nos primeiros versos – Mangueira teu cenário é uma beleza – o público se empolgou.

Priscila Motta, que assinou a coreografia da comissão de frente com o marido Rodrigo Neri, comemorou o campeonato da escola e a nota máxima, na estreia do casal na Mangueira.

“[Houve] uma cobrança muito grande para a gente porque, quando fomos convidados para vir para a Mangueira, esperavam que a gente trouxesse para o quesito a nota máxima e ajudasse a escola a ser campeã. A gente conseguiu. Graças a Deus, deu tudo certo. O enredo é lindo e estar na Mangueira é um sonho, uma realização pessoal e profissional”, afirmou Priscila.

Durante o período de preparação da comissão de frente, nasceu Davi, filho dos coreógrafos.

O ator Antônio Pitanga disse que o enredo destacou lideranças de mulheres, negros e índios. “A Mangueira é a única escola que realmente pode revelar e tirar de debaixo do tapete a história real, não a história escrita pelo colonizador”, afirmou. “Somos Marias, somos brasileiras e mangueirenses. É o resultado que a gente tem que mostrar ao Brasil. Lutar e acreditar”, disse a gestora cultural Elisa Santos.

No fim do desfile, a equipe de segurança da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) teve que fazer um cordão de isolamento para conter um verdadeiro bloco que se formou atrás da Mangueira invadindo a pista. Muitas pessoas que estavam nos camarotes, frisas e arquibancadas aderiram à multidão seguindo a verde e rosa.



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