RIO — Desde fevereiro, quando uma moradora da comunidade do Vidigal, na Zona Sul do Rio, morreu em decorrência de um deslizamento de terra causado pelo temporal que caiu na cidade, nenhuma chuva é encarada da mesma maneira pelos moradores do local. Na noite desta segunda-feira, as sirenes espalhadas no morro avisaram aos moradores que era necessário buscar um local seguro. O sinal perdurou por toda a madrugada e também pela manhã. Felizmente, desta vez, não foram registradas desabamentos, como no segundo mês do ano.
Vídeos compartilhados nas redes mostram que a principal via da comunidade, a Avenida Presidente João Goulart, se transformou em uma cachoeira. A água levava lixo, galhos e até carros ladeira abaixo. O mesmo se repetiu em outras localidades e quanto mais estreita a rua, pior a situação para os moradores. Imagens da “Pedra do Seu Vitor”,”25″,”314″ e “Jaqueira”, deixavam claro que quem não havia chegado em casa, provavelmente não chegaria mais.
Foi o que aconteceu com Jéssica Silva, moradora do Vidigal que trabalha em um shopping na Barra da Tijuca. Há dois meses, ficou quase uma semana sem conseguir voltar para casa após o temporal, nesta noite, mais uma vez, contou com a ajuda de uma colega do trabalho e se abrigou na casa dela.
— Quando começou a chover eu já mandei mensagem pra minha família dizendo que só chegaria em casa no dia seguinte. Enfrentei um dilúvio para chegar na casa da minha colega, mas pelo menos fiquei num lugar seguro. Não conseguiria passar pela Niemeyer.Provavelmente só ia ficar presa em algum ônibus pelo caminho — relatou.
Hoje pela manhã, garis comunitários tentavam recolher os resíduos que se espalharam pelas ruas do Vidigal. Por volta de 9h, dois caminhões da Comlurb também subiram a comunidade para recolher lixo e entulho.
A Avenida Niemeyer, única via para chegar à comunidade, está interditada há mais de 14h. A opção para quem precisa sair de casa e se locomover para outro bairro são as vans. A suspensão de aulas e a determinação de ponto facultativo fizeram com que o movimento fosse fraco. Normalmente, durante toda a manhã, os veículos seguem lotados até o ponto final, na Rocinha.
— Só espero que dessa vez a gente não fique mais de duas semanas sem poder pegar um ônibus — disse uma moradora dentro do veículo nesta manhã, lembrando quando, também em fevereiro, o perigo de deslizamentos manteve a Niemeyer interditada.