Pesquisadora recria paisagem sonora de antiga cidade subterrânea

Derinkuyu, cidade subterrânea milenar localizada na região da Capadócia (Turquia), volta a ganhar vida — não com escavações arqueológicas, mas através do som.

A responsável por essa inovadora abordagem é Sezin Nas, pesquisadora em arquitetura de interiores e acústica na Universidade Galata, em Istambul (Turquia), que utilizou tecnologias digitais de ponta para reconstruir o ambiente sonoro da cidade em três dimensões.

A investigação, apresentada nesta quarta-feira (21) durante a 188ª Reunião da Sociedade Acústica da América em conjunto com o 25º Congresso Internacional de Acústica, propõe novo olhar sobre o passado: ouvir a história, literalmente.

Com o uso de modelos digitais e recursos de simulação acústica, Nas recriou como poderia soar a vida cotidiana em Derinkuyu — cidade subterrânea com capacidade para abrigar até 20 mil pessoas, divididas em diversos níveis conectados.

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Mais do que um abrigo, Derinkuyu foi um feito de engenharia avançada para sua época. A cidade subterrânea foi projetada com complexa rede de túneis e câmaras distribuídas por mais de 18 andares e 85 metros de profundidade, servindo como refúgio contra invasões e condições climáticas extremas, explica a BBC.

Utilizada por diversas civilizações ao longo dos séculos — como frígios, persas, bizantinos e, mais recentemente, gregos capadócios —, o local foi finalmente abandonado na década de 1920, durante o conflito greco-turco.

Segundo Sezin Nas, a estrutura não só garantia proteção, mas, também, foi estrategicamente planejada para permitir a circulação de ar e, surpreendentemente, a comunicação entre os andares.

“A integração entre ventilação e troca de mensagens através das mesmas passagens arquitetônicas é uma das marcas mais impressionantes de Derinkuyu”, afirma a pesquisadora. Essa multifuncionalidade influenciava diretamente a maneira como o som se propagava, contribuindo para ambiente acústico distinto.

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Como soava uma cidade debaixo da terra?

• Para compreender o som do passado, Nas selecionou três espaços-chave: uma igreja subterrânea, uma residência e uma cozinha;
• A análise considerou as propriedades arquitetônicas de cada ambiente, como materiais, volume e função, além de sons típicos de atividades humanas da época;
• A partir disso, ela construiu paisagem sonora virtual imersiva, em 3D, permitindo simulação realista da experiência auditiva dos antigos habitantes;
• Diferentemente dos cenários urbanos ao ar livre, a pesquisadora destaca que a cidade subterrânea representa ambiente interior em escala urbana — conceito inédito na acústica aplicada;
• “Ouvir esses sons recriados nos ajuda a entender como a acústica influenciava a forma de comunicação, a organização social e a própria vivência nos espaços de Derinkuyu”, explicou, em comunicado.

Além de resgatar um aspecto pouco explorado da história — o som —, o estudo de Sezin Nas traz também uma proposta inovadora: transformar paisagens sonoras em ferramentas sistemáticas de estudo histórico.

Para ela, compreender os sons do passado pode enriquecer o entendimento de práticas culturais, usos espaciais e, até mesmo, inspirar novas soluções para projetos urbanos modernos, especialmente em áreas subterrâneas. “Ambientes sonoros históricos ainda são parte pouco valorizada do patrimônio cultural”, defende.

A expectativa da pesquisadora é que seu trabalho com Derinkuyu não apenas contribua para estudos interdisciplinares sobre o passado, mas, também, influencie futuros projetos arquitetônicos subterrâneos, com base em experiências auditivas mais humanas e funcionais.

Com o avanço da tecnologia de simulação 3D e o crescente interesse por cidades resilientes e sustentáveis, o som do passado pode se tornar um guia invisível para o futuro. Derinkuyu, silenciada por séculos, agora fala — e nos ensina a escutar.

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