Os neozelandeses prestavam homenagem, neste domingo (17), aos 50 fiéis mortos no ataque a duas mesquitas em Christchurch, enquanto surgiam mais informações sobre o massacre.
Paralelamente, a polícia neozelandesa fechou o aeroporto de Dunedin em razão de um pacote suspeito, segundo as autoridades. “O aeroporto de Dunedin está atualmente fechado”, declarou em um comunicado, apontado que “agentes estão no local e uma equipe especializada foi enviada para determinar a natureza do pacote”.
Neste domingo, vários corpos começaram a ser devolvidos às famílias. Uma lista, ainda provisória, menciona detalhes das vítimas, mostrando que tinham entre 3 e 77 anos e que pelo menos quatro eram mulheres.
O governo paquistanês confirmou a morte de nove paquistaneses no massacre, e anunciou que vai homenagear uma de suas vítimas. Um vídeo do ataque mostra um homem sendo morto ao se aproximar do atirador, enquanto que outros fogem a sua volta. O homem seria Naeem Rashid e seu filho também morreu no ataque.
“O Paquistão está orgulhoso de Mian Naeem Rashid que foi morto quando tentou se lançar sobre o terrorista supremacista branco e a sua coragem será honrada com uma condecoração nacional”, tuitou o primeiro-ministro Imran Khan.
O autor do massacre é um extremista australiano, Brenton Tarrant, que, ante o tribunal que o indiciou no sábado (16), fez com a mão direita um gesto típico de grupos supremacistas brancos.
Esse ex-preparador físico, “fascista” autoproclamado, documentou sua radicalização em um longo manifesto de cerca de 70 páginas, cheio de teorias da conspiração e ideias racistas.
Neste domingo, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, revelou que seu escritório recebeu esse manifesto apenas nove minutos antes do início do ataque.
“Eu fui uma das 30 pessoas a quem o manifesto foi enviado nove minutos antes do ataque”, declarou Ardern a repórteres, acrescentando que o documento não especificava o local ou detalhes específicos.
“O fato de haver um manifesto ideológico com visões extremistas relacionado a esse ataque é profundamente perturbador”, comentou.
Os corpos de várias das vítimas do tiroteio ainda permanecem dentro das mesquitas para serem identificados, enquanto as famílias esperam para iniciar os rituais funerários muçulmanos.
Em um cemitério local, as sepulturas de tantas vítimas já começaram a ser abertas.
“Posso confirmar que os corpos dos falecidos começarão a ser restituídos esta noite”, disse a primeira-ministra. Segundo ela, todos os corpos deverão ser entregues a suas famílias até quarta-feira.
Drama e heroísmo
Segundo as autoridades locais, 34 pessoas permanecem hospitalizadas.
O médico Greg Robertson disse que esses pacientes apresentam de lesões relativamente superficiais a “ferimentos graves e complexos”.
Entre os feridos há uma menina de apenas 4 anos, Alin Alsati, que estava em uma das mesquitas com seu pai e que recebeu três tiros.
O pai da menina também foi ferido no tiroteio. A família emigrou recentemente da Jordânia e o pai abriu uma barbearia.
“Por favor, orem por mim e minha filha”, disse ele em um vídeo postado no Facebook do hospital.
Em meio à comoção, histórias de estranhos que agiram heroicamente durante a tragédia começaram a aparecer.
O site de notícias Stuff.co.nz publicou a proeza de Abdul Aziz, um afegão, descrito como um “herói” por ter arriscado sua vida para afugentar o assassino.
Este homem, de 48 anos, explicou que, depois de ouvir os tiros, saiu da mesquita de Linwood deixando seus filhos dentro.
Uma testemunha confirmou que ele perseguiu o atacante, que estava a caminho de seu carro para pegar uma nova arma.
Abdul Aziz conseguiu passar entre vários carros estacionados e pegar uma arma descarregada que o agressor havia jogado no chão.
De acordo com este homem, ele correu “como uma flecha” para o veículo do assassino e quebrou uma das janelas. “É por isso que teve medo”, disse Abdul Aziz, indicando que o indivíduo decidiu então fugir de carro.
Uma ação que talvez tenha impedido mais mortes, já que dois policiais prenderam o agressor pouco depois.
Cidade da tristeza
Daud Nabi, um afegão de 71 anos, teria se colocado na frente do assassino para proteger outros fiéis na mesquita de Al Noor. “Ele pulou na linha de fogo para salvar outras pessoas e morreu assim”, disse seu filho Omar à AFP.
Neste domingo, em toda a cidade de Christchurch, era possível ver vigílias, memoriais e grupos de oração em homenagem às vítimas.
“Estamos com nossos irmãos e irmãs muçulmanos”, dizia um enorme cartaz instalado em meio a um mar de flores em frente a uma das mesquitas.
Em outro cartaz, uma mão anônima descreveu Christchurch como “a cidade da tristeza”.
Na catedral da localidade, o padre Lawrence Kimberley celebrou uma missa em “solidariedade com a comunidade muçulmana”.
“Aprendemos durante o terremoto (de 2011) que em tempos difíceis é bom estender a mão aos outros. É hora de fazer isso de novo”, disse Kimberley à sua congregação.
Em Auckland, uma multidão das mais diversas origens organizou uma vigília silenciosa em frente à mesquita de Umar.
As vítimas são originárias de vários países do mundo muçulmano, disse Jacinda Ardern. Quatro egípcios, um saudita, um indonésio, quatro jordanianos e nove paquistaneses, estão entre elas.