Guerra Mundial Z

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Curiosamente, no mesmo dia em que termino um texto criticando a procura do público pelo “novo” onde normalmente ele não está, vejo o top 10 da Netflix e noto a presença de alguns filmes não tão novos assim. Dentro desse escopo, um filme de 2013, no caso, “Guerra Mundial Z”, é considerado antigo pela maior parte do público do streaming.

Entende-se, no entanto, por que a corrida atrás desse filme sobre uma pandemia causada por um vírus que transforma todo mundo em zumbi. Infelizmente, esse filme é dirigido por Marc Forster, responsável por aquele que é provavelmente o pior filme de toda a franquia OO7, “Quantum of Solace” (2008).

As regras implícitas de um gênero cinematográfico alteram-se pouco a pouco, de acordo com o espírito das novas gerações. Tomemos o filme de zumbis, subgênero do cinema de horror. Desde o primeiro e essencial “A Noite dos Mortos Vivos” (1968), da série famosa de George Romero, os zumbis andam lentamente, pois a carne putrefata mal é capaz de sustentar os ossos. Em “Madrugada dos Mortos” (2004), de Zack Sneider, os zumbis passaram a correr, saltar, ter movimentos rápidos e difíceis de se antecipar. Viraram máquinas de matar.

É assim também em “Guerra Mundial Z”. Produzido e estrelado por Brad Pitt, o filme mostra os efeitos de um vírus letal cuja origem é nebulosa. Esse vírus transforma as pessoas em espécies de zumbis com hidrofobia, que passam por um estado de letargia até que são despertados e passam a agir com violência sanguinária.

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Eles são rápidos, amontoam-se inteligentemente para escalar grandes muralhas (a sequência em Jerusalém é a mais impressionante), são capazes de surpreender a mais atenta das vítimas e, obedecendo a uma regra clássica, só morrem com um tiro bem dado no cérebro. Em alguns momentos eles parecem até voar. Como pará-los? É o que tenta descobrir um agente da ONU que viaja o mundo em busca de pistas.

O roteiro é eficiente. Ficamos grudados na tela, o que já é muito tendo em vista a qualidade dos produtos hollywoodianos de hoje. Brad Pitt, claro, é o herói ideal. Graças a sua atuação o personagem alia músculos à perspicácia e à inteligência, qualidades necessárias para sobreviver aos piores ataques.

O que mais podemos querer? Um diretor minimamente capaz, claro, algo que Marc Forster certamente não é. Seu estilo é o de um esquartejador embriagado. Ele se apoia na duvidosa proposta da confusão de sentidos do espectador, pois assim pode mascarar sua incapacidade de estabelecer um espaço dentro do qual uma simples ação de desenrola. Dá-lhe movimentos estabanados de câmera sendo picotados por uma edição que prima pela gratuidade. E assim caminha o cinema de ação hollywoodiano, sabotando frequentemente suas melhores ideias.

* Sérgio Alpendre é crítico e professor de cinema

 



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