Para caminhoneiros autônomos, tabela do frete foi ‘tiro no pé’, diz especialista em logística

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SÃO PAULO — Um ano depois da greve dos caminhoneiros, o tabelamento do frete criou muitas distorções no mercado de transporte rodoviário de cargas. A avaliação é de Maurício Lima, sócio-diretor da consultoria Ilos, especializada em logística. “Para muitos autônomos, o tabelamento foi um tiro no pé. Eles continuam excluídos do mercado”, diz o especialista.

No último dia 11, o presidente Jair Bolsonaro impediu a Petobras de aumentar o preço do diesel em 5,7%, como já havia sido anunciado pela companhia. A decisão — que resultou numa perda de R$ 32 bilhões em valor dos papeis da estatal — foi resultado da pressão dos caminhoneiros, que ameaçam fazer uma nova paralisação. Os autônomos pedem o cumprimneto do preço mínimo estabelecido pela tabela do frete.

Que balanço é possível fazer da tabela de preço mínimo do frete, uma das reivindicações dos caminhoneiros na greve de maio passado?

A tabela é muito ruim tecnicamente e criou muitas distorções no mercado. Para muitos autônomos, foi um tiro no pé. Tem casos em que os valores não estão sendo cumpridos, porque é simplesmente impossível. Muitos continuam excluídos do mercado.

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Pode dar um exemplo?

Uma carga que sai de São Paulo para Recife tem frete de cerca de R$ 12,5 mil a R$ 13 mil, em média. Na volta, a tabela estabelece que se pague o mesmo valor. Ninguém paga. O valor médio da “descida” de carga do Recife para São Paulo, antes do tabelamento, era R$ 7 mil, porque há menos fluxo de carga do Nordeste para São Paulo. Agora, muita gente usa a cabotagem e embarca a carga no Porto de Suape até Santos, que é mais barato.

Que outros problemas o tabelamento do frete criou?

Não há distinção de preço para cargas transportadas em caminhões novos e com mais de 30 anos de uso. Por isso, muita gente deixa de fazer o transporte com o autônomo e faz com uma transportadora, que tende a oferecer um serviço melhor. Para uma carga frigorificada ou de produtos perigosos o valor do frete é mais baixo que o da carga comum. Para a indústria de cimento
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quando se aplica a tabela, o frete fica 100% mais caro em alguns casos. E a maioria é feita por autônomos, em veículos antigos.

A recuperação fraca da economia também é um problema? Diminuiu a demanda por transporte de cargas?

Este ano, curiosamente, estamos vendo o contrário. A demanda cresceu pouco mais de 6% em janeiro e fevereiro. Poderá cair um pouco em março, por conta do carnaval, mas deve fechar o primeiro trimestre com crescimento de 5%. Mas mesmo com esse aumento, o mercado de autônomos é muito pulverizado, com mais de 600 mil motoristas, e por isso há demora para repassar esse movimento ao preço do frete.

As transportadoras estão adquirindo frota própria para fugir da tabela?

Sim, algumas empresas estão adquirindo caminhões próprios para fazer o transporte. Mas não são muitas. Há um mercado de locação de caminhões que está crescendo. O problema é que, com a crise econômica nos últimos anos, a indústria de caminhões caiu de um patamar de 170 mil unidades produzidas por ano para cerca de 50 mil. Hoje, há fila espera para ter um caminhão novo.

E a questão do diesel? O aumento do preço é um fator de risco para a greve?

O valor do diesel corresponde, hoje, a cerca de 25% do valor do frete. Um aumento de 10% no combustível implica num reajuste de 2,5% do frete. Então, só aumentos superiores a 10% farão grande diferença no valor do frete. Desde 2013, o diesel subiu pouco mais de 8%. Então, acho que existe mais um temor do mecanismo de aumento, do que do aumento em si.

Acredita numa nova greve?

Quando a demanda de transporte por carga está baixa, é mais difícil fazer greve. Mas quando a demanda cresce, o ambiente fica mais fértil. Acho que existe uma falta de liderança dos caminhoneiros. E nem todos estão descontentes, mas apenas aqueles que não conseguiram obter nenhuma vantagem com o tabelamento do frete.



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