A perícia feita pela Delegacia de Homicídios (DH) constatou que os militares que mataram o músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, atiraram no veículo onde a vítima estava com a família de trás para frente. Segundo a análise dos agentes da especializada, os homens do Exército estavam posicionados na parte traseira do veículo quando dispararam mais de 80 vezes. Os tiros acertaram as vítimas pelas costas. A perícia será encaminhada ao Exército, que ficará responsável pela investigação.
Segundo agentes da Polícia Civil, os militares que participaram da ocorrência portavam fuzis. Para os investigadores, os militares teriam confundido o carro com um outro que havia sido roubado pouco antes. Na ocasião, os agentes estavam fazendo patrulhamento do perímetro de segurança da Vila Militar, próxima ao local do crime. Desde a manhã desta segunda-feira, dez dos 12 militares que participaram da ocorrência, estão presos por determinação do Comando Militar do Leste (CML).
O caso aconteceu em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, na tarde deste domingo. No carro, além de Evaldo, estava sua mulher, seu filho de 7 anos, além de uma afilhada do casal, de 13, e o sogro dele, Sérgio Gonçalves de Araújo, de 59 anos. A família estava indo para um chá de bebê. Sérgio e um catador de papel que passava pelo local no momento dos disparos também foram baleados. Evaldo tocava cavaquinho num grupo de pagode e trabalhava como segurança numa creche.
Logo depois do homicídio, o CML divulgou uma nota, baseada no primeiro relato feito pelos militares após o fato, em que alegava que houve um tiroteio e que os militares “responderam à injusta agressão”. No entanto, a perícia feita pela Polícia Civil não encontrou arma alguma no veículo.
Na manhã deste segunda, o Exército mudou a versão e alegou, em nova nota, que “em virtude de inconsistências identificadas entre os fatos inicialmente reportados e outras informações que chegaram posteriormente ao Comando Militar do Leste, foi determinado o afastamento imediato dos militares envolvidos, que foram encaminhados à Delegacia de Polícia Judiciária Militar para tomada de depoimentos individualizados”. Após os depoimentos dos militares, o CML determinou a prisão dos dez agentes “em virtude de descumprimento de regras de engajamento”, ou seja, os agentes atiraram sem que houvesse ameaça alguma.
Os militares envolvidos no caso serão julgados pela Justiça Militar. Segundo o chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), delegado Antônio Ricardo Nunes, a justificativa é a lei sancionada pelo ex-presidente Michel Temer em 2017, que tirou da Justiça comum crimes cometidos por militares em serviço.
Em 13 de outubro de 2017, Temer
sancionou a lei 13.491, que amplia as possibilidades de militares suspeitos de crimes cometidos no exercício da função deixarem a Justiça comum e serem julgados na Justiça Militar, em caso de crimes contra civis.
Segundo a mulher da vítima, Luciana dos Santos Nogueira, os militares debocharam quando ela pediu socorro.
— Por que o quartel fez isso? Eu falei para ele: “calma, amor, é o quartel”. Ele só tinha levado um tiro. Vizinhos começaram a socorrer. Mas eles continuaram atirando e vieram com arma em punho. Fui botando a mão na cabeça e gritando: moço socorre meu marido. E eles ficaram de deboche. Eu perdi meu melhor amigo. Estou com ele há 27 anos — disse Luciana.