A Petrobras divulgou na noite da última quinta-feira, 2, os resultados de seus Programas de Demissão Voluntária (PDV), implementados pela companhia com objetivo de maximizar a geração de valor para os acionistas. Com a adesão de 10.082 trabalhadores, a Petrobras estima uma diminuição de custo de pessoal até 2025 em torno de 4 bilhões por ano. O retorno adicional – redução de custos na ordem de 22 bilhões menos o desembolso com as indenizações de 4 bilhões – será de aproximadamente 18 bilhões até 2025. O programa é considerado um sucesso por Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras. “Os programas de desligamento voluntário foram elaborados com a preocupação principal de respeitar o direito de livre escolha de nossos colaboradores. O resultado do PDV 2019 foi extremamente positivo com 94% de adesão, dos 10.053 empregados elegíveis, tivemos 9.405 inscritos. Consolidando os demais programas atingimos 10.082 inscrições, o que representa 22% do atual quadro de empregados. Desse modo, contribuindo para a redução permanente da estrutura de custos da companhia, o que nos ajuda a enfrentar com sucesso um cenário de preços mais baixos do petróleo no longo prazo.” Contudo, o presidente da companhia pouco falou sobre o que está por trás de tamanho enxugamento. O motivo está, principalmente, no fim das operações de exploração de petróleo em campos antigos e na venda das refinarias.
Está em curso a venda de oito refinarias da Petrobras — o que tem exigido um esforço hercúleo por parte da cúpula da companhia. Reduzir a folha salarial dessas subsidiárias é preponderante para atrair possíveis compradores — uma vez que, por ser uma empresa estatal, funcionários são remunerados acima da média do mercado internacional e possuem estabilidade. Limpar as folhas de pagamento, por tanto, é tarefa primordial para garantir a atratividade dessas refinarias. A Petrobras teve prejuízo líquido de 48,5 bilhões no primeiro trimestre, grande parte pela revisão das premissas de longo prazo para o petróleo Brent.
Na outra ponta, estão as plataformas de exploração do pós-sal, ou águas rasas, para ficarmos no termo técnico. Esses poços, localizados principalmente no Rio de Janeiro e no Sergipe, têm experimentado queda na produtividade ano após ano e suas revitalizações são custosas para a companhia. A alternativa empregada pela Petrobras até o momento é vender essas plataformas à iniciativa privada, de forma que se desconecte do ônus de cuidar das onerosas -plantas. Como muitas possuem décadas desde o início da operação, elas já estão chegando ao fim de sua vida útil e possuem um alto custo para serem desativadas.
Por isso, todo um grupo de engenheiros, que fez da Petrobras o colosso que é hoje e a tornou uma das principais desenvolvedoras de projetos das Américas, precisa sair para dar espaço para uma nova classe de técnicos que trabalham no novo núcleo de negócios da companhia: o pré-sal. A cúpula da estatal, encabeçada por Castello Branco, pretende renovar e enxugar o departamento para deixar a companhia mais leve e ágil para enfrentar os desafios tecnológicos que o pré-sal impõem. Até o momento está dando certo, apesar da volatilidade excessiva do petróleo que, por vez ou outra, acaba por corroer as margens da estatal.
Cabe lembrar que o impacto esperado das indenizações no caixa da companhia não será imediato em 2020, mas sim diluído ao longo dos próximos três anos. No PDV proposto pela companhia, algumas categorias têm saída prevista em até 24 meses, o que diluirá os desligamentos. Além disso, a estatal optou por diferir o pagamento das indenizações em duas parcelas: uma no momento do desligamento e a outra em julho de 2021 ou um ano após o desligamento, o que for maior. Quem está na companhia há décadas e com a proposta de PDV nas mãos — e são muitos — reclama de desmanche. Grande parte, claro, influenciada pelos grupamentos sindicais que ainda mantêm influência sobre os trabalhadores. Contudo, a Petrobras, uma empresa que vale 290 bilhões de reais, precisa continuar em permanente evolução.
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