Como surgiu o UniãoSP, grupo de empresários paulistanos contra a Covid-19 que você ajudou a criar?
Surgiu na segunda semana de março, quando vimos que a crise teria impactos gravíssimos. O Eduardo Mufarej e o Luciano Huck começaram a criar grupos on-line. Em paralelo, minha família fez uma reunião. Iríamos pensar em como organizar nossos negócios, mas percebemos que seria preciso fazer mais: salvar as pessoas. Pelo contato com nossos fornecedores a gente decidiu ajudar com cestas básicas. Tem duas pessoas da família no UniãoSP, a Geyze — esposa do meu pai (o empresário Abilio Diniz) — e eu.
Para arrecadar as doações, você pegou a agenda e ligou para amigos?
Cada um pegou a sua: eu, a Geyze, o Eduardo. No começo, tivemos dificuldade. Depois que conseguimos alguns grandes doadores, a coisa fluiu. O dinheiro picadinho (doações pelo site) vem bem desde o início, entravam 50 000, 60 000 reais por dia. Mas a gente precisava de doações expressivas. A meta inicial era entregar 120 000 cestas. Agora, passou para 500000. Precisamos de mais 8 milhões de reais. (O grupo já arrecadou 17,7 milhões de reais e entregou 295 000 cestas na pandemia a comunidades carentes do estado, a maior parte na capital.) O maior doador foi o fundo Advent, do Patrice Etlin: 4 milhões de reais, doação até maior que a de nossa família.
A Península (gestora familiar que cuida da fortuna do clã de Abilio, estimada em 3,1 bilhões de dólares) não anunciou uma doação de 50 milhões de reais?
Na verdade, a gente separou esse capital. É um fundo destinado ao combate da Covid-19 de 50 milhões de reais, dos quais 2,5 milhões tinham ido para o UniãoSP e 500 000 para a (ONG) Gerando Falcões. Depois, a gente doou mais 2 milhões ao UniãoSP. Também destinamos 5 milhões para o Estímulo 2020 (iniciativa de capital de giro para pequenos negócios). O fundo surgiu em uma reunião do conselho da Península — meu pai, eu, meus irmãos João Paulo e Pedro Paulo, a Geyze e dois profissionais da gestora. Nunca gostamos de assistencialismo, preferimos dar ferramentas de formação. Mas percebemos que a doação ao UniãoSP tinha sido pequena. Um dos meus irmãos chutou o número de 50 milhões e todo mundo embarcou, porque é um número expressivo, importante para o tamanho do nosso patrimônio. Esse processo familiar tem sido bacana. Nossa família sempre foi unida, mas cada um fazia as próprias coisas. Agora, com esse efeito de solidariedade, nós estamos fazendo tudo junto.
A experiência mudou sua percepção sobre o assistencialismo e a importância do Estado?
Eu trabalho com o Estado há quinze anos, em parceria com secretarias de Educação. A percepção não mudou. Tenho uma convicção de que trabalhar junto ao governo faz muito mais diferença que em paralelo. O Estado é travado, mas faz diferença.
“A família percebeu que a doação tinha sido pequena. Então meu irmão chutou um número: 50 milhões. E todo mundo embarcou”
Ana Maria Diniz
O empresariado brasileiro nunca teve a filantropia como ponto forte. Isso muda após a Covid-19?
Não sei se é otimismo, mas acho que sim. É impossível se envolver nessa ajuda e não mudar. Tem um retorno enorme em ver suas iniciativas saciarem uma necessidade do outro. Alimenta a gente. Abriu-se um portal, as pessoas estão mais sensíveis. Inclusive minhas conversas em família, na quarentena, agora são sobre isso. Mudou o eixo de preocupação. A solidariedade veio para ficar. É claro que, se a vida retomar, isso pode ficar de lado. Mas estou fazendo tudo que posso, com amigos e familiares, para transformar este momento em uma nova atitude. Vamos fazer um documentário sobre doações. A ideia surgiu na Casa do Saber e agora sou líder desse projeto.
Como tem passado a quarentena?
Estou isolada desde 13 de março na minha fazenda em São Carlos com meu marido (o cientista político Luiz Felipe D’Avila) e três filhos. Estou em um lugar privilegiado, na natureza, cheio de sol. É inevitável pensar naqueles que não têm isso… Mas, se a gente entra na paranoia, tipo “meu Deus, estou desfrutando o sol…” Eu entrei nessa. Você começa a girar em falso, vai parar em um túnel escuro, e acabou. A gente tem de se manter centrado e focar o que é relevante.
O que acha do debate sobre o relaxamento da quarentena?
Acho que não existe saúde versus economia. Se você descuidar da saúde, morre. Primeiro a gente tem de garantir que nenhum ser humano mais vai morrer, o que a gente não tem conseguido no Brasil. A economia, que é fundamental, tem de ser pensada paralelamente.
Como avalia a resposta à crise dos governos estadual e federal?
O governo de São Paulo está tentando fazer um bom trabalho. Mas, sinceramente, não quero entrar nessa polêmica.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 20 de maio de 2020, edição nº 2687.
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