Os militares russos enviados à Venezuela devem deixar o país se o seu propósito for o de manter o governo de esquerda no poder, disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, nesta quinta-feira.
Em entrevista à Reuters, Araújo disse que ele espera que a Rússia reconheça que apoiar o presidente Nicolás Maduro apenas aprofundará o colapso da economia e sociedade venezuelanas, e que o único modo de sair da crise é realizar eleições sob um governo interino liderado pelo líder da oposição Juan Guaidó.
“Se a ideia deles é manter Maduro no poder por mais tempo, isso significa mais pessoas passando fome e fugindo do país, mais tragédia humana na Venezuela”, disse o ministro.
“Qualquer coisa que contribua para a continuação do sofrimento do povo venezuelano deve ser removida”, disse ele em entrevista por telefone.
Na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu que a Rússia retire seus militares da Venezuela e disse que “todas as opções” estão em aberto para que isso ocorra.
O presidente Jair Bolsonaro, cujo governo se uniu a uma coalizão liderada pelos EUA para levar ajuda humanitária até a Venezuela, disse que as Forças Armadas brasileiras não têm intenção alguma de intervir militarmente no país vizinho.
A chegada de dois aviões da Força Aérea russa no subúrbio de Caracas no sábado transportando, acredita-se, cerca de 100 membros das forças especiais russas e equipes de cibersegurança escalaram a crise política na Venezuela. A Rússia disse nesta quinta-feira que eram “especialistas” enviados à Venezuela sob um acordo de cooperação militar e que ficariam lá.
Araújo disse que o Brasil gostaria de discutir a crise venezuelana bilateralmente com a Rússia e a China, suas parceiras no Brics, para convencê-las que uma transição diplomática no país produtor de petróleo pode ser também de seu interesse.
Com o reconhecimento dos países do Grupo de Lima de Guaidó como líder legítimo da Venezuela, o Brasil está agora focado em ter os representantes dele reconhecidos por organizações internacionais em vez de os de Maduro, disse Araújo, como aconteceu recentemente no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).