A confusão sobre a divulgação dos números do coronavírus que aconteceu durante o último final de semana pode ser cnnsiderada mais um capítulo nos tropeços na forma de tratar e reportar os dados no país. “Dessa vez, houve mais elementos dramáticos, mas temos observado desde 2019 uma certa tensão com a publicação de alguns índices”, diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
Na semana passada, o Ministério da Saúde atrasou a divulgação dos balanços diários sobre a pandemia e anunciou que a metodologia iria mudar. Ao perceber reações negativas à mudança, o governo voltou atrás e decidiu informar os dados às 18h, e não às 22h como vinha acontencendo nos últimos dias.
“Esse vai-e-vem causa confusão e não colabora para a definição de estratégias mais assertivas de combate à doença”, diz Juliana Sakai, diretora de operações da Transparência Brasil e mestre em em ciência política pela Leuphana Universität, na Alemanha. “Brigar com os dados não ajuda em nada”.
Na área do meio ambiente, a questão começou a chamar a atenção no ano passado. Não bastasse a floresta amazônica ter encolhido, os dados também sumiram. As últimas atualizações das taxas de desmatamento em áreas de conservação ambiental na Amazônia, disponibilizadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), subordinado ao Ministério do Meio Ambiente, são de 2017.
Os índices são elaborados com base em informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O órgão, que monitora o desmatamento na Amazônia, foi alvo, em meados de 2019, de uma polêmica envolvendo a veracidade dos números reportados. O Inpe divulgou que o desflorestamento na região havia aumentado 88% em junho de 2019 relação ao mesmo período de 2018. O caso provocou polêmica e o diretor da instituição à época, Ricardo Galvão, acabou sendo afastado.
“A falta de uma maior boa vontade no repasse de dados é observada também nas esferas econômicas”, diz Vale. Um bom exemplo é o Censo 2020. O recenseamento demográfico deste ano corre o risco de não ser tão abrangente como em versões anteriores. Com a redução da verba, que passou de 3,1 bilhões de reais para 2,3 bilhões de reais, deverá haver um número menor de recenseadores em campo.
O escopo da pesquisa também irá diminuir. “Deveríamos nos perguntar se reduzir o orçamento para levantamentos tão importantes como esse é algo que realmente devia ser feito”, afirma Vale.
Há pelo menos uma boa notícia nesse cenário. Depois de um período de suspensão de dois meses, em janeiro e fevereiro deste ano, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) saiu do limbo. Segundo o Ministério da Economia, parte das empresas não estava informando corretamente as demissões, o que inviabilizava o relatório. O problema foi corrigido e o Caged voltou a ser publicado. A diferença é que, agora, deverá ser divulgado com uma defasagem de mais de um mês.
O Caged traz informação sobre a criação e o fechamento de vagas de emprego formais. “Sem dúvida, há restrições orçamentárias e de outras naturezas, mas dependemos de uma série de dados para saber em que patamar econômico, social e de saúde nos encontramos e, a partir daí, pensarmos em soluções para o país”, diz Vale.
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