*Por Carlos Madero, colunista do UOL
O imbróglio envolvendo a usina de dessalinização de água do mar na praia do Futuro, em Fortaleza (CE) pode estar chegando ao fim.
Após adiamento de reunião que definiria o futuro do projeto e garantias da empresa responsável de que a obra não vai afetar a internet, o Conselho Estadual do Meio-Ambiente do Ceará aprovou, de forma unânime, o estudo de impacto ambiental para instalação da usina. A votação foi realizada nesta quarta-feira (8).
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Agora, a Secretaria do Meio-Ambiente do Ceará será responsável por emitir a licença prévia para as obras. Vale ressaltar que o projeto é fruto de parceria público-privada (PPP) entre a Cagece (Companhia de Esgoto do Ceará) e o Consórcio Águas de Fortaleza.
Relembre a polêmica
- Na praia do Futuro, existem 17 cabos submarinos de internet;
- Segundo empresas do setor, a construção da usina no mesmo local pode trazer riscos à conexão no Brasil, pois os cabos trazem 99% dos dados, conforme o Ministério das Comunicações;
- Os responsáveis pela PPP, por sua vez, garantem não haver risco, alegando que os dutos ficarão a mais de 500 m dos cabos de internet, com zero chances de acertá-los.
Votação e aprovação
Na votação desta quarta-feira (8), 22 pessoas votaram a favor do projeto e quatro se abstiveram de votar. Não houve votos contrários.
A usina de dessalinização receberá um total de R$ 3 bilhões de investimento em 30 anos. O consórcio responsável investirá R$ 520 milhões na planta e R$ 2,5 bilhões em manutenções e operações. Espera-se que a usina comece a ser construída no início do ano que vem.
Ela irá fornecer água para 700 mil pessoas da capital cearense, com capacidade de ajudar a todo o Estado, pois, atualmente, Fortaleza recebe água do interior do Ceará e não possui mananciais.
Fortaleza é ponto estratégico
A vasta quantidade de dados online que Fortaleza recebe se dá pelo fato de ser um ponto estratégico. A capital cearense se encontra mais próxima dos EUA, país com a maior parte de dados de internet mundiais.
A TelComp, que representa operadoras de telefonia, banda larga e acesso à internet, TVs por assinatura e data centers, se manifestou por meio de seu presidente-executivo, Luiz Henrique Barbosa.
O executivo afirmou que o projeto tem a capacidade de gerar um apagão de internet no Brasil “porque não está se colocando uma usina onde tem um cabo, mas onde tem um hub todo”. “Hoje, ninguém pensa em chegar com internet no Brasil por outro caminho que não seja o de Fortaleza”, disse.
Barbosa ainda afirmou que, caso um cabo somente seja danificado, o conserto pode levar semanas e reduzir o tráfego de dados. Todavia, segundo ele, o setor não se preocupa e nem repudia a construção da usina em si, mas, sim, o local escolhido.
Se a gente voltasse 20 anos e já tivesse a usina, nenhuma companhia escolheria colocar cabo lá porque haveria unidade industrial. Essas áreas são escolhidas justamente por serem ideais para investimentos. Falamos de valores bilionários.
Luiz Henrique Barbosa, presidente-executivo da TelComp
Por sua vez, o consórcio garante e reitera não haver riscos em construir a usina no local escolhido. O diretor-presidente da Sociedade de propósito específico (SPE) Águas de Fortaleza, Renan Carvalho, diz que não há como a obra afetar os cabos.
Segundo ele, os estudos são realizados desde 2018 e o modelo inicial foi modificado, de modo a aumentar a distância entre os dutos de captação e emissão de resíduos dos cabos submarinos de internet. Ele garante que a distância entre os equipamentos será superior a 500 m.
“Quando a distância era de 40 a 50 m, já não existia risco. O governo alterou e, depois dessa mudança, assistimos perplexos essa conversa de que pode haver dano. É absurdo falar de risco a qualquer tubulação”, disse.
Carvalho também afastou a possibilidade de o cruzamento de tubos durante a construção da parte terrestre da usina sob os data centers já instalados trazer riscos.
Enquanto estamos falando, existe alguma instalação cruzando cabo na cidade. Para você ter ideia, só entre as praias do Futuro e a Aldeota são mais de mil cruzamentos de cabos. Essa obra vai cruzar mais alguns, mas, e daí? Existem data centers em lugares muito piores.
Renan Carvalho, diretor-presidente da SPE Águas de Fortaleza
No passado, em conversa com a rádio O Povo/CBN, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), também se mostrou favorável ao projeto no local definido. “[…] todos os estudos técnicos que fizemos, por mais de dois anos, são claros que não há nenhum risco aos cabos”, salientou.
O que não é possível é que as empresas donas dos cabos de internet queiram ser donas da praia do Futuro. Isso não é razoável. A praia do Futuro é do povo do Ceará, do povo de Fortaleza.
Elmano de Freitas (PT), governador do Ceará, em entrevista à rádio O Povo/CBN
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