Nova York – A companhia que certificou a segurança de uma barragem que ruiu na semana passada em Brumadinho, matando ao menos 115 pessoas, trabalhou tanto como consultora quanto avaliadora independente da segurança para a proprietária do empreendimento, a Vale, o que levanta questões entre especialistas sobre potenciais conflitos de interesse.
Funcionários da empresa alemã TÜV SÜD, que a Vale contratou para certificar a segurança da barragem, agiram como consultores da companhia brasileira para o fechamento de minas no Brasil, mostram documentos. Os laços próximos entre as empresas são reforçados pelo fato de que funcionários da TÜV SÜD foram coautores em relatórios de pesquisa com a Vale e falaram em conferências com trabalhadores da gigante da mineração brasileira.
Os melhores padrões da indústria de gerenciamento de barragens de rejeito como a que ruiu em Brumadinho ressaltam que o inspetor de segurança – também conhecido como auditor – seja capaz de demonstrar independência de seus clientes. “Em princípio, este é um conflito de interesses”, afirma Eduardo Marques, professor de Geologia e Engenharia da Universidade Federal de Viçosa, referindo-se em geral a esse tipo de dupla função.
A barragem da Vale rompeu em 25 de janeiro, inundando a área com rejeitos da mina Córrego do Feijão – a água e os produtos químicos usados na mineração. Outras 238 pessoas estão desaparecidas e podem estar mortas. Uma investigação está em andamento para determinar as causas.
Uma porta-voz da Vale afirmou por e-mail que a TÜV SÜD é uma auditora externa da companhia brasileira. Ela não respondeu diretamente se o papel duplo da empresa alemã representaria algum conflito de interesses. A porta-voz disse que a barragem havia sido inspecionada repetidamente e monitorada não apenas pela TÜV SÜD, mas por outras companhias externas e pela própria Vale. Ela acrescentou que a inspeção mais recente da Vale havia sido de 22 de janeiro e mostrava estabilidade na área.
A TÜV SÜD, por sua vez, afirmou em comunicado que havia concluído avaliações na barragem em junho e setembro de 2018. A companhia disse que lamentava o acidente, mas que não podia comentar mais, diante das investigações em andamento.
Apesar de algumas diretrizes internacionais no setor, é comum no Brasil que companhias como a TÜV SÜD assumam papel tanto de consultorias quanto de inspetoras de segurança, disseram especialistas. Fonte: Dow Jones Newswires.