Menos Paris, mais Ubatuba: Airbnb cresce para além de cidades mais óbvias

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Quatro milhões de pessoas. É mais ou menos o número de moradores de Medellín, na Colômbia, de Tel Aviv, em Israel ou de Roma, na Itália. E mais gente do que a população de Salvador, na Bahia (2,6 milhões de pessoas), ou de Berlim, na Alemanha (3,6 bilhões de habitantes).

Pois essa foi a quantidade de pessoas mundo afora que, em único dia no último 10 de agosto, se hospedaram em um quarto, casa ou apartamento alugado pela ferramenta de hospedagem Airbnb. Foi a noite mais movimentada da história da companhia, criada em 2008.

Os números do Airbnb ainda são pouco divulgados por a empresa ser de capital fechado, mas esses e outros dados obtidos em primeira mão por EXAME jogam alguma luz sobre o crescimento do Airbnb no mundo e no Brasil.

Com a empresa presente em mais de 100.000 cidades pelo mundo, os números mostram que a companhia americana vem ampliando sua presença em lugares onde outrora tinha pouca ou nenhuma participação.

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Em 2011, somente 12 cidades tinham mais de 1.000 anúncios de locação na plataforma, isto é, com ampla disseminação do Airbnb. Hoje, quase 1.000 cidades chegaram a essa faixa.

A expansão faz com que cidades maiores e mais turísticas venham dividindo os holofotes com novos lugares. A empresa não divulga um ranking das cidades com maior participação no Airbnb, mas aponta nestes novos números que cidades que são polos turísticos globais, como Londres, Paris e Nova York, embora também tenham crescido em número de anúncios e locações no Airbnb, hoje representam fração muito menor no todo das transações da empresa. Atualmente, nenhuma cidade tem mais de 1% das locações ou anúncios totais da ferramenta.

Além disso, 92% de todas as chegadas de hóspedes ocorreram fora das dez maiores cidades do Airbnb. Em 2011, as cidades fora do top 10 respondiam por 60%.

Há oito anos, só em 20 cidades os anfitriões — como é chamado quem disponibiliza seu imóvel para aluguel no Airbnb — haviam ganhado, combinados, mais de 1 milhão de dólares com locações em 12 meses. Hoje, os ganhos foram atingidos em 3.000 cidades nos últimos 12 meses.

Fundada com o nome de Airbed & Breakfast, o Airbnb hospedou mais de meio milhão de pessoas e tem atualmente mais de 6 milhões de imóveis, quartos ou outros espaços anunciados para locação. (Algumas bem peculiares, como 4.000 castelos e 2.400 casas na árvore.) Na média, mais de 2 milhões de pessoas usam locações do Airbnb por dia.

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Apartamento no Airbnb: Brasil é o 13º mercado da empresa no mundoReprodução

Presença no Brasil

Ao divulgar os novos números, o Airbnb afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que “grande parte do crescimento da plataforma” foi “impulsionado pela crescente procura de viagens para lugares da América Latina, África e Ásia-Pacífico”. O aplicativo está disponível hoje em mais de 100.000 cidades em mais de 190 países.

O Airbnb não divulga muitos números específicos sobre o Brasil, que é o 13º maior mercado da companhia no mundo, informação divulgada em julho deste ano. Em 2018, foram 3,7 milhões de hóspedes no Brasil, ante 600.000 em 2016.

A empresa calcula que tenha gerado 7,7 bilhões de reais em impacto econômico no Brasil no ano passado, incluindo refeições, passeios e outros gastos que os turistas fazem além da hospedagem.

As cidades brasileiras com maior participação na plataforma ainda não são divulgadas pelo Airbnb. Mas algo que se sabe pelos números divulgados nesta quinta-feira é que Ubatuba (SP), no litoral norte paulista, está na lista de cidades que receberam mais de 100.000 hóspedes em 2018.

Seguindo a tendência de expansão e desconcentração do crescimento do Airbnb, as cidades que, tal qual Ubatuba, tiveram mais de 100.000 visitantes, passaram de apenas uma em 2011 para mais de 300 no ano passado. Outra cidade brasileira na lista é São Paulo, que recebeu 365.000 hóspedes em 2018, segundo dados divulgados anteriormente pelo Airbnb.

Não necessariamente Ubatuba ou São Paulo são as maiores cidades do Airbnb no Brasil, com cidades altamente turísticas como o Rio de Janeiro (RJ) também podendo ter grande participação. (O Airbnb, contudo, não confirma os números do Rio.)

O estado de Santa Catarina também apareceu recentemente em uma lista publicada pelo Airbnb que mostrou os destinos “tendência” para 2019, com base nos que tiveram mais reservas e crescimento em outubro de 2018 na comparação com outubro de 2017. Santa Catarina dobrou o número de reservas e de vezes em que foi incluída na “lista de desejos” de usuários. As cidades com destaque nas altas catarinenses foram Joinville (alta de 216% nas reservas ante outubro de 2017), Itajaí (166%) e Blumenau (134%).

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Praia em Ubatuba, em São Paulo: uma das mais de 300 cidades no mundo com mais de 100.000 hóspedes via Airbnb

A saída é pelos emergentes

Em entrevista a EXAME no ano passado, o presidente do Airbnb no Brasil e na América do Sul, Leonardo Tristão, disse que, apesar de o número de turistas estrangeiros no Brasil ainda ser baixo, o número de viagens internas no país também representa mercado importante para as operações do Airbnb por aqui.

Em 2018, chegaram ao Brasil 6,6 milhões de turistas estrangeiros, cerca de 61% vindos da América do Sul e 22% da Europa, segundo o Ministério do Turismo. A pasta não calcula os turistas nacionais, mas a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aponta que mais de 95 milhões de pessoas desembarcaram de voos nacionais em 2018, com boa fatia podendo representar turistas.

É parte dessas pessoas que o Airbnb quer atrair para sua plataforma. De acordo com a Organização Mundial do Turismo, o turismo internacional vai subir 7,2% nas economias emergentes e 4,3% em economias avançadas. Crescer para além de Nova York e Londres e em países como o Brasil, portanto, é boa notícia para o Airbnb.

Na rota do crescimento, contudo, a empresa ainda deve enfrentar movimentos de pressão da rede hoteleira, que quer uma regulação para que os anfitriões do Airbnb paguem impostos parecidos aos pagos por hotéis.

A primeira (e por enquanto única) regulação sobre o tema no Brasil foi em Caldas Novas (GO), onde pessoas que alugarem imóveis por curto período precisarão declarar o uso da propriedade para tais fins e pagar Imposto Sobre Serviço (ISS) nas locações. Em Ubatuba, inclusive, uma regulação similar chegou a ser aprovada, mas foi barrada em seguida.

“É um movimento de regulação semelhante ao que aconteceu com os aplicativos de transporte, como a Uber. Essa hora vai chegar para o Airbnb também”, diz a advogada Camila Oliveira, da Miceli Sociedade de Advogados. Em quanto mais cidades diferentes o Airbnb fizer sucesso, mais casos de pressão para novas regras devem surgir.

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