“Não queremos um boulismo dentro do PSOL”, diz Erika Hilton

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O PSOL tomou do PT os votos da esquerda paulistana. Por que isso aconteceu?

O antipetismo ainda é forte no Brasil. O bolsonarismo criou a visão de que o PT é o causador de todos os males. É uma visão equivocada. Mas o PT falhou em alguns momentos: na autocrítica, na organização da militância.

Qual autocrítica o PT deveria fazer?

Perceber que a gestão Lula-Dilma, por melhor que tenha sido, não foi 100% uma maravilha. Esse endeusamento da figura do Lula… O PT precisa ver os pontos positivos e negativos das gestões, com relação a esquemas de corrupção — não da Presidência, mas de parlamentares —, aos acordos com Temer, Cunha…. Precisaria parar de endeusar o Lula.

No que a nova esquerda se difere dessa que gerou o Lula?

Era uma esquerda ligada à luta contra a ditadura. Não tinha a uberização do trabalho. O capitalismo mudou. Os jovens da periferia que trabalham de maneira muito barata nos apps não estão ligados à ditadura ou a movimentos operários, estão na era da internet. A comunicação é outra, o público é outro. O Boulos consegue dialogar com a juventude contemporânea. O PT ainda usa uma comunicação e um formato de militância mais arcaicos.

O PSOL está capturando esse “novo proletariado” dos apps?

Estamos construindo isso, mas não se trata de uma captura, não queremos ser porta-voz, não queremos um lulismo, um boulismo dentro do PSOL. Queremos é que esses trabalhadores construam e pautem o partido. Um exemplo é o Galo de Luta, um parceiro meu que é líder dos trabalhadores de apps, responsável pelo breque (o protesto de julho). Outros líderes também estão próximos do PSOL, fiz live com eles, estivemos na rua juntos.

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Essa nova esquerda é anticapitalista?

A esquerda sempre será anticapitalista. A nova esquerda é profundamente anticapitalista. Nossa esquerda não acredita no capitalismo, achamos que é um câncer da sociedade. A gente propõe saúde e educação para todos, e isso não é possível quando os poucos que detêm os meios de produção oprimem a mão de obra.

Você mora perto da Rua Rego Freitas. O que deveria mudar no Plano Diretor para recuperar o Centro da cidade?

Não consigo responder de pronto. Preciso agora parar para estudar certos temas, como o Centro. Mas tem de aumentar os serviços de assistência social, como o Cras, o atendimento à população de rua nas entradas do metrô, as unidades móveis de saúde, as casas de acolhida.

O que a Câmara Municipal poderia fazer pelas trans?

Vamos colocá-las nas escolas, fazer a escola discutir gênero e sexualidade, desmistificar essa ideia de ideologia de gênero, mamadeira de piroca, kit gay e outros absurdos das fake news. Vamos garantir-lhes emprego, moradia digna, casas de acolhida, ampliar o Transcidadania, mostrar para o cidadão paulistano que a população trans também é gente. Assegurar que tenham inserção social e direito à cidadania.

A Cracolândia tem solução?

A solução não é simples. Está ligada a educação, emprego e renda, moradia digna, fortalecimento dos serviços sociais. A solução da Cracolândia não está lá, está no contexto social. Não adianta chegar ali e jogar água, desmontar os barracos. É preciso olhá-los com humanidade e entender o projeto político que tem levado a essa realidade. É claro que ninguém gosta da Cracolândia, faz mal para a cidade, ninguém ganha com ela. Mas resolver o problema não é meter bala, não é puxar a lona.

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Você defende a renda básica municipal. De onde viria o dinheiro?

Há dinheiro nos cofres da prefeitura, da Assembleia Legislativa. O dinheiro não foi todo embora por causa da pandemia. São Paulo é a cidade mais rica da América Latina, nós temos de onde tirar esse dinheiro.

Como será o diálogo com Thammy Miranda, trans eleito vereador e de partido conservador, o PL?

Não conheço o Thammy, espero que possamos construir um diálogo que atenda às necessidades da população LGBT. Não tenho dúvida de que, pela maneira como se posiciona, ele vai fazer essa construção comigo. Acompanho o trabalho dele de longe e vejo que tem coerência. Estivemos juntos na Alesp contra o PL 346 (veto a atletas trans), que era transfóbico. É uma das primeiras pessoas com quem vou buscar diálogo.

Quando você se descobriu trans?

Sempre fui trans, desde a infância. Dizia que era as divas da televisão, a Hebe, a Paola da novela A Usurpadora. Minha mãe nunca me reprimiu (Erika não conviveu com o pai). Mas em dado momento ela se converteu à igreja (evangélica Congregação Cristã no Brasil) e me expulsou de casa. Fizeram lavagem cerebral nela, e ela achou que era coisa do demônio. Vivi a adolescência na prostituição, em Itu. Dormi nas ruas, passei por casa de cafetina… Isso dos 15 aos 19 anos. Aí minha mãe superou aquelas ideias e me resgatou. Eu voltei para casa e para os estudos. Hoje ela é uma mulher maravilhosa, com uma mente aberta.

Você gastou 87 000 reais na campanha. Em 2016, a média dos eleitos foi de 345 000. Dinheiro não é mais fundamental nas eleições?

É fundamental. É imprescindível, mas não é tudo. Veja que sou a mulher mais bem votada da cidade. Mas sem dinheiro não se faz campanha. Precisei de dinheiro para estar nessa disputa de forma digna. Sem dinheiro, você entrou para perder, isso é fato.

Como conseguiu o apoio de dezenas de intelectuais e artistas?

Fui atrás deles. Liguei para vários, como o Emicida. O Lulu Santos declarou apoio de forma voluntária: fiz um tuíte sobre o The Voice e ele respondeu “Aqui é 50700 (o número de campanha)”. Mas liguei para PablloVittar,ZéliaDuncan,RenataSorrah,MelLisboa… Aí os fãs que acreditam nesses artistas passaram a conhecer meu projeto.

“Vivi a adolescência na prostituição. Dormi nas ruas. Aí minha mãe superou a igreja e me resgatou”

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Publicado em VEJA São Paulo de 02 de dezembro de 2020, edição nº 2715

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