Para além dos carros: Ford cria robô que parece humano para fazer entregas

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Criada na década de 1940, a montadora americana Ford é conhecida por ter popularizado os carros na América do Norte e por modelos como o Ford Ka, o Ford Focus e o Ford EcoSport. Mas a empresa, seguindo a linha de que precisa se modernizar para competir no mundo automatizado, anunciou na semana passada que construiu um robô para entregar mercadorias. E mais: a máquina tem pernas e braços e sobe escadas, exatamente como um humano.

O robô foi batizado de Digit e fabricado em parceria com a startup americana de tecnologia e automação Agility Robotics, que fez com que o robô fosse capaz de carregar pacotes de mais de 18 quilos.

Empresas de logística americanas como a UPS e o Fedex, além da varejista Amazon, já vêm testando entregas com pequenos robôs sem motoristas. Mas o robô humanizado da Ford tem a vantagem de conseguir subir escadas e de fato entregar a encomenda na casa das pessoas, o que as máquinas das concorrentes, que não possuem pernas e tem um formato mais quadrado, não conseguem.

Em um vídeo, a Ford mostra como o Digit consegue se dobrar para caber no porta-malas de um veículo e, em seguida, se levantar, sair do carro e andar até a porta do cliente para deixar a entrega. (Nos Estados Unidos, vale lembrar, as encomendas são comumente deixadas nas portas, e não entregues a um porteiro).

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Após anunciar o robô de entregas, a Ford negou que pretende começar um serviço de entregas para empresas parceiras e diz que não há prazo para que o robô chegue ao mercado. Veja no vídeo abaixo como o Digit funciona.

Não é a primeira vez que a Ford se aventura no mundo das entregas automatizadas. A montadora testou em 2017, por exemplo, o uso de carros autônomos para a entrega de pizzas da rede Domino’s no estado do Michigan, nos Estados Unidos, sede da Ford. Na ocasião, os carros sem motorista paravam em frente à casa dos clientes, que eram os responsáveis por sair e recolher as entregas digitando um código na máquina.

“Estamos ampliando nossa compreensão a respeito da oportunidade comercial de que os veículos autônomos apoiem o deslocamento de pessoas e produtos e estamos contentes com o fato de a Domino’s ter se unido a nós”, disse na ocasião do experimento com a Domino’s Sherif Marakby, vice-presidente de veículos autônomos e elétricos da Ford, que voltou à empresa após trabalhar com pesquisa de veículos autônomos na Uber.

Se decidir entrar no mercado de entregas, a Ford terá a concorrência de empresas de logística e da própria Amazon, que vem aprimorando suas tecnologias de automação para atender ao crescente mercado de e-commerce. Contudo, o mercado é extremamente promissor: nos EUA, o e-commerce responde por 10% das vendas, e, no Brasil, por 4%.

Veja abaixo (em inglês) como funciona o robô de entregas da Ford.

Um passo para o futuro

A Ford, assim como outras montadoras americanas, vêm tentando focar em carros elétricos e veículos autônomos. Montadoras tradicionais, cujo modelo de negócio ainda depende majoritariamente da venda de carros movidos à gasolina, temem perder mercado no futuro para empresas de tecnologia como a Alphabet, companhia-mãe do Google, e a Tesla, ambas pioneiras no desenvolvimento de carros autônomos e elétricos.

Assim, montadoras mundo afora vêm tentando correr atrás do prejuízo. Na Alemanha, as empresas já oferecem mais de 30 modelos de carros elétricos, número que deve aumentar para mais de 100 em 2021. No fim da próxima década, 25% dos carros vendidos no mundo serão elétricos (hoje, a depender do país, os elétricos respondem por menos de 2% do mercado).

Nesse sentido, os testes com entregas podem ajudar a desenvolver a tecnologia da Ford — seja para estabelecer um novo ramo de negócios e competir com empresas de logística, seja para apenas aprimorar a tecnologia que será usada nos carros vendidos aos consumidores.

 

 

O anúncio do robô Digit vem dois dias após a Ford anunciar no dia 20 de maio a demissão de 10% de seus funcionários, mais de 7.000 trabalhadores, como parte de um corte de custos de 600.000 dólares por ano. O corte de gastos incluiu o anúncio do fechamento de três fábricas na Rússia, uma na Europa e uma no Brasil, que produzia caminhões e o modelo Ford Fiesta em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo.

A Ford não foi a única: a concorrente GM também cortou no ano passado 8.000 empregos, ou 15% de sua mão de obra, além de fechar quatro fábricas na América do Norte.

Não é como se as concorrentes que não são montadoras estejam em uma situação muito confortável, com os carros autônomos ainda não sendo confiáveis após diversos acidentes e a Tesla, por exemplo, não conseguindo entregar as unidades de carros elétricos que já vendeu.

Por hora, o domínio ainda será das montadoras tradicionais. A Ford faturou 160,3 bilhões de dólares em 2018, com lucro de 3,68 bilhões, e está entre as dez maiores montadoras do mundo.

Mas decida ou não ir em frente com as apostas no setor de entregas, a Ford precisará se esforçar nos próximos anos para que os 3.800 quilômetros que separam sua sede em Dearborn, no Michigan, das gigantes de tecnologia de São Francisco, na Califórnia, não separem também a inovação das empresas.



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