“Hipopótamos da cocaína”: Colômbia anuncia medidas para resolver o problema

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“Hipopótamos da cocaína”: Colômbia anuncia medidas para resolver o problema
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No início de junho, o Olhar Digital noticiou que um levantamento feito pelo Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia aponta que Pablo Escobar, um dos narcotraficantes mais conhecidos do mundo, deixou uma herança perigosa para o país: os chamados “hipopótamos da cocaína”.

Por que eles são uma ameaça: Os hipopótamos da Colômbia são considerados uma espécie exótica invasora. Essa designação é dada a todos os organismos que não são naturais do local onde foram introduzidos. Geralmente, esse processo de inserção de animais (ou plantas) não nativos tende a causar perda de biodiversidade, sendo apontado pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) como a segunda causa de extinção de diversidade biológica.

Hipopótamo à margem do rio Magdalena, na Colômbia. Esses animais, que não são nativos, foram importados para o país pelo narcotraficante Pablo Escobar, se multiplicando desenfreadamente e representando uma ameaça grave à biodiversidade local. Crédito: Guillermo Ossa – Shutterstock

Agora, o governo colombiano anunciou que vai enviar dezenas desses hipopótamos para outros países. O restante, segundo informado pela ministra do meio ambiente Susana Muhamad em uma live transmitida na última semana, deverá ser gradualmente esterilizado ou eutanasiado. 

Durante a transmissão, a ministra garantiu que seu plano de controle populacional e de transferência dos hipopótamos será feito com ética e seguindo protocolos de segurança. Por meio de um acordo feito com a Índia, 60 paquidermes serão conduzidos para o país. Outros 15 vão para as Filipinas e 10 para o México, totalizando 85 animais “exportados”.

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Quanto à esterilização, a ministra informou que o procedimento será feito em 40 indivíduos por ano a um custo de 40 milhões de pesos colombianos, o que equivale a cerca de R$47 milhões.

A esterilização começará dentro de seis meses com 20 hipopótamos. Nossa meta é avançar para 40 cirurgias anuais, o que nos levaria a conter a capacidade reprodutiva da população

Susana Muhamad, ministra do meio ambiente da Colômbia

Sobre a medida extrema de eutanasiar alguns deles, Susana disse que isso, se necessário, será feito de maneira restrita e segura.

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Entenda o caso dos “hipopótamos da cocaína” da Colômbia

Tudo começou em 1981, quando “El Patrón” importou ilegalmente um macho e três fêmeas da espécie Hippopotamus amphibius de um zoológico nos EUA e os transferiu para a Hacienda Nápoles, famosa residência do criminoso internacional localizada na cidade de colombiana de Doradal, no vale do rio Magdalena.

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O governo colombiano vai “exportar” 85 hipopótamos descendentes dos animais introduzidos no país por Pablo Escobar na década de 1980. Crédito: David Havel – Shutterstock

Após a morte de Escobar, em 1993, os animais (que são os herbívoros mais agressivos do mundo) foram deixados à própria sorte, procriando e se dispersando nas áreas circundantes, estabelecendo uma população saudável ao longo do rio. Agora, no entanto, o censo do governo revelou que há cerca de 215 hipopótamos no país – o dobro do esperado originalmente. Cientistas alertam que os animais, vivendo em relativa segurança pela proibição da caça e ausência de predadores, podem chegar a 1.500 até 2035. 

Além disso, os pesquisadores descobriram que cerca de 37% deles são jovens, o que indica que a reprodução está acontecendo mais cedo e com mais frequência. Esses animais podem procriar durante a maior parte da vida, que é estimada entre 40 e 50 anos.

Pesquisadores da Universidade Nacional da Colômbia, do Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, em Bogotá, e do Cornare, órgão ambiental que administra uma área onde vivem os hipopótamos, fizeram grandes esforços para contabilizar os animais, gerando um estudo aceito para publicação pela revista Nature.

Além de ser perigoso se aproximar deles, os hipopótamos são seres noturnos, viajam longas distâncias e passam até 16 horas submersos na água, dificultando severamente o monitoramento.

Outro ponto que agrava a situação é que esses animais têm um enorme impacto no ambiente físico, destruindo mais de 50 kg de vegetação diariamente, por exemplo, e ameaçando espécies nativas, com o peixe-boi (Trichechus manatus), a lontra neotropical (Lontra longicaudis) e a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), que são vítimas do apetite voraz dos hipopótamos. 

As margens dos rios também estão sendo severamente erodidas à medida que eles entram e saem da água – que também está sofrendo devido à defecação exagerada desses animais.

Esterilizar os hipopótamos é caro e demorado

Embora os hipopótamos tenham começado a ser esterilizados pelo governo em 2011, um número muito pequeno deles foi tratado, devido aos custos e logística de aproximação. 

Uma estratégia é administrar contraceptivos nos animais por dardo. Isso pode gradualmente eliminar hipopótamos, impedindo sua reprodução, mas é um processo lento, caro e que não foi testado em grande escala antes. Estima-se que o método poderia erradicar os hipopótamos em 45 anos por não menos que US$850 mil.

A opção do abate é polêmica. Quando um macho agressivo chamado Pepe foi legalmente capturado e morto em 2009, isso gerou protestos e acabou levando à proibição da caça. No início deste ano, a ministra Susana Muhamad prometeu proteger, e não reduzir, a população de hipopótamos, o que acendeu o sinal de alerta entre pesquisadores preocupados com a biodiversidade do país.

“Há um peso moral na decisão de abater um hipopótamo”, disse Rafael Moreno, ecologista do Instituto Humboldt que fez parte do estudo. “Mas o peso da outra decisão – a inação – é muito maior”.

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