A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, sofreu nesta quarta-feira, 4, a maior baixa na sua gestão na Procuradoria-Geral da República (PGR) com a entrega coletiva de cargos entre os procuradores que investigam os casos da Operação Lava Jato. Até o braço-direito de Dodge na área criminal, Raquel Branquinho, deixou o posto.
A equipe da PGR responsável por cuidar dos casos da Operação Lava Jato decidiu nesta quarta-feira pedir o desligamento do cargo, sob a alegação de “incompatibilidade” com entendimento de Raquel Dodge. O mandato de Dodge, alvo de crescente insatisfação interna dentro do Ministério Público Federal, se encerra no dia 17 deste mês.
O desligamento foi pedido por Raquel Branquinho e pelos procuradores Maria Clara Noleto, Luana Vargas, Hebert Mesquita, Victor Riccely e Alessandro Oliveira. Segundo a reportagem apurou, o desentendimento da equipe com Raquel Dodge está relacionado com a delação premiada do executivo Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.
Ao encaminhar o acordo de colaboração premiada para homologação do Supremo Tribunal Federal (STF), Raquel pediu o arquivamento de parte da delação que trazia implicações ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e um dos irmãos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, informaram à reportagem sob a condição de anonimato fontes que acompanham a investigação.
Toffoli e Maia articularam nos bastidores uma possível recondução de Raquel Dodge ao cargo, mas o presidente Jair Bolsonaro já sinalizou que optará por um homem para chefiar o órgão. Raquel Dodge é criticada pelo círculo interno do presidente por não ter, na avaliação deles, priorizado o combate à corrupção na sua gestão, nem destravado acordos de colaboração premiada, além de ter denunciado o próprio presidente e o seu filho, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) – respectivamente por racismo e suposta ameaça a uma jornalista.
“Devido a uma grave incompatibilidade de entendimento dos membros desta equipe com a manifestação enviada pela PGR ao STF na data de ontem (03.09.2019), decidimos solicitar o nosso desligamento do GT Lava Jato e, no caso de Raquel Branquinho, da SFPO. Enviamos o pedido de desligamento da data de hoje”, disseram em nota seis integrantes do Ministério Público Federal que atuavam nos processos criminais.
O grupo de integrantes do MPF disse em mensagem disparada aos colegas que “foi um grande prazer e orgulho servir à Instituição ao longo desse período, desempenhando as atividades que desempenhamos”. E afirma que o “compromisso será sempre com o Ministério Público e com a sociedade”, em crítica à procuradora-geral.
Não foram as primeiras baixas da equipe de Raquel Dodge na área criminal. Em julho, o ex-coordenador da Lava Jato, José Alfredo, havia abandonado o posto em julho, também em desacordo com a atuação da procuradora-geral. Em março, os procuradores Pablo Coutinho Barreto e Vitor Souza Cunha, que eram chefes da Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise (SPPEA), haviam também pedido desligamento da função.
Instabilidade
A gestão de Raquel Dodge à frente da PGR foi alvo de uma série de crises internas que marcaram o fim do seu mandato. A criação de um fundo bilionário da Lava Jato colocou a procuradora em rota de colisão com a força-tarefa do Paraná que cuida das investigações. Raquel acionou o Supremo para que fosse anulado o acordo firmado pelos procuradores de Curitiba com a Petrobras, que resultaria na criação de uma fundação gerida por eles mesmos.
Raquel Dodge também viu, na reta final do seu mandato, o STF instaurar por iniciativa própria um inquérito instaurado para apurar ameaças e ofensas disparadas contra os ministros do tribunal. A procuradora pediu o arquivamento do caso, mas foi ignorada – as investigações do inquérito, que segue em andamento estão sendo feitas sem a participação do Ministério Público Federal, como geralmente ocorre.
Com a palavra, Raquel Dodge
Ao confirmar que recebeu pedido de desligamento de integrantes de sua equipe na área criminal, a procuradora-geral da República Raquel Dodge, reafirma que, em todos os seus atos, age invariavelmente com base em evidências, observa o sigilo legal e dá rigoroso cumprimento à Constituição e à lei. Todas as suas manifestações são submetidas à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
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