NOVA YORK – A Nissan Motor pagou as mensalidades dos quatro filhos de Carlos Ghosn, presidente do conselho da empresa que foi afastado por má conduta financeira, quando eles estudaram na Universidade de Stanford, entre 2004 e 2015, segundo pessoas a par do assunto.
A filha mais velha de Ghosn, Caroline, formou-se em Stanford em 2008, seguida pelas filhas Nadine e Maya em 2011 e 2013, respectivamente, e pelo filho Anthony em 2015.
O privilégio era parte do contrato de trabalho de Ghosn de 1999, quando ele foi contratado como diretor executivo da montadora japonesa, disse uma das pessoas, que pediu anonimato porque a informação não é pública. Esse benefício, que não é comum entre os executivos do alto escalão, teria custado pelo menos US$ 601 mil, de acordo com as tabelas de tarifas publicadas pela Universidade de Stanford durante os anos em que os filhos de Ghosn estavam matriculados.
Em comunicado, a Nissan preferiu não comentar os detalhes dos pacotes de remuneração dos executivos. O advogado de Ghosn em Paris, Jean-Yves Le Borgne, também preferiu não comentar, e um porta-voz de Stanford, na Califórnia, não respondeu aos pedidos de entrevista.
Ghosn, de 65 anos, foi acusado no Japão de sonegar dezenas de milhões de dólares de sua renda na Nissan e de usar fundos corporativos indevidamente. Ele negou as irregularidades e está aguardando julgamento sob fiança depois de ter passado 108 dias em uma prisão de Tóquio.
As mensalidades de Stanford somam-se a uma lista de adicionais extravagantes de que Ghosn desfrutou quando comandava a Nissan e suas parceiras de aliança Renault e Mitsubishi Motors. A lista inclui residências de luxo em quatro continentes e uma festa de casamento no Palácio de Versalhes.
A vantagem da riqueza para conseguir acesso a universidades de elite dos EUA se tornou um assunto polêmico após recentes alegações de que pais ricos subornaram administradores e técnicos das universidades nas melhores instituições para que seus filhos fossem admitidos.
Embora não existam acusações desse tipo de pagamento no caso de Ghosn, é “extremamente incomum” que a Nissan pagasse as mensalidades dos filhos dele, segundo Robin Ferracone, diretor da Farient Advisors, uma consultoria de compensação executiva com sede em Nova York e Los Angeles.
— Normalmente, só se veem reembolsos de mensalidades como parte da transferência de expatriados e somente para filhos abaixo da idade universitária — diz Ferracone.
Os registros oficiais da Nissan no Japão e nos EUA, onde suas ações são negociadas como recibos de depósitos americanos, não incluíram nenhuma informação sobre os benefícios de Ghosn. De acordo com a legislação dos EUA, os benefícios dos executivos são tratados como uma remuneração tributável, e as empresas de capital aberto dos EUA devem divulgá-los aos investidores. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA abriu uma investigação sobre se a Nissan, que tem sede em Yokohama, divulgou com precisão a remuneração dos executivos. A Nissan afirmou que está cooperando.