RIO — Nem violência, nem frio ou chuva. Para Edilson Lima de Souza, o pior problema de estar em situação de rua é a falta de higiene e banho.
— Se não estou limpo as pessoas fogem, se afastam de mim. É isso que dói. Se estou sujo, com mal-cheiro, nem biscate ou trabalho temporário em obra eu consigo — conta Souza.
Agora o carpinteiro nascido no Piauí, morador de rua no Rio há sete anos, pode estar sempre “novo em folha”, como diz. Lançado neste sábado na Praça São José, na Lagoa, o projeto itinerante “Banho de amor” vai oferecer chuveiro para a população em situação de rua em diversos pontos da cidade. Os atendidos ganham um kit com shampoo, sabonete, toalha e chinelos. Além disso, são recebidos com sanduíches, café e frutas.
A ação terá como base a Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, um dos parceiros do projeto ao lado da Paróquia São José da Lagoa e da Ação de Amor do Cristo Redentor, braço social do Santuário Cristo Redentor. De lá, seguirá para ações diárias em locais onde há maior concentração da população de rua como a Lapa e outros pontos do Centro.
O trailer com o chuveiro tem capacidade para 40 banhos diários e atende, com privacidade, uma pessoa por vez. Segundo o padre Omar, pároco da igreja São José da Lagoa, o banheiro social é inspirado na
iniciativa do Papa Francisco
que, desde 2015, vem reformando banheiros públicos para atender os sem-teto de Roma.
— Esse banho é uma forma de fazer o bem e garantir um pouco de dignidade para eles — diz Padre Omar.
Com trabalho de uma equipe de voluntários, o projeto visa estimular a autoestima e a inclusão social ao contribuir para a melhoria da qualidade de vida e saúde dessas pessoas. De acordo com o levantamento “Somos todos cariocas”, realizado por profissionais da Secretaria municipal de Assistência Social e Direitos Humanos em parceira com o Instituto Pereira Passos (IPP) no ano passado,
são 4.628 pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro
.
Uma das voluntárias, a assistente social Silvia Gonzaga, que trabalha há 18 anos em projetos que atendem essa população, acredita que o banho é um primeiro passo para tentar quebrar o ciclo de desalento que os atinge.
— Quando eles saem do chuveiro a gente consegue sentir que estão renovados. Ainda temos que avançar muito para dar mais dignidade a essas pessoas, mas já é um começo.
Na Catedral, o projeto funcionará terças e quintas das 10 às 16h. As ações em outros pontos da cidade ainda vão ser definidos.