Quando Yan Sasse recebeu no bico da área, pela direita, apenas dois minutos após entrar em campo, Mosquera tinha a certeza de que já havia visto aquela cena recentemente. E provavelmente assistiu. Foi dali, contra o Bangu, no domingo, que o meia vascaíno cortou pra dentro, embalou seu marcador até a grama verde, o acalmou, e bateu de esquerda, com a firmeza de um obelisco, para marcar o gol da classificação do Cruzmaltino para a final do Carioca.
O temor do volante do Avaí, naquele instante, era terminar como o zagueiro banguense, ali, deitado no chão, desolado, suplicando por um chute torto que não o colocasse nos melhores momentos sendo toureado até o solo, como um potro manso. Para impedir a cena, o colombiano se colocou ao lado de Sasse, não à frente, quase que lhe implorando para ir ao fundo, não para o meio. Talvez confiando na cegueira do seu pé direito.
Em vão.
Yan levou na direção da linha final, onde queria Mosquera, e bateu cruzado para Yago Pikachu fazer o gol único do jogo, pisando não só na área, como faltou a Lucas Santos fazer, mas na pequena, onde nem Tiago Reis passou perto de colocar os pés nesta noite na Ressacada.
O espaço que até então o Vasco não encontrava, portanto, foi aberto no domingo, no Maraca, contra o Bangu. O drible de Sasse começou no Mário Filho e terminou no Aderbal Ramos da Silva. Por memória, Mosquera impediu o chute direto. Por improviso, Yan soube usar a brecha aberta pelo medo do replay.
E foi praticamente apenas isso que a equipe de Alberto Valentim apresentou ofensivamente em Santa Catarina, contra o Avaí, nesta quarta-feira.
Enquanto que Fernando Miguel, Cáceres, Ricardo Graça, Werley, Danilo Barcelos e Raul se impunham defensivamente – principalmente o goleiro e o jovem zagueiro -, o meio cruzmaltino parecia anunciar seus passes três dias antes, por carta registrada, e-mail e WhatsApp, comunicando ao Avaí com antecedência sobre suas pretensões – foram 40 passes errados.
Era, até as mudanças da etapa final, um ataque distante e previsível, com Lucas Santos centralizado na vaga de Bruno César, e Pikachu e Marrony abertos pelos lados mas com mais preocupações defensivas do que ofensivas. Os três, no entanto, dialogando muito pouco ou quase nada. Assim como Tiago Reis.
As entradas de Sasse e Maxi López mexeram não apenas no individual, mas também no coletivo do time.
Yan assumiu o papel de Pikachu na direita, e o Vasco ganhou uma opção de jogada em diagonal – apesar do gol pelo fundo – e presença de área com Yago tendo maior liberdade para fechar como atacante. Além disso, melhorou a retenção de posse no ataque, com o argentino fazendo o pivô – inclusive no início do gol – que Tiago ainda não aprendeu.
Na semana em que dispensou Thiago Galhardo, o Vasco vê a ascensão de Yan Sasse e os ressurgimentos de Maxi e Pikachu, escanteados nos últimos jogos. Vê, porém, também, uma fragilidade recorrente da falta de opções, que oscilam constantemente.
Vilões e heróis seguem se misturando no Vasco, se embaralhando a cada semana e alterando de status.
Quem antes queria que Sasse fosse extirpado do elenco, hoje já não sabe mais se prefere que o corte ocorra para a direita ou para a esquerda.