RIO — Ao contrário do ex-presidente
Michel Temer e do homem que é apontado como seu operador, que ficaram em silêncio
, o ex-ministro Moreira Franco resolveu falar em depoimento nesta sexta-feira aos procuradores da
Lava-Jato
. O emedebista afirmou que “nunca exerceu atividade formal ou informal como arrecadador de recursos para o MDB” e que nunca falou com João Baptista Lima Filho — o
coronel Lima
, apontado como operador de Temer — e nem com o delator José Antunes Sobrinho, da empreiteira Engevix, sobre tal assunto, em especial no ano de 2014.
No depoimento, obtido pelo GLOBO, Moreira Franco afirma que “nunca recebeu nenhuma incumbência por parte do ex-presidente Michel Temer de pedir, cobrar ou pressionar” Sobrinho para que pagasse valores relacionados à campanha eleitoral ou qualquer outra finalidade. A delação do empreiteiro é uma das bases usadas para deflagrar a operação.
Moreira Franco afirma ainda que o coronel Lima também não comentou com ele se estava pressionando Sobrinho para pagamento de valores em decorrência dos contratos que a Engevix estava vinculada às obras de Angra 3. A operação que levou Temer à cadeia aponta que o ex-presidente teria recebido propina em decorrência de contratos nessa obra. O ex-ministro disse ainda que o empresário da Engevix nunca comentou com ele se estava sendo cobrado ou pressionado por Lima para pagamento de valores.
O emedebista declarou ainda que é de conhecimento dele e de pessoas mais próximas que Temer tem relação de amizade com coronel Lima, o que, inclusive, sempre foi confirmado pelo ex-presidente. Ele disse ainda que desconhece que Temer tenha relação comercial com o homem que é apontado como operador dele. Moreira Franco afirmou desconhecer que Lima e suas empresas, de alguma forma, custeasse despesas de Temer.
O ex-ministro disse ainda que sabia que a Argeplan era uma empresa de coronel Lima e que, quando conheceu o amigo de Temer, o ex-presidente falou que coronel Lima era dono da empresa. Mesmo sem expertise e funcionários, a Argeplan mantinha contrato nas obras de Angra 3.
Moreira Franco afirma que se recorda de ter estado com o coronel Lima em duas oportunidades. Na primeira, estava no Palácio do Jaburu para despachar com o ex-presidente. Foi quando Temer apresentou o amigo. Todos almoçaram juntos nessa ocasião. A segunda vez foi no contexto da definição de agenda política durante campanha eleitoral. Ele disse não recordar exatamente qual eleição, mas certamente foi depois que Temer assumiu a presidência do país.
O ex-ministro foi preso ontem na Operação Descontaminação e está custodiado no Batalhão Especial Prisional (BEP), em Niterói, o mesmo onde está o ex-governador do Rio Luiz Fernando Pezão.